Simão Bacamarte para salvar o Brasil das Bets
Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode.
Luis Nassif/Jornal GGN
A decisão do vice-presidente e Ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin, de convocar reunião com a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, e representantes do Ministério da Saúde e da Justiça para tratar da regulamentação de jogos online e bets, é a primeira iniciativa saudável do governo em relação ao tema.
Segundo o Banco Central, os brasileiros gastam cerca de R$ 20 bilhões por mês com apostas on-line.
A posição do Ministro da Fazenda Fernando Haddad é a de que “o governo vai enfrentar a “dependência psicológica dos jogos” no país. Ele anunciou que a Fazenda vai bloquear a partir de 1º de outubro as empresas de apostas online que ainda não se regularizaram”. Como o vício não separa cassino oficializado de não oficializado, o Brasil acaba de lançar o cassino com filtro.
É curiosa essa pressão da Faria Lima sobre os gastos públicos. É um carnaval diuturno, estimulado por um jornalismo de quinta categoria, incumbido de espalhar bicho papão para a classe média. E o governo não se vê em condições de enfrentar a Faria Lima, já que tem que administrar o pior Congresso da história.
Fica-se então nesse gradualismo em que, a cada dia, derruba-se mais um princípio norteador da civilização – já que a divisão esquerda-direita não existe mais, mas resiste bravamente a frente civilizatória. É uma queda gradual e diária do país civilizado. Um dia, a antiga frente progressista vota contra saidinhas de preso, na outra, notícias de que o ex-governador Rui Costa foi campeão absoluto do campeopnato macabro de letalidade das PMs estaduais. Essas e outras concessões, somadas, matam qualquer veleidade programática para 2026. Corremos o risco de uma eleição histórica, de atraso contra atraso, onde o slogan preferido será: votem em mim, que sou menos atrasado.
Agora, com a legalização do cassino, finalmente o governo conseguiu juntar o bloco civilizatório, independentemente da cor política: todas as pessoas dotadas de um mínimo de bom senso se indignaram com essa loucura, de legalização do jogo. Foi o momento em que os evangélicos mostraram muito mais bom senso que os burocratas, mesmo porque as bets também vão afetar o valor dos óbulos.
O que se conseguirá com a legalização?
Certamente facilitará a lavagem de dinheiro. Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode. O famoso deputado da CPI dos Anões do Orçamento, que dizia ter vencido dezenas de vezes na Esportiva, mentia, mas dentro da lei: a Esportiva da Caixa é legalizada.
Apesar do Nelson Motta ter declarado que não existe corrupção no jogo, que se trata da atividade mais fiscalizada pela Receita – sabe-se lá, mas desconfia-se sobre o que o levou a essa conclusão -, lavar dinheiro com bet legalizada é simples. A Receita sabe o que entra e o que sai de dinheiro.
Mas suponha um sujeito que queira lavar R$ 20 milhões. Basta acertar com o dono da Bet, que programará o algoritmo para premiá-lo e entregar a ele o prêmio de R$ 15 milhões. O restante é comissão. É atividade de menor risco do que lavar dinheiro em igreja neopentecostal.
Mas, se for acatada a proposta de que as bets serão responsáveis pelo tratamento aos viciados, será uma festa. Veremos, do mesmo modo, milhões de famílias destruídas, lares desfeitos, é verdade, mas os louquinhos pelo jogo. agora, estarão apinhados em hospitais psiquiátricos, bancados pela benevolência das bets. Até poderão fazer publicidade: “os louquinho desse pavilhão são patrocinados pela BetTudoPorDinheiro.
Provavelmente, a terapia será submetê-los a jogos de dama. E a única aposta permitida será em torno do crescimento diário da arrecadação da Receita com o jogo.
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