Será que os jogadores discutem
as condutas dos treinadores?
Ou se comportam, cada vez mais, como robôs, avatares,
guiados pelos professores?
Tostão, Folha de S. Paulo
Nesta época de tanto desenvolvimento científico e tecnológico e
de tantas informações, estatísticas e estratégias, não sabemos
nada sobre o que ocorre dentro dos clubes, nos treinamentos, o que conversaram
os treinadores com os atletas e o que falam entre si os jogadores. Tudo é
escondido, proibido, apesar do esforço dos repórteres à procura de notícias.
Não sabemos a
estratégia ensaiada durante os treinamentos nem a escalação, que só é divulgada
uma hora antes do jogo. Ainda bem que não nos proibiram de ver as partidas, embora muitas coisas que
ocorrem durante o jogo não correspondam ao que foi planejado.
Durante as
partidas, pelo que vemos nas imagens da TV, existem pouquíssimas conversas
entre os próprios jogadores e entre os técnicos e os atletas, a não ser na
lateral do gramado, quando a bola para por alguns instantes. Na maior parte do
tempo, jogadores e treinadores procuram o confronto com os adversários, com os
árbitros, os auxiliares e com o VAR. Um horror, tumultos que
prejudicam o espetáculo.
As entrevistas
após os jogos, que, tempos atrás, eram protocolares, chatas, em que os
repórteres perguntavam muito, e os jogadores e os treinadores não diziam nada,
melhoraram com a chegada de vários técnicos estrangeiros, especialmente os
portugueses, mais acadêmicos e mais preocupados em explicar as condutas e os
detalhes técnicos e táticos das partidas. Muitos treinadores brasileiros têm seguido essa postura.
Espero que continuem.
Será que os
jogadores, entre os treinos e os jogos, conversam, discutem, as condutas dos
treinadores ou se comportam, cada vez mais, como robôs, avatares, guiados pelos
professores?
No passado, como
os treinadores não tinham tanta importância, não eram tão glamourizados, e as
entrevistas não eram tão protocolares, com milhões de propagandas de
patrocinadores, os jogadores falavam mais, com espontaneidade, sobre as
partidas, às vezes, dentro do gramado, após os treinamentos.
Os jogadores
conversavam mais sobre os detalhes táticos. No Cruzeiro, eu e Piazza, companheiros de quarto, discutíamos muito sobre o que tinha ocorrido
nos jogos e procurávamos os treinadores para conversar. Na seleção, nos dias de folga, quando
quase todos saíam, Gerson adorava ficar dentro do hotel à procura de alguém para discutir detalhes sobre
tudo o que se dava em campo.
Hoje, nas
atuais entrevistas coletivas, os treinadores, com razão, reclamam do excesso de jogos, de alguns
gramados ruins e da necessidade de mudar muito o time a cada partida. Mas
exageram. Adoram também justificar as más atuações e/ou derrotas pelas trocas
de jogadores e de esquemas táticos que são obrigados a fazer. Exageram mais uma
vez. Uma das razões da liderança do Palmeiras no Brasileirão é o fato de ser,
dos grandes times, o que mais mantém os titulares.
As principais
equipes brasileiras possuem também elencos grandes e bons. Com exceção de
alguns poucos jogadores especiais que fazem falta, pouco
muda a qualidade com a troca de atletas.
Todos os
jogadores deveriam conversar e discutir mais, entre eles e com os treinadores,
com profundidade, sobre a maneira de jogar das equipes e sobre o melhor
posicionamento em campo. A diversidade de opiniões é fundamental, sem ser
tendencioso.
"O mestre
quer saber mais, e o tolo não deixa ninguém falar." (Gilson Yoshioka,
jornalista, autor de 12 livros e vocalista)
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