06 outubro 2021

Na feira livre as coisas acontecem

A coxinha de Dona Sônia 

Jéssica Barbosa*

 

O despertador toca às 8h do domingo e me lembra que é dia de fazer feira com a minha avó. Em meio à multidão e ao colorido da diversidade de frutas e verduras, lá está ela: redondinha, crocante por fora e macia por dentro, a deliciosa coxinha. 

Eu sei que a maioria das pessoas prefere e endeusa o famoso pastel de feira, mas eu não troco a coxinha de Dona Sônia, que há anos faz sucesso com a sua barraquinha de salgados, por nada.

A iguaria orgulhosamente brasileira, dourada, frita em tachos de óleos usados e reusados, ilumina meus olhos nas manhãs de domingo. Após saboreá-la até as andanças pela feira, de barraca em barraca, carregando sacolas pesadas ficam suportáveis. 

Confesso que, se minha saúde permitisse, eu a degustaria não só aos domingos. Mas, a ciência faz questão de esfregar na nossa cara que o colesterol mata e assim estragam um dos maiores prazeres dos brasileiros, que é se empanturrar de frituras. 

Me diz se você resiste a uma coxinha acompanhada por uma Coca-Cola gelada? E se for a de Dona Sônia, então, eu duvido não se apaixonar. Que dupla, né?

Açúcar, gordura, glúten, ovo, farinha branca, óleo de soja, leite. A lista de proibições não para de crescer e de aborrecer aqueles que, como eu, adoram comer livremente tudo que é gostoso, como a coxinha de Dona Sônia, recheada, quentinha, que queima a boca dos apressados.

Eu, que até tento obedecer tudo em nome da saúde, às vezes tenho vontade de ser mais fiel aos meus desejos, matar minhas vontades e desdenhar da ciência e da sabedoria.

[Ilustração: Militão Santos]

*Jornalista, cronista

Veja: Mais do que nunca vale o diálogo sem preconceitos https://bit.ly/3kbDHqq

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