Economia dos EUA entra em recessão técnica
Federal
Reserve anunciou nova alta nas taxas de juros na véspera da divulgação da
segunda queda consecutiva no PIB do país.
Mariana
Mainenti, Vermelho www.vermelho.org.br
A economia norte-americana entrou no estado que os analistas chamam de recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB). A situação da economia dos Estados Unidos só deve ser declarada recessão, oficialmente, caso a tendência de encolhimento do PIB persista até o fim do ano. Contudo, como nos EUA a atividade econômica é avaliada trimestralmente, na prática, a leitura que os economistas fazem a partir do desempenho na primeira metade de 2022 é de que há de fato um quadro recessivo.
O PIB do país sofreu uma contração de 0,9% no segundo trimestre, após um
recuo de 1,6% no primeiro. “Há uma redução na atividade econômica em seis meses
e isso é preocupante”, analisa Paulo Kliass, doutor em economia e membro da
carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do
governo federal, segundo o qual a atividade econômica dos EUA no segundo
semestre dependerá de fatores externos, como a crise decorrente do conflito na
Ucrânia e os problemas de abastecimento de gás e petróleo, bem como do efeito
de medidas de política econômica para estimular a economia.
Ao mesmo tempo, ressalta Kliass, a trajetória de alta dos juros não
favorece a recuperação da atividade econômica norte-americana. “O aumento de
0,75 ponto percentual na reunião da última quarta-feira (27) vai na direção
contrária de qualquer medida para estimular a atividade. É um estímulo ao não
investimento”, aponta.
Kliass lembra que o Fed tem mandato para controlar a inflação, mas
precisa também manter-se de olho no nível de atividade, principalmente, no
desemprego. “Eles estão com esta dupla dificuldade, mas aparentemente estão
mais preocupados com a inflação”, opina. A inflação norte-americana fechou em
9,1% em 12 meses, a maior da história do país e esta foi a quarta vez neste ano
que os EUA subiram os juros.
“Após um crescimento econômico histórico – recuperando todos os empregos
do setor privado perdidos durante a pandemia -, sabíamos que a economia
desaceleraria à medida que o Fed atuasse na inflação”, justificou em postagem nas
redes sociais o presidente norte-americano, Joe Biden, que se recusa a chamar
de recessão o estado atual da economia norte-americana: “Nosso mercado de
trabalho está forte, os gastos estão em alta e o desemprego está em queda.
Temos resiliência para resistir à transição”, argumentou.
Exportações brasileiras
Para Kliass, mesmo caso o PIB dos EUA continue sofrendo retração, as
exportações brasileiras ainda poderão continuar sendo sustentadas pelas vendas
a outros países como China e Rússia. Mas o aumento das taxas de juros pelo Fed
(Federal Reserve, o BC norte-americano, eleva a probabilidade de alta dos juros
pelo Copom (Comitê de Política Monetária).
“Quando a taxa de juros sobre nos Estados Unidos todo capital
especulativo se volta para lá, buscando rentabilidade em um país que em tese é
mais seguro. Como a tendência é deste capital de curto-prazo sair do Brasil, o
Copom deve subir as taxas aqui”, explicou Kliass. “E ainda há uma variável que
é a eleição presidencial. Até lá, vai haver uma suspensão dos investimentos,
não por Lula estar na frente, mas pelo risco golpista de Bolsonaro. Vamos
esperar a próxima reunião do Copom para ver se haverá uma revoada até lá”,
concluiu.
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