A bola precisa ser tratada com
mais carinho
A fantasia transita pelo espaço imaginário entre a diversão e
a seriedade.
Tostão/Folha de S. Paulo
A seleção brasileira sub-20, favorita, foi eliminada
por Israel nas quartas de finais do Mundial, uma
repetição das derrotas sofridas pela seleção principal do Brasil em Copas do
Mundo. A seleção esteve duas vezes em vantagem e perdeu por 3 x 2 para o bom
time de Israel.
O jogo me lembrou, não pelo placar, mas pela maneira de atuar
das duas seleções, a eliminação do time principal para a Croácia na Copa do ano
passado. Enquanto Israel e Croácia se destacavam pela aproximação dos jogadores
no meio campo e muita troca de passes, as seleções brasileiras sub-20 e a
principal priorizavam a transição rápida da bola da defesa para o ataque e as
esparsas estocadas individuais.
Isso não significa que as seleções brasileiras foram eliminadas somente
pela maneira de jogar. Existem inúmeros detalhes conhecidos e desconhecidos que
podem explicar os resultados. Porem, as derrotas brasileiras contribuem para
reflexões. Enquanto os adversários gostavam de ficar com a bola, uma
característica do futebol brasileiro de outras épocas, as nossas duas seleções
adotavam uma postura mais parecida com a utilizada no passado pelos europeus,
de ter pressa para chegar ao gol.
Na década de 60, Chico Buarque escreveu que os brasileiros eram os donos
da bola e que os europeus eram os donos do campo, por causa da disciplina e
posicionamento no gramado. Não é mais assim. As atuais grandes equipes procuram
ser a dona da bola e do campo.
O Palmeiras, melhor time brasileiro, tem evoluído porque, além de dono
do campo, passou a ser também o dono da bola. Já o Fluminense, que gosta muito
da bola, se quiser crescer terá de aprender a ser o dono do campo.
No fim de semana, depois de ser campeão inglês, o Manchester City, o
melhor time do mundo, dono da bola e do campo, venceu o Manchester United e
ganhou a Copa da Inglaterra, o mais antigo campeonato, o início do futebol no
país e no mundo. No sábado (10), o City, favorito, disputará a final da Copa
dos Campeões, o titulo mais importante da Europa entre clubes, contra a Inter
de Milão.
Se o City for campeão estará, definitivamente, entre os
maiores times da historia do futebol —onde acho que já está, mesmo se perder.
Guardiola, que já tem esse título da época do Barcelona, será celebrado como um
dos maiores técnicos de todos os tempos —o que para mim já é.
Se Ancelotti não aceitar o convite da CBF, o que parece
quase certo, valeria a pena tentar contratar Guardiola, mesmo sendo quase
impossível. Quem sabe ele queira ter um novo desafio, treinar uma seleção,
ainda mais a do Brasil, a mais famosa do mundo. Guardiola, após a goleada do
Barcelona sobre o Santos por 4 x 0, na final do Mundial de Clubes de 2011,
disse que o time catalão jogava da maneira que seu pai e seu avô diziam que
atuavam as seleções brasileiras de 58, 70 e 82.
Independentemente das inúmeras estratégias utilizadas pelos treinadores
do Brasil e do mundo, a bola precisa ser tratada com mais carinho, ter prazer
de ficar com ela, unir a fantasia, a inventividade e a disciplina tática. A
fantasia transita pelo espaço imaginário entre a diversão e a seriedade.
As crianças antes de gostarem de futebol gostam da bola. A forma
esférica fascina as pessoas e está presente em todos os lugares, na criação
humana e na natureza. A bola é redonda como o mundo. A bola deve ter sido
inventada antes da roda. Segundo a teoria do Big Bang, a vida começou com uma
explosão, uma bola de fogo. A bola é vida.
Onde cabe quase tudo - sem
preconceito nem sectarismo https://tinyurl.com/3y677r7f
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