Beleza de um jogo está, principalmente, na
incerteza
Fatores
importantes, belíssimos e surpreendentes acontecem durante a partida
Tostão, Folha de S. Paulo
O que é
mais marcante, a intensa superioridade individual
dos times brasileiros ou a enorme queda técnica das equipes de
outros países sul-americanos? Essa distância dificulta as análises técnicas e
táticas dos jogadores e dos times do Brasil. Tite, nas convocações,
tem dificuldade de avaliar os atletas que atuam no futebol brasileiro. Gérson,
esperança da seleção, grande destaque no Flamengo, é hoje reserva no Olympique
de Marselha.
As inúmeras
claras chances de gol do Barcelona
de Guayaquil, nas duas partidas contra o Flamengo, são um
indício da fragilidade coletiva do sistema defensivo do time brasileiro ou
ocorreram porque o Flamengo não se preocupa tanto com a defesa, pois sabe que
vai ganhar a partida?
Dizer que um
time superior tem de jogar no ataque para fazer gols, sem ter cuidados
defensivos, é um raciocínio fracassado e/ou fantasioso. A Seleção de 1970 era
forte também na defesa. O Santos de Pelé e o Barcelona de Guardiola defendiam
bem com a posse de bola, sem dar chances ao adversário.
Na vitória do
Flamengo, Bruno Henrique, mesmo se não tivesse feito os dois gols, teria sido
um dos destaques da equipe, ao lado de Diego Alves e de Éverton Ribeiro.
Já a escolha de Dudu, do
Palmeiras, como o melhor do jogo contra o Atlético é mais um exemplo da excessiva valorização
do jogador que faz o gol, pois, no restante da partida, teve uma atuação ruim.
Os melhores do Palmeiras foram jogadores da defesa, Felipe Melo, Gustavo Gómez
e o goleiro Weverton.
Além da
falha do bom zagueiro do Atlético Nathan Silva, os méritos do gol são,
principalmente, do jovem Gabriel Verón, pela velocidade e pelo passe preciso
que deixou Dudu a um metro da linha do gol.
Não pense que
eu não goste de gols e de artilheiros. Eles são decisivos. Porém, vários outros
fatores importantes, belíssimos e surpreendentes acontecem durante a partida e
precisam ser valorizados. A beleza de um jogo está, principalmente, na
incerteza.
Quem não viu
na íntegra a vitória do PSG sobre o Manchester City e do Manchester United
sobre o Villarreal, com gols de Messi e
de Cristiano Ronaldo,
deve ter pensado, pelas manchetes e análises, que os dois fizeram partidas
excepcionais. Fora os gols, quase não pegaram na bola.
Quando Messi vai
jogar, gosto de ver todos os instantes da partida, pois ele, com frequência,
faz coisas mais belas e talentosas que os gols que vai marcar.
Com Cristiano
Ronaldo, é diferente. Basta ver apenas os gols ou as repetições. Já fico
contente. Por ser o melhor finalizador do mundo, é o segundo maior jogador de
todos.
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