15 setembro 2024

Crise ambiental: implicações

As queimadas e a luta pela justiça social
Elen Fraga*   

As queimadas criminosas, muitas vezes promovidas por latifundiários que detêm o poder no Planalto Central e no setor agroexportador, são um dos maiores desafios enfrentados pelo governo brasileiro. O inimigo, nesse caso, está ao lado, no próprio território, o que torna a luta ainda mais complexa. Embora se diga que 70% ou 80% do nosso agronegócio é "limpo" e subsidiado, é evidente que há interesses em acabar com movimentos como o dos trabalhadores sem terra. Essas queimadas fazem parte de uma estratégia orquestrada, como mencionado por Ricardo Salles, quando falou da infame "boiada" que passaria, em uma das declarações mais absurdas de seu tempo no governo. Querem nos vender a imagem de um agro "tech, pop", mas isso acontece às custas da destruição da flora e fauna originais.

Enquanto isso, grande parte da população parece distraída, já pensando no carnaval e em suas prévias, em festas ou raves que nada acrescentam à nossa qualidade de vida, alheia a essas questões críticas. Apenas uma pequena parcela está atenta às políticas progressistas e humanitárias, e mesmo dentro desse grupo, há aqueles que preferem se manter na obscuridade, desfrutando de suas vantagens. No entanto, essa atitude é insustentável. Não há cidadão que possa resistir à poluição severa, e os insetos e mosquitos que fogem das florestas queimadas em busca de abrigo nas capitais se tornam grandes vetores (involuntários) de doenças perigosas para a vida humana. Um exemplo disso é a febre oropouche, que tradicionalmente tem seu nicho no Norte do Brasil, mas já registrou casos no Nordeste.

Em nosso estado, na capital recifense, já tem um caso amplamente divulgado pelas autoridades sanitárias. Além disso, há um silêncio preocupante em torno da Mpox, que ninguém parece estar discutindo, apesar dos riscos.

A pergunta que surge é: quem se beneficia da eliminação da população menos favorecida? O Brasil é, de fato, um país de preconceitos e regalias, mas se essa parcela da população desaparecer, quem ficará para produzir a mão de obra pesada e os produtos de alto valor que sustentam a economia e a regalia de uma minoria? É irônico pensar que esses trabalhadores, que mal conseguem consumir aquilo que produzem, sustentam um sistema que os oprime.

A consciência de classe é crucial para que entendamos que a "sinhazinha" ou o "senhorzinho" dos prédios de luxo não sabem preparar a própria salada fitness que consomem, muito menos entendem o verdadeiro custo da mão de obra simbólica por trás de seus produtos superfaturados. Talvez, quando essa consciência for amplamente disseminada, o Brasil comece a encontrar um caminho para a justiça social.

Hoje, em tempos de mídias baseadas em inteligência artificial (IA), os desafios são ainda maiores. Nós, cidadãos comuns, pedimos socorro por meio de ações legalistas, na esperança de acabar com essa desordem e caos moral que se instalaram no Brasil desde 1500. Não podemos mais ser ingênuos e nos deixar enganar por "espelhinhos" ou "santinhos". A luta pela justiça social e ambiental é mais urgente do que nunca.

Uma dica que não pode ser esquecida em vésperas de eleições é: quais melhorias queremos? Não aquelas individuais, mas as que são definidas pela Constituição de 1988. Basta verificar a primeira página: saúde, educação, moradia e lazer. E hoje, como não falar em quem votaram nas últimas eleições, em que contribuíram seus candidatos, em quem irão votar (voto é secreto, apenas reflita)? O voto, porém, obrigatoriamente deveria ser consciente sobre de onde viemos e aonde queremos chegar ! 

Lembro-me também de um amigo que, apesar de transitar por diferentes realidades, ora simples, ora mais elitizadas, prefere trocar os colarinhos de suas camisas em vez de comprar novas. Com isso, ele alimenta o mercado de pequenos empreendedores e contribui para a sustentabilidade econômica, ambiental e social.

*bióloga, sanitarista 

7 comentários:

Amanda Brasileiro disse...

Parabéns pelas palavras, muito necessárias para abrir os olhos da população! 👏🏼

Amanda Brasileiro disse...

Parabéns pelas palavras, extremamente necessárias para abrir os olhos da população!

Anônimo disse...

Parabéns! Falou tudo.

Anônimo disse...

Parabéns gestora pública maravilhosa!

Anônimo disse...

Texto e mensagens extremamente importantes para abrir os olhos e esclarecer o que vem acontecendo nos dias atuais acerca desse assunto

Anônimo disse...

Boa reflexão. 👏🏼👏🏼👏🏼

Fabianni disse...

Parabéns pelo texto!