Será que David Luiz sonhou que
estava com a camisa amarela e vencia por 7 a 1?
Os sonhos são fragmentos; não têm verso,
reverso nem metaverso
Tostão,
Folha de S. Paulo
O
jogo de futebol é muito mais que uma disputa esportiva, um confronto de
estratégias, de técnicas e de planejamentos. É também entretenimento,
improvisação, imprevisibilidade, superstição e variados comportamentos
psicológicos. É um teatro, uma repetição da vida.
Rony
fez um belíssimo gol de bicicleta na goleada do Palmeiras sobre o Cerro Porteño, por 5 a 0. Ele, insistentemente, procurou
esse gol, incentivado pelo filho, que, em casa, já tinha feito gol de
bicicleta, para o pai aprender. Rony é mais que um acrobata e um bom atacante.
É um profissional sério, que corre atrás dos desejos. Há muitos jogadores que
parecem ser melhores do que são. Rony é melhor do que parece ser.
Será
que a goleada do Flamengo sobre o Tolima, por 7 a 1, foi o marco, o pontapé,
para exorcizar, definitivamente, o fantasma de Jorge Jesus? Será que David
Luiz, presente nessa partida e no 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil, sonhou, após o
jogo, que estava com a camisa amarela e que a seleção brasileira era que
ganhava por 7 a 1? Os sonhos são fragmentos, desejos, contradições, sem ordem
nem regras. Não têm verso, reverso nem metaverso.
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Gabigol
e Pedro, que brilharam na partida, formam agora a dupla de atacantes titular do
Flamengo. Os dois nunca tiveram problemas para atuar juntos. A dificuldade era
jogar com os dois mais Bruno Henrique, que jogava da esquerda para o centro,
para preencher o espaço que é ocupado por Pedro.
Após
as confusas improvisações de Paulo Sousa, parece que Dorival Júnior está
colocando as coisas nos devidos lugares. Dorival, assim como Mano Menezes no
Inter e Felipão no Athletico, vai muito bem no Flamengo. Os três sempre foram
bons treinadores. Alternaram ótimos e maus resultados porque há inúmeros outros
fatores presentes na trajetória dos treinadores.
Diferentemente
de Palmeiras e Flamengo, que golearam, o Atlético teve muitas dificuldades de
se classificar na Libertadores, com
a vitória por 1 a 0 sobre o Emelec, com um gol de pênalti do incrível Hulk. O
volante Allan, que marca e inicia bem as jogadas ofensivas com bons passes, e o
meio-campista Jair, que desarma e avança com eficiência, fizeram falta.
O
Atlético jogou com um volante (Otávio) e cinco jogadores adiantados. Isso tem
acontecido em outras equipes brasileiras. Pontas hábeis e velozes e
meias-atacantes que voltam para receber a bola não são meio-campistas,
organizadores. Meio-campistas são construtores, que atuam de uma intermediária
à outra.
Atlético
e Palmeiras vão disputar uma vaga na semifinal da Libertadores. Quase todos os
treinadores, quando enfrentam adversários do mesmo nível, falam que o favorito
é o outro time, na tentativa de relaxar os jogadores adversários e de inflamar
os da própria equipe. Turco Mohamed fez o contrário e teria dito que o
Atlético é o favorito. Teria sido um ato falho, um momento de soberba ou uma
grande jogada psicológica? Nem Freud saberia dizer.
LEITURA
Quando
eu tinha 16 anos e já era titular do Cruzeiro, costumava levar um livro, de
variados assuntos, para ler na concentração, na véspera das partidas. Alguns
achavam esquisito. Lembrei-me disso porque o Ceará, que avançou na Copa
Sul-Americana, formou uma livraria para os garotos da base lerem nos momentos
de folga. Todas as equipes deveriam fazer o mesmo, incentivar os meninos e os
marmanjos a ler e até a fazer cursos online, durante a concentração.
[Ilustração: Orlando Teruz]
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