09 junho 2023

Futebol: Estratégia, tática e habilidade

A bola precisa ser tratada com mais carinho

A fantasia transita pelo espaço imaginário entre a diversão e a seriedade.
Tostão/Folha de S. Paulo

 

A seleção brasileira sub-20, favorita, foi eliminada por Israel nas quartas de finais do Mundial, uma repetição das derrotas sofridas pela seleção principal do Brasil em Copas do Mundo. A seleção esteve duas vezes em vantagem e perdeu por 3 x 2 para o bom time de Israel.

O jogo me lembrou, não pelo placar, mas pela maneira de atuar das duas seleções, a eliminação do time principal para a Croácia na Copa do ano passado. Enquanto Israel e Croácia se destacavam pela aproximação dos jogadores no meio campo e muita troca de passes, as seleções brasileiras sub-20 e a principal priorizavam a transição rápida da bola da defesa para o ataque e as esparsas estocadas individuais.

Isso não significa que as seleções brasileiras foram eliminadas somente pela maneira de jogar. Existem inúmeros detalhes conhecidos e desconhecidos que podem explicar os resultados. Porem, as derrotas brasileiras contribuem para reflexões. Enquanto os adversários gostavam de ficar com a bola, uma característica do futebol brasileiro de outras épocas, as nossas duas seleções adotavam uma postura mais parecida com a utilizada no passado pelos europeus, de ter pressa para chegar ao gol.

Na década de 60, Chico Buarque escreveu que os brasileiros eram os donos da bola e que os europeus eram os donos do campo, por causa da disciplina e posicionamento no gramado. Não é mais assim. As atuais grandes equipes procuram ser a dona da bola e do campo.

O Palmeiras, melhor time brasileiro, tem evoluído porque, além de dono do campo, passou a ser também o dono da bola. Já o Fluminense, que gosta muito da bola, se quiser crescer terá de aprender a ser o dono do campo.

No fim de semana, depois de ser campeão inglês, o Manchester City, o melhor time do mundo, dono da bola e do campo, venceu o Manchester United e ganhou a Copa da Inglaterra, o mais antigo campeonato, o início do futebol no país e no mundo. No sábado (10), o City, favorito, disputará a final da Copa dos Campeões, o titulo mais importante da Europa entre clubes, contra a Inter de Milão.

Se o City for campeão estará, definitivamente, entre os maiores times da historia do futebol —onde acho que já está, mesmo se perder. Guardiola, que já tem esse título da época do Barcelona, será celebrado como um dos maiores técnicos de todos os tempos —o que para mim já é.

Se Ancelotti não aceitar o convite da CBF, o que parece quase certo, valeria a pena tentar contratar Guardiola, mesmo sendo quase impossível. Quem sabe ele queira ter um novo desafio, treinar uma seleção, ainda mais a do Brasil, a mais famosa do mundo. Guardiola, após a goleada do Barcelona sobre o Santos por 4 x 0, na final do Mundial de Clubes de 2011, disse que o time catalão jogava da maneira que seu pai e seu avô diziam que atuavam as seleções brasileiras de 58, 70 e 82.

Independentemente das inúmeras estratégias utilizadas pelos treinadores do Brasil e do mundo, a bola precisa ser tratada com mais carinho, ter prazer de ficar com ela, unir a fantasia, a inventividade e a disciplina tática. A fantasia transita pelo espaço imaginário entre a diversão e a seriedade.

As crianças antes de gostarem de futebol gostam da bola. A forma esférica fascina as pessoas e está presente em todos os lugares, na criação humana e na natureza. A bola é redonda como o mundo. A bola deve ter sido inventada antes da roda. Segundo a teoria do Big Bang, a vida começou com uma explosão, uma bola de fogo. A bola é vida.

Onde cabe quase tudo - sem preconceito nem sectarismo https://tinyurl.com/3y677r7f

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