13 agosto 2022

O lugar da maioria

O futebol se esconde quando é preciso lutar pela democracia
Leitura da carta pela democracia foi comovente; o mundo mudou muito, mas a luta pacífica não: é preciso ir para a rua
Walter Casagrande Jr., Folha de S. Paulo

Às 8h30 desta quinta-feira, 11 de agosto, cheguei ao Largo São Francisco para a leitura da Carta pela Democracia e Estado Democrático de Direito, aquela "cartinha" assinada por mais de 1 milhão de pessoas "caras-de-pau" e "mau caráter" (nas palavras do presidente).

Vi todas as pessoas, figuras públicas ou não, chegando ao local. E me veio um filme na cabeça quando percebi que todo aquele espaço, tanto fora quanto dentro da faculdade, começou a lotar de gente.

Logo entendi que aquilo iria ficar para a história, porque já tinha a experiência dos comícios das Diretas Já. Há 38 anos, enquanto vivenciava aquele momento, nem imaginava o quanto aquela noite ficaria marcada para sempre. Mas nesta quinta (11) fui percebendo isso em tempo real, no mesmo instante.

Representantes da imprensa do mundo todo estavam lá, além de músicos, ativistas, jornalistas, juristas, grupos antirracistas e pela democracia, de modo geral. E poucos representantes do futebol. Nenhum dirigente ou jogador atual.

É claro que há aqueles que lutaram pela democracia que, por motivos particulares, não puderam ir, mas, mesmo que fossem, seríamos pouquíssimos representantes do esporte do povo. Ou será que não é mais do povo?

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Confesso que me incomodou muito não encontrar ninguém do futebol. Cruzei com o filho do Magrão, o Gustavo, que é advogado e trabalha com o futebol, mas nada de ex-jogadores e dirigentes.

O maior representante dos dirigentes de futebol na manifestação foi o Roque Citadini. Bom, de qualquer maneira, a Democracia Corinthiana marcou presença –além de mim, sei que Wladimir e Adilson Monteiro Alves prestigiaram o evento.

A leitura da carta foi emocionante, do mesmo modo que nos emocionamos cantando o nosso hino, o Hino Nacional do povo brasileiro –e não só de alguns, como o presidente da República tenta fazer crer.

A bandeira também é nossa, assim como as cores verde, amarelo, branco e azul.

Fiquei comovido porque tinha dúvidas se a geração da internet e das redes sociais iria perceber que precisava sair de casa, parar de apenas postar e gravar vídeos, e marcar presença de fato num ato democrático.

O mundo mudou muito, mas a luta pacífica pela democracia não: é preciso ir para a rua. E eles foram, juntando-se a gerações mais velhas de manifestantes.

Ali estava gente que sofreu com os piores momentos da ditadura. Também estavam aqueles que lutaram pela anistia em 1979, os que lutaram pelas Diretas Já em 1984, e quem engrossava o coro dos cara-pintadas, em 1992.

Todos juntos para defender a nossa democracia dos verdadeiros demônios da política.

Vimos representantes de várias religiões em perfeita harmonia e civilidade, donos de comportamentos respeitosos entre eles e sem preconceitos idiotas, como já demonstrou ter a primeira-dama.

Nesse dia não houve cor, raça, classe social, gênero ou profissão que nos separassem: estávamos todos unidos pela mesma luta e com a mesma importância.

Pensei que o Magrão estaria junto comigo nessa, como sempre estivemos para lutar e defender a nossa democracia.

Acho que demos o pontapé inicial para várias manifestações populares pelo Estado Democrático de Direito.

Não posso esquecer dos representantes dos povos indígenas, sob a liderança de Sônia Guajajara, presente na manifestação.

Foi lindo, emocionante, empolgante e irá ficar para a história.

Vamos em busca de uma vitória histórica nas eleições de outubro, o que significa, antes de mais nada, o respeito ao resultado das urnas.

Tenho fé. Tenho fé, na voz do Mano Brown.

[Na foto, Casagrande no Largo de São Francisco]

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