Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
Examinemos a questão com calma. Devagar com o andor que as
coisas não são bem assim. É verdade que o voto é obrigatório, mas igualmente é verdade
que abstenção nessa faixa sempre houve, em muitas eleições em percentual maior
ainda. E os motivos que levam o cidadão a não comparecer ao local de votação
são variados, incluindo o simples desleixo ou desinteresse.
O que poderia ter acontecido neste pleito, e não aconteceu,
seria um elevado índice de não comparecimento às urnas como protesto. Isto se a
tremenda campanha de mídia contra políticos, partidos e a atividade política em
geral tivesse calado fundo no espírito de parcela expressiva do eleitorado. O bombardeio
é imenso, constante, diário. Faz-se de cada fato negativo na esfera da gestão
pública ou do Parlamento mote para uma parafernália midiática destinada a
afastar o cidadão da vida política. Desestimulá-lo. Desacreditar nas
instituições.
Nessas circunstâncias, os índices de abstenção acima
anotados são, ao contrário do que diz a presidenta do TSE e analistas de
variados matizes, animadores. Significa que a imensa maioria dos brasileiros
aptos a votar digitou seu voto na urna eletrônica.
Significa também que a crença de que a realidade pode mudar
para melhor através da política se consolida na sociedade brasileira. Ou não é
essa a percepção de mais de vinte milhões de nordestinos que ascenderam à
chamada classe média a partir das transformações encetadas nos dois governos do
ex-presidente Lula? O mesmo ocorre com os pernambucanos que assistem o
alavancar de sua economia e a consequente expansão das oportunidades de
trabalho desde que Lula decidiu alocar no Complexo Portuário de Suape a
Refinaria de Petróleo e outros importantes empreendimentos industriais.
A campanha deste ano foi marcada pelo espetáculo do
julgamento do chamado mensalão, tudo levando a crê – assim pensava a oposição
midiática – que o PT colheria resultados negativos no pleito. Deu-se o
contrário. A vitória de Haddad em São Paulo é o maior emblema disso.
Portanto, não há razão para alarde em relação aos índices de
abstenção registrados agora: modestos.
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