Começa
a se esboçar um cenário eleitoral sem Bolsonaro
Luís Nassif, Jornal
GGN
O
cenário político e econômico tornou-se particularmente complexo com um conjunto
de eventos que está escancarando a incapacidade do governo Bolsonaro de
administrar o furacão que se forma.
Crise política
Há
possibilidade concreta de o Tribunal Superior Eleitoral cassar a chapa
Bolsonaro-Hamilton Mourão. As ações penais podem ser impedidas pelo presidente
da Câmara, Arthur Lira, e pelo Procurador Geral da República Augusto Aras. Já
as decisões do TSE só podem ser questionadas no Supremo Tribunal Federal (STF).
É o que explica os ataques continuados de Bolsonaro contra o presidente do TSE,
Luís Roberto Barroso. Há tempos, Bolsonaro percebeu no tribunal sua maior
vulnerabilidade e tratou de abrir criar um fato político para declarar guerra
antecipada contra a ameaça. Conseguiu juntar todo o TSE contra ele.
Além
disso, entrou em uma armadilha complexa para seu tipo de raciocínio binário. A
cada dia perde mais popularidade: n. Nas redes sociais, entre os bolsonaristas
há o predomínio massacrante de robôs – identificados pelo nome, numeração, e
poucos seguidores. De um lado, é obrigado a manter o discurso radical, para
impedir a dispersão dos seguidores. Procedendo assim, aumenta a probabilidade
de ação definitiva do TSE contra a chapa.
Fator militar
Some-se
o enorme desgaste da corporação militar com a parceria com Bolsonaro. Em pouco
tempo liquidaram com as fantasias de que corporações militares são mais
honestas, mais competentes e mais patrióticas que as civis. As revelações da
CPI do Covid, somadas aos erros de cálculo do Ministro da Defesa, general Braga
Neto, esvaziaram a legitimidade das FFAAs para aventuras
antidemocráticas.
Em
outros tempos, havia teóricos capazes de desenvolver teses legitimadoras de golpes.
E havia o apoio nos Estados Unidos. Hoje em dia, faltam ideias e falta apoio.
Sequer têm claro a noção do interesse nacional. Em outros tempos, mesmo na
ditadura, havia uma posição altiva em relação a interferências externas. Hoje
em dia, há uma submissão total aos EUA e a completa ausência de teses
legitimadoras para a própria existência do modelo atual de Forças Armadas.
A questão
econômica
O
horizonte econômico está nublado pela absoluta incapacidade do Ministro da
Economia, Paulo Guedes, em adotar qualquer atitude proativa em relação a
problemas cruciais que estão no radar. São eles:
Crise
energética
O
Governo Bolsonaro adota o mesmo negacionismo adotado emem relação ao Covid. E,
como à frente do Ministério das Minas e Energia há mais um militar, Bento
Albuquerque, incapaz de enfrentar as loucuras de Bolsonaro. No site do MME,
alerta-se para a gravidade da crise atual. Mas não foi capaz de planejar
nenhuma campanha pública de redução do consumo. Segundo os especialistas, o quadro atual é mais grave que
2001. Os reservatórios atuais garantiriam energia até 24 de outubro.
E o período das chuvas começa apenas no final de novembro, havendo ainda um bom
espaço de tempo para fazer efeito nos reservatórios.
Com
menos energia haverá apagões cada vez mais frequentes, especialmente entre 18 e
21:30.
Se
o governo tivesse iniciado o racionamento em maio, haveria a necessidade de
economizar 5% da carga; com a demora, a necessidade subiu para 12%. Como o
governo se recusa a falar em racionamento oficial, haverá um racionamento
informal das distribuidoras. Algumas delas já enviam cartas a seus consumidores
informando que não poderão se responsabilizar por apagões não previstos.
Inflação
Há
sinais de pressão de preços em várias frentes, muitas delas fruto da enorme
inação de Paulo Guedes. Por exemplo, a indústria automobilística enfrenta
problemas com a oferta de chips. Na maioria dos países, os governos nacionais
saem na linha de frente, entendendo o impacto do setor sobre a economia. Por
aqui, não existe área econômica. A interrupção no fornecimento reduziu a
produção de carros novos, para atender o crescimento da demanda, e levou a um
aumento na procura por carros usados, pressionando diretamente os índices de
preço. O preço do automóvel usado aumentou 8,5% em 12 meses – e o mercado
acredita que a alta ainda está subestimada.
Outro
terreno minado é o de produtos de construção. Em 12 meses, o cimento aumentou
20,81%, o tijolo 20,32%, material hidráulico 36,23%,
Some-se
a falta de uma política de contenção das oscilações do câmbio e do petróleo e
se tem o mercado já apostando em uma inflação próxima dos 10% ao ano.
Política
monetária
Outro
enorme motivo de insatisfação é a atuação do Banco Central. O presidente
Roberto Campos Neto herdou o radicalismo liberal do avô, nas lides
jornalísticas, e nenhum pouco do seu pragmatismo como ministro. A única
ferramenta que sabe manejar é a política monetária o câmbio. Recebeu dos
governos anteriores uma montanha de reservas cambiais. Com um canhão desses na
mão, poderia desestimular qualquer corrida contra o real e a evitar oscilações
na moeda. Mas não ousa, mesmo sabendo que o único impacto da política monetária
é sobre o câmbio: sempre que aumenta os juros, aumenta a entrada de dólares no
país (e a mídia comemora como se fosse sinal de fé na economia); e vice-versa.
Lá
atrás, derrubou as taxas de juros a níveis históricos. O investimento externo
reduziu, pressionando as cotações. Como não ousou impedir esse movimento, a
explosão do câmbio impactou diretamente a inflação. Agora, aumenta os juros,
com um profundo impacto na dívida pública e o faz de forma errática. A medida
de eficiência da política monetária é quando o BC consegue aproximar a taxa
longa de juros das taxas de curto prazo. É sinal de que o mercado acredita na
estabilidade da inflação. No momento, a taxa longa está perto de 10%.
Contas
públicas
Guedes
entrou em outra armadilha. Criou-se um fetiche em torno da Lei do Teto. Guedes
elevou-o à condição de dogma. Agora, precisa conseguir recursos para garantir
os programas sociais no ano eleitoral. Seu recurso foi obrigar a Petrobras a
antecipar R$ 21 bilhões em dividendos, para permitir ao governo juntar recursos
para o próximo ano.
Com
os dois movimentos, política monetária de Campos Neto e a distribuição
inesperada de dividendos pela Petrobras, aumentou a desconfiança do mercado em
relação a Bolsonaro.
O jogo da 2a
e da 3a via
Esse
conjunto de fatores começa a lançar dúvidas cada vez mais consistentes sobre o
futuro do governo Bolsonaro. À medida que se fortaleça a convicção de que será
cassado, setores ditos liberais – que, nos últimos tempos, abraçaram a
causa democrática – voltarão seus canhões contra Lula.
Afinal,
no Brasil, convicções são como as ondas do mar, ou as nuvens do céu: seguem
apenas os movimentos dos ventos da opinião pública.
.
Veja: Na relação de Bolsonaro com as Forças Armadas, separar o joio
e o trigo é necessário https://bit.ly/3xOWa13
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