Linha d'água
Em Alagoas me achei, achando o mar,
desde então o conservo em mim, aberto,
porém nunca aprendi a soletrar
a insone cadência dos seus metros.
Talvez porque o mar, nervoso e inquieto,
no pacífico silêncio onde Deus viça,
não escreve nem repete o mesmo verso
no seu caderno de águas movediças.
Achando o mar me fiz cúmplice da beleza,
mas ao me consumir em suas chamas
soube que a alma é uma onda de incerteza
presa na cela da nossa areia humana.
Aprendi com o mar a ser constante
e a aceitar, sem pudor, as coisas frágeis:
a fazer da inconstância dos instantes
lembranças o mais possível perduráveis.
Entregue ao mar, pago ao mar o meu tributo,
e ao escutá-Io na minha humana cela,
sinto que o mar, fremindo longe e oculto,
me conta coisas que a ninguém revela.
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