A exploração e a produção
Embora o investimento no setor de exploração e produção tenha aumentado no plano atual, a redução da sua participação em relação ao total demonstra uma tendência da companhia de diversificar o seu portfólio investindo em outros segmentos
Francismar Ferreira e Maria Clara Arouca/Le Monde Diplomatique
O Plano Estratégico da Petrobras 2024-2028+, em seu portfólio de exploração e produção (E&P), destaca-se pelo volume de investimentos previstos. Isso indica um reposicionamento da companhia no contexto atual nos segmentos energético, econômico e industrial do país. Contudo, alguns aspectos merecem consideração, especialmente, no que se refere à ausência de investimentos no ambiente onshore e ao fechamento dos estudos exploratórios das bacias da Margem Leste.
O novo plano apresenta um comportamento distinto do observado nos últimos anos e retoma uma característica do Plano Estratégico 2014-2018. O investimento previsto para o E&P no atual Plano Estratégico é de US$ 73 bilhões, valor 14,1% superior em relação ao plano anterior. Contudo, a participação desse segmento em relação ao CAPEX total previsto caiu de 82,1% no Plano Estratégico 2023-2027 para 71,6% no Plano Estratégico 2024-2028+. A última vez que a participação do E&P no CAPEX de investimento dos PEs foi inferior a 80% foi em 2014, quando representou 69,9%. Desde então, a participação desse setor passou a ser superior a 80%. Ou seja, embora o investimento no setor de E&P tenha aumentado no plano atual, a redução da s ua participação em relação ao total demonstra uma tendência da companhia de diversificar o seu portfólio investindo em outros segmentos, o que é essencial para uma empresa integrada de energia. Esses números estão no gráfico abaixo.
Ao contrário do plano anterior, o PE 2024-2028+ retoma a tendência de crescimento gradual da produção para o próximo quinquênio. Enquanto a estimativa do PE 2023-2027 era alcançar 3,1 milhões de barris de óleo equivalente por dia (mmboe/d) em 2026 e 2027, o atual plano prevê atingir a marca de 3,2 mmboe/d em 2028. Um ponto que justifica essas revisões da produção consiste na política de desinvestimento, uma vez que, diferentemente do plano anterior, não são previstos impactos de desinvestimentos na produção pelo PE 2024-2028+, o que indica uma reorientação da Petrobras quanto à política de privatização que atingiu a estatal a partir de 2016.
Assim como no PE 2023-2027, o atual plano mantém o foco principal de investimentos em E&P nas bacias do Sudeste (Santos, Campos e Espírito Santo), especialmente na região do pré-sal. Fato que se justifica pela região possuir a maior parte da produção nacional – cerca de 76% em 2023 – e das reservas, além de garantir grande rentabilidade. A estimativa é que em 2028 o pré-sal seja responsável por 79% da produção da Petrobras. Esses números indicam a importância do pré-sal e explicam, em parte, o direcionamento de 67% do valor previsto em investimentos em E&P para a região. Entretanto, essa concentração de investimentos reafirma a dependência energética e econômica da região ao mesmo tempo que limita os avanços para novas fronteiras petrolíferas.
A fim de possibilitar que a companhia atinja a produção planejada, o PE 2024-2028+ prevê a instalação de catorze novas plataformas até 2028, sendo oito no pré-sal da Bacia de Santos, quatro no pós e pré-sal da Bacia de Campos e duas na Bacia de Sergipe. Em contrapartida, é planejado o descomissionamento de 23 plataformas no quinquênio, sendo quinze na Bacia de Campos, sete nas bacias do Nordeste e uma na Bacia de Santos.
Para o segmento exploratório, o PE 24-28+ prevê o investimento de US$ 7,5 bilhões. Esse valor corresponde a 10,3% do total previsto para E&P e é 25% maior do que o previsto no plano anterior. Esses números indicam um modesto movimento de retomada das atividades exploratórias no país que se restringe basicamente à Margem Equatorial Brasileira (MEB) e às bacias do Sudeste.
Apesar das incertezas e dos riscos socioambientais que envolvem as atividades exploratórias na MEB, especialmente na Bacia da Foz do Amazonas, a Petrobras mantém a intenção de desenvolver atividades exploratórias na região. Estima-se um investimento de US$ 3,1 bilhões, abrangendo a previsão de perfuração de dezesseis poços nessa área. Vale ressaltar que, ainda em 2023, a companhia obteve licença para iniciar as atividades de perfuração na MEB no interior da Bacia Potiguar. Além disso, é estimado o investimento de outros US$ 3,1 bilhões nas bacias do Sudeste, com previsão de perfuração de 25 poços, e de US$ 1,3 bilhão em outros países onde se planeja a perfuração de nove poços.
Ainda que não mencionada pelo PE 2024-2028+, há de se destacar o movimento da Petrobras em direção à Bacia de Pelotas no contexto do leilão do 4º ciclo de Oferta Permanente sob o regime de concessão da ANP, realizado em dezembro de 2023. Ao todo, a Petrobras adquiriu 29 blocos exploratórios, e atuará como operadora e em consórcios com a Shell em 26 blocos e com a Shell e a CNOOC em outros três blocos. Trata-se de uma bacia em que as atividades exploratórias, do ponto de vista do licenciamento ambiental, são menos complexas que a MEB e que a Petrobras insere em seu portfólio exploratório.
Embora haja avanços importantes para as atividades exploratórias, o PE 2024-2028+ não menciona investimentos em bacias terrestres e na região da Margem Leste que inclui as áreas costeiras do Espírito Santo até Alagoas, abrangendo as bacias de Mucuri, Cumuruxatiba, Jequitinhonha, Jacuípe, Camamu-Almada e Sergipe-Alagoas. Esse fato demonstra que os valores previstos para atividades exploratórias ainda são relativamente pequenos, o que implica na redução dos estudos exploratórios em áreas alternativas no Brasil e reafirma a tendência da Petrobras de diminuir suas atividades em terras, mantendo sua dependência das bacias do Sudeste, como já verificado em planos estratégicos anteriores.
Em síntese, o aumento do investimento previsto em E&P pela Petrobras, apesar da redução da sua participação em relação ao total – indicando o seu resgate como empresa integrada de energia –, representa avanços importantes no setor, uma vez que retoma a tendência de crescimento da produção do quinquênio, sobretudo no pré-sal. Contudo, o novo PE reafirma o enxugamento da Petrobras do ambiente onshore bem como a concentração de investimentos nas bacias do Sudeste, o que mantém e prolonga a dependência energética da região pelo país.
Francismar Ferreira é doutor em Geografia e pesquisador da área de Exploração e Produção do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
Maria Clara Arouca é mestre em População, Território e Estatísticas Públicas pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE) e pesquisadora do Ineep.
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