Dois Brasis
Eduardo Bomfim, no Vermelho
Desde 2013 vem à tona uma grave crise
multilateral que vive o País, especialmente com a eclosão das grandes
manifestações de rua que tomaram conta da nação, incentivadas pela grande mídia
monopolista associada do Mercado financeiro global.
Mas a seríssima crise política, que cresceu
e avantajou-se desde lá, reflete também os crônicos problemas estruturais que
se acumulam no Brasil, quer seja no âmbito da economia e todas suas variáveis,
quanto nas graves questões sociais.
Assim, sem a perspectiva, por parte das
elites políticas, de um caminho que contemple um projeto de nação abrangente,
tanto em relação às grandes maiorias sociais quanto à resolução dos rumos
essenciais, o País, fragilizado, com uma população de mais de 200 milhões de
habitantes, vê-se dividido, como dizia Machado de Assis, entre o Brasil oficial
e o Brasil real.
O Brasil oficial compreende parcelas da
população que se estendem das classes dominantes à classe média e mais alguns
estratos esclarecidos, infelizmente descolados do Brasil real.
O País real é o Brasil profundo de quase 200
milhões de habitantes que, embora avaliados em pesquisas de opinião pública,
continuam não sendo protagonistas das suas vidas, do seu destino político como
cidadãos brasileiros, em uma nação profundamente desigual e socialmente
injusta. Um dos fatores da crise atual é esse abismo entre as elites, em geral,
e as verdadeiras aspirações do povo brasileiro.
Imerso em gravíssima crise econômica, à mercê
dos interesses do capital financeiro internacional, do rentismo parasitário,
dos objetivos das grandes potências, de um governo Temer sem qualquer
legitimidade, a nação patina no limbo da desorientação pela ausência de um
projeto factível que proponha rumos ao conjunto dos brasileiros.
A crise multilateral que vivemos resulta
também da nova realidade geopolítica mundial, além das consequências danosas da
globalização financeira que atingiu a nação em cheio em pouco mais de duas
décadas, desnorteando a perspectiva dos povos, assim como o Brasil.
A crise política reflete essas enormes
disfunções onde a incontornável e insubstituível luta democrática precisa ser
associada a um novo projeto nacional de desenvolvimento estratégico que
galvanize perspectivas e esperanças, tanto materiais como espirituais, para o
povo brasileiro.
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