A coxinha de Dona
Sônia
Jéssica Barbosa*
O despertador toca às 8h do domingo e
me lembra que é dia de fazer feira com a minha avó. Em meio à multidão e ao
colorido da diversidade de frutas e verduras, lá está ela: redondinha, crocante
por fora e macia por dentro, a deliciosa coxinha.
Eu sei que a maioria das pessoas
prefere e endeusa o famoso pastel de feira, mas eu não troco a coxinha de Dona
Sônia, que há anos faz sucesso com a sua barraquinha de salgados, por nada.
A iguaria orgulhosamente brasileira,
dourada, frita em tachos de óleos usados e reusados, ilumina meus olhos nas
manhãs de domingo. Após saboreá-la até as andanças pela feira, de barraca em
barraca, carregando sacolas pesadas ficam suportáveis.
Confesso que, se minha saúde
permitisse, eu a degustaria não só aos domingos. Mas, a ciência faz questão de
esfregar na nossa cara que o colesterol mata e assim estragam um dos maiores
prazeres dos brasileiros, que é se empanturrar de frituras.
Me diz se você resiste a uma coxinha
acompanhada por uma Coca-Cola gelada? E se for a de Dona Sônia, então, eu
duvido não se apaixonar. Que dupla, né?
Açúcar, gordura, glúten, ovo, farinha
branca, óleo de soja, leite. A lista de proibições não para de crescer e de
aborrecer aqueles que, como eu, adoram comer livremente tudo que é gostoso,
como a coxinha de Dona Sônia, recheada, quentinha, que queima a boca dos
apressados.
Eu, que até tento obedecer tudo em nome
da saúde, às vezes tenho vontade de ser mais fiel aos meus desejos, matar
minhas vontades e desdenhar da ciência e da sabedoria.
[Ilustração: Militão Santos]
*Jornalista, cronista
Veja:
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