Um vazio a ser ocupado
Luciano Siqueira,
no Blog da Folha
Cedo ainda para analisar os resultados do pleito de domingo
último, até porque haverá segundo turno em muitas cidades importantes, a
exemplo do Recife.
Mas um dado emerge com força: os percentuais recordes de abstenções, mais votos brancos
e nulos, em torno 25% e 35% ou mais em grandes centros, como São Paulo e Rio de
Janeiro.
Em São
Paulo, somaram 3.096.186 contra João Dória, que obteve 3.085.181 votos e
os 967.190 obtidos por Fernando Haddad, segundo colocado.
No Rio
de Janeiro, foram 1.866.621 contra os 842.201 dados a Marcelo Crivella e os 553.424
votos alcançados por Marcelo Freixo, que ficou em segundo lugar.
Não é
propriamente um espaço vazio, porém revela o tamanho da insatisfação e da descrença
de milhões de brasileiros em relação aos partidos e ao processo político.
A permanecer
o atual sistema eleitoral e partidário, esse espaço tenderá a aumentar nas
próximas eleições, com consequências nefastas.
Este é
um ácido corrosivo que, em outros momentos pelo mundo afora, contribuiu para o
advento de regimes ditatoriais de matiz fascista.
No Brasil,
o drama é que cabe ao Congresso Nacional - senadores e deputados – eleitos por
esse sistema eivado de vícios e distorções, mudar o sistema. Dificilmente o
fará, até que surja um clamor nesse sentido no seio da sociedade.
Mais: no
contexto da onda conservadora que varre o País, na esteira do impeachment da
presidenta Dilma e das repercussões negativas da Operação Lava Jato (que, assimétrica,
mira essencialmente o PT e preserva o centro-direita), é temporariamente
diminuto o poder de pressão do campo democrático e progressista.
Entretanto,
mesmo nessas adversas condições, passado o pleito municipal, o debate em torno
da reforma política de sentido democrático haverá de ressurgir.
E aí os
campos estarão bem definidos: de um lado, propostas de restrição ao processo
democrático, como a adoção de cláusula de barreira elevada para excluir do
parlamento partidos ora eleitoralmente minoritários; a proibição de coligações
para as eleições proporcionais; o retorno ao financiamento empresarial de campanhas
e assemelhadas. De outro lado, a adoção das listas partidárias preordenadas
para cargos legislativos, o financiamento público de campanhas e assim por
diante.
Uma quebra
de braço que, vencida pelo complexo direitista partidário-midiático, poderá aprofundar
mais ainda, na esfera eleitoral e partidária, o golpe perpetrado conta a Constituição
via impeachment.
Tema obrigatório na agenda da resistência.
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