Juventude do PCdoB está “em contato com milhões de estudantes”
André Cintra www.pcdob.org.br
O PCdoB exerce, há cerca de 45 anos, uma longeva e histórica hegemonia no movimento estudantil brasileiro. Desde a virada da década de 1970 para a de 1980 – quando houve a reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes) e da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) –, correntes ligadas ao Partido projetam lideranças e dirigentes dessas e de outras entidades.
Foi assim com a Caminhando, formada em meio à abertura “lenta, gradual e segura” da ditadura militar (1964-1985), quando o PCdoB ainda era clandestino. Chapas lideradas pela Caminhando venceram as primeiras eleições para a diretoria da UNE a partir do Congresso de Reconstrução, em 1979. Já a UJS (União da Juventude Socialista), fundada em 1984, encabeçou nada menos que 40 direções da UNE e da Ubes desde então.
Como explicar uma marca duradoura e complexa, ainda mais para um movimento com renovação tão acelerada?
Secretário nacional de Juventude do PCdoB, Gustavo Petta afirma que o grande trunfo dessa hegemonia do PCdoB é o trabalho de base. Ele próprio representa a força da organização dos comunistas entre os jovens. Único líder estudantil a exercer a presidência da UNE por dois mandatos (2003-2005 e 2005-2007), Gustavo é vereador em Campinas desde 2013. Outros ex-presidentes da entidade também se tornaram parlamentares pelo PCdoB, como os atuais deputados federais Orlando Silva (SP) e Renildo Calheiros (PE).
“Até 2019, os militantes jovens do PCdoB se organizavam e se concentravam na União da Juventude Socialista. Com a incorporação do PPL ao Partido naquele ano, a nossa juventude se fortaleceu ainda mais com a adesão de militantes que estão organizados na Juventude Pátria Livre (JPL)”, explica Petta.
Tanto a UJS quanto a JPL são orientadas pelo PCdoB, mas têm autonomia. Segundo Petta, “elas atuam com muita prioridade no movimento estudantil – o universitário, o secundarista –, mas também em outros movimentos culturais e políticos, em causas diversas”. Nos últimos anos, as pautas de segmentos como as mulheres, os negros e os LGBT ganharam força entre os jovens, influenciando as organizações.
O período é de combate, já que o golpe de 2016 interrompeu um ciclo virtuoso de políticas públicas voltadas à juventude, sobretudo na Educação. Entre 2003 e 2016, sob os governos Lula e Dilma Rousseff, houve a democratização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), as cotas, a criação do ProUni (Programa Universidade Para Todos) e do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), além da expansão das escolas técnicas e das universidades federais.
Após o golpe, os jovens continuaram na luta. Das memoráveis ocupações de escolas, universidades e instituições públicas sob o governo Temer, os estudantes passaram aos chamados “tsunamis da Educação”, que se espalharam por todo o País, denunciando os cortes de verbas e outros retrocessos. “A juventude foi a primeira a tomar as ruas contra o governo Bolsonaro – e foi também a que mais mobilizou para as manifestações”, lembra Petta.
Segundo o dirigente, essa mobilização é fruto do “contato estabelecido por jovens do PCdoB com milhões de estudantes brasileiros, através de grêmios estudantis, centros acadêmicos e DCEs (Diretórios Centrais dos Estudantes)”. Uma liderança juvenil do PCdoB é, por princípio, um organizador da luta, do trabalho de base.
As atenções se voltam, agora, para o 59º Congresso da UNE (Conune), de 12 a 15 de julho, em Brasília (DF). A Secretaria de Juventude do PCdoB faz um balanço “muito positivo” da gestão que tem liderado a entidade no biênio 2021-2023, sob a presidência de Bruna Brelaz.
“A UNE teve um protagonismo muito grande na resistência ao Bolsonaro. Para além disso, teve um papel político relevante ao defender a frente ampla para derrotar o Bolsonaro e o bolsonarismo nas urnas”, avalia Petta. “Ao articular a frente ampla, a Bruna, em especial, foi muito atacada. Mas essa tática, proposta inicialmente pelo PCdoB, revelou-se correta e fundamental – tanto que o Lula incorporou essa visão e liderou a frente do ponto de vista eleitoral.”
Com a volta do campo democrático ao Planalto, a perspectiva é de novos avanços. “Já houve recentemente a retomada do orçamento das universidades federais e um aumento de bolsas de estudo – tanto na iniciação científica quanto no mestrado e no doutorado. São conquistas que têm as digitais da UNE”, afirma.
Para o 59º Conune, a UJS lança o movimento Bloco na Rua, que já apresentou sua candidata à presidência da UNE. Trata-se da jovem pernambucana Manuella Mirella, estudante de Engenharia Ambiental e filiada ao PCdoB. O que esperar dos próximos anos, caso Manuella e sua chapa vençam a eleição?
“Teremos muito trabalho para reverter tudo que o Bolsonaro destruiu. Mas uma luta que está prestes a ter conquistas efetivas é o plano de assistência estudantil, que possa garantir a permanência dos estudantes nas universidades”, afirma Petta. No conjunto do movimento estudantil, a expectativa do dirigente “é que a UJS e a JPL liderem uma frente com outras forças políticas, consigam confrontar as ideias da extrema-direita e sustentem um projeto de mudança para o Brasil”. Durante o Conune, haverá, ainda, uma passeata até o Banco Central para denunciar a política monetária em curso no País.
Os jovens do PCdoB também são chamados à batalha contra os juros altos, qualificados como “pornográficos” por Petta. “A redução dos juros é fundamental para que o Estado brasileiro recupere sua capacidade de investimento público – e é um mecanismo para um projeto de desenvolvimento nacional. Só com uma nova política econômica vamos voltar a crescer e a gerar empregos”
Esse novo projeto para o País demanda, igualmente, um novo ensino superior. Por isso, a UNE está elaborando uma proposta de reforma universitária que, de acordo com Petta, “possa sintonizar as universidades brasileiras com o rumo do desenvolvimento e a superação das desigualdades sociais”. Além do Congresso da UNE, a agenda da juventude do PCdoB registra, neste ano, plenárias da UJS e da JPL, a luta contra o Novo Ensino Médio, a 1ª Conferência Nacional do PCdoB de Combate ao Racismo, entre outras atividades. “Será uma agenda intensa também no segundo semestre”, conclui Petta.
Bolsonaro em baixa, redefinições na extrema direita https://tinyurl.com/5n6awhxu
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