Uma crônica para descontrair

Estômago de aço, mente enciclopédica
Luciano Siqueira 

Esse amigo de vocês, que sobrevive há sete décadas, coleciona algumas sequelas das muitas experiências de vida.

Uma delas é o tal refluxo gastroesofágico, que me priva da cerveja ou do vinho e de qualquer outra bebida fermentada, à noite, assim como me obriga a uma escolha criteriosa num simples lanche ao final do expediente.

Daí a minha inveja do querido amigo Américo, cujo estômago aceita tudo. 

Tudo mesmo.

Acabo de presenciar uma cena extraordinária. Precisamente às 22 horas, não sei se por exibição ou por prazer mesmo, o amigo esnoba à mesa que divide comigo e Luci:

— Garçom, traga-me uma água mineral com gás, uma latinha de coca-cola, um cachorro quente com tudo a que tiver direito e a sobremesa escolherei daqui a pouco.

No arremate, já ao fim da noite, o estômago de aço ainda toma um aventado café combinado com dois cigarros.

Quando fui médico aprendi que o amigo adota a tempestade perfeita, submete o organismo a testes exagerados.

Ele dirá que vive muito bem, obrigado, com essa combinação agressiva da nicotina com a cafeína, gorduras e ácidos. 

Pode ser.

Afinal, todos os fenômenos da natureza têm lá suas exceções, fora da curva como se diz.

E essa extravagância toda de quebra parece que faz bem ao seu intelecto. O cara é culto, lúcido e preciso na abordagem de qualquer tema que venha à mesa — da cena internacional aos nossos problemas urbanos cotidianos.

Se o tema é a educação de criança no Japão ou a criação de equinos no semiárido nordestino, o enciclopédico Américo pede a palavra e opina. Consistentemente.

Se uma orquestra por alguma emergência perdeu seu crooner, ele resolve na hora, cantor experiente, de bela voz e extenso repertório que é.

Como se diz pelas esquinas de Olinda, o doutor Américo entende de sarapatel a míssil supersônico!

O cara come o que quer, de qualquer jeito e quando quer. E sabe das coisas. Muito.

Complexa construção da base parlamentar de Lula https://tinyurl.com/4wwz5v9b