11 julho 2022

Futebol: o sonho e a vida

Será que David Luiz sonhou que estava com a camisa amarela e vencia por 7 a 1?

Os sonhos são fragmentos; não têm verso, reverso nem metaverso
Tostão, Folha de S. Paulo

 

O jogo de futebol é muito mais que uma disputa esportiva, um confronto de estratégias, de técnicas e de planejamentos. É também entretenimento, improvisação, imprevisibilidade, superstição e variados comportamentos psicológicos. É um teatro, uma repetição da vida.

Rony fez um belíssimo gol de bicicleta na goleada do Palmeiras sobre o Cerro Porteño, por 5 a 0. Ele, insistentemente, procurou esse gol, incentivado pelo filho, que, em casa, já tinha feito gol de bicicleta, para o pai aprender. Rony é mais que um acrobata e um bom atacante. É um profissional sério, que corre atrás dos desejos. Há muitos jogadores que parecem ser melhores do que são. Rony é melhor do que parece ser.

Será que a goleada do Flamengo sobre o Tolima, por 7 a 1, foi o marco, o pontapé, para exorcizar, definitivamente, o fantasma de Jorge Jesus? Será que David Luiz, presente nessa partida e no 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil, sonhou, após o jogo, que estava com a camisa amarela e que a seleção brasileira era que ganhava por 7 a 1? Os sonhos são fragmentos, desejos, contradições, sem ordem nem regras. Não têm verso, reverso nem metaverso.

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Gabigol e Pedro, que brilharam na partida, formam agora a dupla de atacantes titular do Flamengo. Os dois nunca tiveram problemas para atuar juntos. A dificuldade era jogar com os dois mais Bruno Henrique, que jogava da esquerda para o centro, para preencher o espaço que é ocupado por Pedro.

Após as confusas improvisações de Paulo Sousa, parece que Dorival Júnior está colocando as coisas nos devidos lugares. Dorival, assim como Mano Menezes no Inter e Felipão no Athletico, vai muito bem no Flamengo. Os três sempre foram bons treinadores. Alternaram ótimos e maus resultados porque há inúmeros outros fatores presentes na trajetória dos treinadores.

Diferentemente de Palmeiras e Flamengo, que golearam, o Atlético teve muitas dificuldades de se classificar na Libertadores, com a vitória por 1 a 0 sobre o Emelec, com um gol de pênalti do incrível Hulk. O volante Allan, que marca e inicia bem as jogadas ofensivas com bons passes, e o meio-campista Jair, que desarma e avança com eficiência, fizeram falta.

O Atlético jogou com um volante (Otávio) e cinco jogadores adiantados. Isso tem acontecido em outras equipes brasileiras. Pontas hábeis e velozes e meias-atacantes que voltam para receber a bola não são meio-campistas, organizadores. Meio-campistas são construtores, que atuam de uma intermediária à outra.

Atlético e Palmeiras vão disputar uma vaga na semifinal da Libertadores. Quase todos os treinadores, quando enfrentam adversários do mesmo nível, falam que o favorito é o outro time, na tentativa de relaxar os jogadores adversários e de inflamar os da própria equipe. Turco Mohamed fez o contrário e teria dito que o Atlético é o favorito. Teria sido um ato falho, um momento de soberba ou uma grande jogada psicológica? Nem Freud saberia dizer.

LEITURA

Quando eu tinha 16 anos e já era titular do Cruzeiro, costumava levar um livro, de variados assuntos, para ler na concentração, na véspera das partidas. Alguns achavam esquisito. Lembrei-me disso porque o Ceará, que avançou na Copa Sul-Americana, formou uma livraria para os garotos da base lerem nos momentos de folga. Todas as equipes deveriam fazer o mesmo, incentivar os meninos e os marmanjos a ler e até a fazer cursos online, durante a concentração.

[Ilustração: Orlando Teruz]

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