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19 novembro 2006
Pretos e mulheres
No Blog do Alon: O estudo especial do IBGE sobre cor ou raça na Pesquisa Mensal de Emprego, divulgado ontem, merece um comentário. O que mais me impressionou foi a diferença entre brancos e pretos/pardos com curso superior (25,5% a 8,2%). Mais até do que a diferença no rendimento médio (R$ 1.292,19 a R$ 660,45). Teorizem o quanto quiserem, as políticas universalistas não dão conta de desigualdades em estágio tão avançado quanto o detectado na pesquisa do IBGE. É possível que investimentos maciços na educação que o pobre recebe antes da Universidade resolvessem o problema (ou pelo menos o atenuassem) no longo prazo. "Mas quando é que esse longo prazo vai chegar, doutor?", perguntariam os interessados, se pudessem. Mais dia, menos dia, o assunto das cotas terá que ser enfrentado de uma maneira razoável. Claro que teria sido melhor se lá atrás a Abolição tivesse vindo acompanhada de uma reforma agrária para os escravos libertos. Infelizmente não foi assim que se passou. A questão é prática. Tratar igualmente os desiguais não reduz a desigualdade, pelo menos não numa velocidade aceitável. E o sistema de cotas não será novidade na legislação social brasileira. As mulheres, por exemplo, têm o direito de se aposentar antes dos homens. Trata-se de uma espécie de "cota" de gênero, não acham? De um ponto de vista intelectualmente "universalista", seria razoável que as regras para a aposentadoria de homens e mulheres fossem iguais. Qual é a minha proposta? Ainda não estou bem certo, mas penso que poderíamos adotar uma cota mista, social e racial, mas temporária. Seria como um remédio, prescrito durante tempo suficiente para ao menos reduzir essa fratura inaceitável, a mais vistosa cicatriz que carregamos da chaga da escravidão.
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