O futebol e a realidade paralela
Nova queda nacional no
Mundial de Clubes mostra como acreditamos no inexistente
juca
Kfouri/
Folha de S. Paulo
Para quem acha que só na política andamos vivendo numa realidade
paralela, está aí, como é habitual, o futebol para mostrar mais uma vez que não
é bem assim.
Temos os malucos terraplanistas e os negacionistas das vacinas e
do aquecimento global.
Os que vão para frente dos quartéis e festejam a morte do
presidente da República recém-eleito, saúdam a bandeira a meio pau por luto pela
morte de Edson Arantes do Nascimento como sinal de intervenção militar, batem
continência para pneu etc e tal.
Menos grave, mas não menos verdadeiro, o futebol brasileiro
também se recusa a olhar para a bola e constatar que ela é redonda. E para
todos. Africanos, árabes, asiáticos, norte-americanos, todos, não apenas para
os europeus e sul-americanos.
O quarto clube brasileiro
eliminado em semifinais do Mundial de Clubes dá a medida disso.
A barreira das quartas de final em Copas do Mundos entre
seleções para a Amarelinha também.
A Croácia seria moleza e foi —mas para a Argentina.
O Al Hilal não seria páreo e o Flamengo dançou. Responsabilizar a
arbitragem beira o ridículo, como dizer que Lula foi condenado
em três instâncias e ignorar que, nas três, ao ter como base as falsidades de
juiz suspeito.
Mais da metade do eleitorado brasileiro que votou em outubro
caiu em si e mandou para Flórida o sociopata genocida, embora assustadora
quantidade ainda tenha insistido no fã de torturador.
São poucos os que vivem o mundo do futebol com consciência de
que as desculpas morreram de velhas e da necessidade de mudar o superado modelo
de gestão do século passado.
É a Liga que
não liga porque os cartolões só ligam para os próprios umbigos e são incapazes
de sentar à mesa sem xingar a mãe do próximo.
A SAF que ainda
engatinha porque significa a mudança de poder em busca da eficiência.
A inércia é o
ingrediente para a sobrevivência de um bando de falidos no país pentacampeão,
que vive de sua história gloriosa a se repetir como farsa.
Epa! O Flamengo não
está falido, exclamarão a rara leitora e o raro leitor. É verdade.
Falido não está, mas
vive de costas para a realidade produzida pela pouca concorrência interna que o
desabilita diante da externa.
O Al Hilal, o
"Clube dos Príncipes" sauditas, lhe deu a lição que o Tigres
mexicano, de propriedade da Cemex, uma das maiores construtoras do mundo, dera
ao também saneado Palmeiras, dois anos atrás.
Porque só duas
andorinhas não fazem verão…
A perda de
competitividade do futebol brasileiro vem de muito tempo, com espasmos como o
de 2002, com o pentacampeonato da seleção, e o de 2012, com o título mundial do
Corinthians, ambos os derradeiros de nosso futebol. Lá se vão mais de 20 e de
dez anos —cinco Copas do Mundo, dez Mundiais de Clubes.
Assim mesmo ainda
encontramos entre cartolas e "especialistas" os que dizem ser a
sucessão de derrotas meros acidentes de percurso —e desdenham dos africanos
campeões olímpicos, dos asiáticos em franco progresso.
Melhor será
ficarmos atentos ao desenvolvimento do futebol na Oceania.
Sempre resta a
opção de nós fecharmos em nosso mundinho medíocre e nos contentarmos com as
conquistas locais ou regionais, em sermos cabeça de formiga e rabo de elefante.
A ser essa a
escolha, que, ao menos, abandonemos a soberba e passemos a viver felizes como
as hienas.
Às vezes o que reluz é ouro https://bit.ly/3Ye45TD
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