Há algo a comemorar na prisão de Cunha?
Luciano Siqueira
À primeira vista, sim; criminoso contumaz e atolado em um caldeirão de provas de corrupção, deve pagar pelos seus crimes.
Luciano Siqueira
À primeira vista, sim; criminoso contumaz e atolado em um caldeirão de provas de corrupção, deve pagar pelos seus crimes.
Porém é
bom ir devagar que o santo de barro. Ou seja, tudo leva a acreditar que a
prisão de Cunha obedece a uma estratégia bem urdida e calculada destinada a
prender em breve o ex-presidente Lula.
Lula,
como se sabe, já é réu em três ações penais fundadas não em provas, mas tão somente
na "convicção" dos procuradores. E há uma indisfarçável intenção de
torná-lo inelegível na próxima eleição presidencial.
Coincidentemente,
a decisão de prender Cunha acontece logo em seguida à divulgação de pesquisa
Vox Populi que o aponta, mais uma vez, na dianteira da preferência do
eleitorado.
Eduardo
Cunha, peça chave na trama do golpe que afastou Dilma da presidência da
República, depois de perder o mandato de deputado e continuar circulando por
Brasília (inclusive residindo ilegalmente em apartamento funcional da Câmara),
tornara-se uma figura incômoda e descartável — ainda que inspire medo em Temer
e seu bando e na cúpula dos partidos que patrocinaram o impeachment.
Até
figuras proeminentes do Judiciário, especula-se, teriam razões para temer
revelações supostamente guardadas por Cunha como cartas na manga.
Entretanto,
tão logo anunciada a prisão do ex-presidente da Câmara, desta vez cercada de
cuidados e mimos bem diferentes do espetáculo midiático costumeiro, comentaristas
globais e parlamentares da linha de frente do impeachment se apressaram em
afirmar que agora estaria definitivamente afastada a versão de que a operação
Lava Jato é seletiva e essencialmente direcionada a atacar o PT.
Conversa
para boi dormir!
Gente como
os senadores Aécio Neves e Romero Jucá, respectivamente presidentes do PSDB e
do PMDB, colecionam um monte de citações e provas testemunhais em diversas
delações premiadas e continuam intocados. Permanecem protegidos por uma
blindagem policial-judicial-midiática.
Entrementes,
o golpe segue desmontando conquistas e direitos alcançados em pouco mais de uma
década nos governos Lula e Dilma e sustentando uma narrativa ultra reacionária sobre
a crise, para fazer valer a versão das forças golpistas de que todos os males
de que padecemos agora se devem aos doze anos de governo democrático liderado
pelo PT.
Como se
não existissem a crise global e suas repercussões sobre a economia brasileira,
nem o boicote ao governo Dilma patrocinado pelo “mercado” e pela mídia
hegemonizada e operado pela maioria fisiológica e reacionária da Câmara e do
Senado.
Ao movimento
democrático e às forças de esquerda cumpre não baixar a guarda. E seguir a
resistência ao governo Temer e se prepararem para uma provável prisão de Lula.
Assim
mesmo, oxalá a prisão de Cunha enseje, mediante delação premiada ou não, a
revelação do que se procura esconder até agora: a lama que tinge grande parte
dos que hoje pousam como arautos do combate à corrupção.
Se
assim ocorrer, Temer e o bando que ocupa o Palácio do Planalto poderão ser
desmascarados mais cedo do que o esperado.
É acompanhar
e conferir.
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