'Estamos vendo a ponta do iceberg', diz
infectologista sobre primeira morte por varíola dos macacos
Sociedade Brasileira
de Infectologia emite nota alertando para o risco de subnotificação; taxa de
positividade em rede privada de laboratórios aumentou 161% nas últimas três
semanas
Constança Tatsch e Giulia Vidale, O
GloboA primeira morte por varíola dos macacos no
Brasil, confirmada nesta sexta-feira, mobilizou a comunidade científica que alerta para a
subnotificação e riscos da doença.
Para
Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Infectologia e professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), a
situação exige ações mais firmes do governo.
—
No Brasil já tem mil casos, uma morte, e estamos vendo só a ponta do iceberg,
mas não há uma política assertiva. As pessoas que estão mais em risco são os
homens que fazem sexo com homens, há uma transmissão sustentada nesse grupo,
por isso a orientação de diminuir número de parceiros e evitar sexo com
desconhecidos, mas é preciso lembrar que é uma doença global, já temos casos de
grávida, crianças, ou seja, vai se democratizar e para não acontecer com mais
óbitos precisamos de mais planejamento.
Para
o infectologista, essa morte mostra que a doença oferece risco — embora esse tenha
sido o sexto caso de óbito neste surto atual e o primeiro fora do continente
africano.
—
Isso aumenta a preocupação da comunidade cientifica em relação à possível
gravidade dessa doença, principalmente em imunossuprimidos, que podem
desenvolver casos mais graves. Aqui, a população imunossuprimida chega a 1%, o
que representa, 2 a 3 milhões de pessoas. O potencial de complicações é grande
e o custo da monkeypox pode ser muito alto.
O
infectologista afirma que, segundo um estudo publicado nos últimos dias, de 30%
a 50% das infecções estão acontecendo em pessoas que vivem com HIV/Aids:
—
Informações extraoficiais apontam que é altamente provável que essa morte no
Brasil seja um caso assim. Os óbitos da África têm esse perfil e essa é nossa
maior preocupação. Temos um milhão vivendo com HIV/Aids no Brasil. A grande
maioria está sob tratamento e indetectável, entre 60% e 70%, mas temos um
número muito grande, que pode chegar a 300 mil pessoas que não sabem, não têm
diagnostico ou não está com carga indetectável.
Leia também: Por que a OMS declarou
varíola dos macacos como emergência de saúde pública internacional? https://bit.ly/3cEFFPD
Em
nota, a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de
Urologia (SBU) reforçam a preocupação que existam mais casos de pessoas que
tenham o vírus sem saber:
"Como
o quadro clínico pode se assemelhar ao de outras afecções, como ISTs e outras
condições e dermatoses, é bem provável que a doença seja subdiagnosticada e,
portanto, subnotificada".
Diante
disso, as sociedades alertam a população, a classe médica e os demais agentes
de saúde sobre o aparecimento de lesões cutâneas na região anogenital,
"especialmente vesículas, pústulas e crostas [...] ainda mais quando
antecedidas ou acompanhadas por febre, gânglios aumentados e dolorosos
(“ínguas”) e lesões em outras partes do corpo".
A
presença de lesões nessa região se tornou um sintoma comum do surto atual da
infecção. Diante da suspeita de monkeypox, a Vigilância Epidemiológica da
região deve ser acionada para orientações quanto à coleta de amostra e análise
laboratorial. Também é recomendado que o paciente seja tratado com base no seu
quadro clínico e seja colocado colado em isolamento e aconselhado a evitar
contato com outras pessoas enquanto tiver lesões de pele, incluindo as com
crostas, que também são infectantes.
No
Grupo Fleury, um dos primeiros do país a oferecer teste para diagnóstico da
doença na rede privada, houve aumento da positividade dos resultados dos testes
de varíola dos macacos realizados nas últimas três semanas. Entre os dias 1 e 9
de julho, a positividade foi de 18%. O número subiu para 36% na semana seguinte
e chegou a 47% no período de 17 a 23 de julho. O que representa um aumento de
161%. O exame é realizado mediante pedido médico e o resultado é obtido em até
três dias úteis.
Como se proteger
As
medidas de prevenção recomendas pela SBU e pela SBI são:
·
Higiene frequente das mãos com álcool 70% ou com
água e sabão;
·
Evitar contato próximo com pessoas que possam
apresentar quadro clínico;
·
Evitar compartilhamento de objetos, incluindo
roupas de cama e toalhas;
·
Reduzir o número de parceiros sexuais;
·
Pessoas com quadro clínico suspeito devem manter
isolamento e evitar compartilhamento de objetos de uso pessoal até exclusão do
diagnóstico ou completo desaparecimento das lesões;
·
Indivíduos que tiveram contato com pessoas
infectadas devem permanecer em alerta e vigilância próxima.
Emergência de saúde pública
internacional
No
último sábado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a situação do
vírus monkeypox como emergência de saúde pública internacional. Informações do
último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o assunto,
publicado na segunda-feira, mostram que entre 1º de janeiro e 22 de julho,
cinco mortes pela doença foram confirmadas no mundo. Todas no continente
africano. Todas as regiões da OMS já registram casos da doença. São mais de 16
mil diagnósticos positivos em ao menos 75 países.
No
Brasil, de acordo com informações do Ministério da Saúde, são 1.066 pessoas
contaminadas pela doença, sendo 823 apenas no Estado de São Paulo. Há ainda 124
diagnósticos no Rio de Janeiro; 44 em Minas Gerais; 21 no Paraná; 15 no
Distrito Federal; 13 em Goiás; 5 na Bahia; 4 em Santa Catarina, Rio Grande do
Sul e Ceará; 3 em Pernambuco; 2 no Espírito Santo e no Rio Grande do Norte; e 1
no Acre e em Tocantins. Foram registradas também 513 suspeitas que estão em
monitoramento.
.
Leia
também: Embora
a situação seja atípica, as chances da varíola dos macacos se tornar uma
pandemia são pequenas pela baixa capacidade de transmissão do vírus https://bit.ly/3b7qaj2
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