Mata
Atlântica terá plano próprio de combate ao desmatamento pela primeira vez
Após revisão do PPCDAm, governo
prepara ações específicas para todos os biomas brasileiros, o que antes só
existia para Amazônia e Cerrado
Por Lucas Altino/O Globo
Depois do
anúncio sobre as ações de combate ao desmatamento na Amazônia, o Ministério do
Meio Ambiente prepara planos específicos para atuação no Cerrado, na Mata
Atlântica, Pantanal, Caatinga e Pampa. Pela primeira vez, o Brasil terá um
Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento (PPDCD) para cada um
dos seus biomas. O objetivo é que até agosto todos os planejamentos sejam
publicados.
— Antes só existia planos
de ação para a Amazônia e Cerrado. Para a Mata Atlântica será algo inédito —
explicou Jair Schmitt, diretor de proteção ambiental do Ibama.
O Plano
de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia Legal (PPDCDAm)
foi um programa de êxito no primeiro mandato de Lula e que conseguiu derrubar
as então taxas de desmatamento na Amazônia. O plano seguiu em curso até o
governo de Michel Temer, mas foi extinto durante o governo de Jair Bolsonaro,
assim como o PPCerrado.
Novos resultados: Desmatamento cai 31% na Amazônia e avança 35% no cerrado de janeiro
a maio em comparação a 2022
Agora,
além de retomar os planos que já existiam, o governo vai lançar ações para os
outros biomas. Nesta segunda (5), ao lado da ministra Marina Silva, o
presidente Lula explicou parte das operações que serão realizadas na Amazônia.
Como O GLOBO publicou, o novo PPCDAm prevê a contratação de 1600 fiscais, a contração de
aeronaves e até o uso de Inteligência Artificial para monitoramento
do desmatamento.
O próximo plano a ser
anunciado deve ser o PPCerrado. Ainda não há detalhes sobre o conteúdo, mas
sabe-se que os desafios serão grandes. Nesta quarta (7), foram anunciados novos dados de
desmatamento captados pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe).
No
Cerrado, a área desmatada de janeiro a maio deste ano foi de 3.523 km², 35%
maior que o captado no mesmo período em 2022 )2.612 km²). Os estados com maior
desmatamento são Bahia, Maranhão, Piauí, Tocantins, Mato Grosso e Pará.
-- No
Cerrado há muita área de desmatamento autorizada pelos estados. Por isso, quase
metade acaba sendo desmatamento legal, então precisamos de um olhar
diferenciado e definir as políticas -- disse Schmitt.
Mata
Atlântica sob ataque legislativo
Nesta segunda (5), Lula também anunciou o veto de trechos da MP da
Mata Atlântica, aprovada pelo Congresso, que flexibilizariam as permissões para
desmatamentos no bioma, como nas hipóteses de instalação de "linhas de
transmissão, sistemas de transporte de gás natural e sistemas de abastecimento
público de água, localizados na faixa de domínio e servidão de ferrovias,
estradas, linhas de transmissão, minerodutos e outros empreendimentos”. O texto
ainda retirava diversas obrigações de medidas compensatórias.
Segundo o
Atlas da Mata Atlântica, restam cerca de 12% da cobertura florestal original do
bioma. No entanto, um novo sistema, desenvolvido pelo Mapbiomas e a SOS Mata
Atlântica, aponta o dobro de porção remanescente: 24%. O novo número se explica
porque a ferramenta permite a identificações de florestas menores que 2
hectares, ou seja, não só adultas, mas também as jovens e as em regeneração.
O último
resultado do Inpe mostrou desmatamento de 20.075 hectares na Mata Atlântica,
entre outubro de 2021 e outubro de 2022, equivalente a aproximadamente 20 mil
campos de futebol. O número é 7% menor que o desmatamento ocorrido no ciclo
anterior (21.642 hectares), mas 76% maior que o desmatamento entre 2017 e 2018
(11.399 hectares). Ou seja, o patamar continua alto.
Quase todos ministérios envolvidos
Em fevereiro, o governo lançou sua Comissão Interministerial
Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Brasil
(PPCD), que será a responsável pela elaboração dos planos para os biomas. O
trabalho envolve 19 ministérios, em um trabalho intersetorial. Enquanto órgãos
ambientais e de segurança precisam planejar ações mais diretas de repressão,
outras pastas como os da Agricultura e Pecuária e a do Desenvolvimento Agrário
e Agricultura Familiar vão pensar alternativas de fomento à produção
sustentável.
O PPCD vai integrar ações de 19 ministérios e será presidido pelo ministro Ruy Costa, da Casa Civil. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima será responsável pela secretaria executiva da Comissão Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento. Também participam Agricultura e Pecuária; Ciência, Tecnologia e Inovação; Justiça e Segurança Pública; Integração e do Desenvolvimento Regional; Relações Exteriores; Defesa, Fazenda, Planejamento e Orçamento; Minas e Energia; Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Pesca e Aquicultura; Trabalho e Emprego; Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; Transportes; Povos Indígenas; Gestão e da Inovação em Serviços Públicos e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Metas do
PPCDAm
A nova versão do Plano de Ação para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), aposta do governo Lula para reduzir as
taxas de desmatamento no bioma, foi lançada na última segunda-feira, 5. Com
centenas de ações e 17 ministérios envolvidos, o plano traz metas para reforçar
e ampliar a estrutura de fiscalização na região. Veja algumas das metas do
plano:
·
Fiscalizar 30% da área desmatada ilegalmente identificada pelo
Prodes consolidado do último ano
·
Embargar 50% da área desmatada ilegalmente identificada pelo
Prodes consolidado do último ano em Unidades de Conservação federais
·
Aumentar 10% o nº de Autos de Infração Ambiental julgados em
primeira instância/ano em relação a 2022
·
Instaurar 3500 processos administrativos por ano para apuração
de infrações administrativas contra a flora na Amazônia
·
Ingressar com 50 ações civis públicas (ACPs) por ano, para
cobrar a reparação de danos contra a flora amazônica
·
Estruturar 10 bases estratégicas para atuação multiagências no
combate aos crimes e infrações ambientais na Amazônia
·
Criar 4 novas delegacias descentralizadas da Polícia Federal
(Tefé – AM, Humaitá – AM, Juína – MT e Itaituba – PA) (até 2024)
·
Contratar 1600 analistas ambientais por meio de concurso
público, para atuação no combate ao desmatamento até 2027
·
Criar uma base aerotática na Amazônia (2024)
·
Adquirir/locar 6 aeronaves para apoiar operações da Polícia
Federal (2024)
·
Contratar 4 aeronaves de asa rotativa para auxiliar nas
operações de combate ao desmatamento e incêndios
·
Aprimorar o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia
Legal por Satélite (Prodes) por meio da inclusão de inteligência artificial
(2027)
·
Suspender/cancelar 100% dos registros irregulares de CAR
sobrepostos a terras públicas federais e notificar detentores de registro no
CAR com desmatamento ilegal via SICAR de acordo com prioridade por área e
tamanho de desmatamento
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