Precisamos valorizar os bons
técnicos, mas os protagonistas são os jogadores
O grande craque vai além da
técnica. Ele vê, antevê e transvê, imagina o jogo
Tostão,
Folha de S. Paulo
Mesmo considerando que Abel
Ferreira adotou uma postura defensiva correta, quando o time ficou
com um a menos contra o Atlético, e que Cuca poderia ter colocado um centroavante
para fazer dupla com Hulk, quando o Galo ficou com a superioridade numérica, se
Jair ou Hulk tivessem feitos os gols que perderam quando ficaram diante do
goleiro, a história seria contada de outra maneira. Cuca seria o herói, o
craque do jogo, título dado a Abel.
Em minhas caminhadas diárias, quando converso comigo e com
outras pessoas, um leitor me questionou, educadamente, por citar, com
frequência, o Manchester City, o Liverpool e os
técnicos Guardiola e Klopp como
exemplos de equipes e treinadores e por falar pouco do Real Madrid e do
treinador Ancelotti, campeões da Espanha e da Europa. O leitor tem razão.
Na quarta-feira, o Real, papador de títulos, ganhou a Supercopa
da Europa, ao derrotar, por 2 a 0, o Eintracht Frankfurt, campeão da Liga Uefa.
O Real mostrou a mesma escalação e a mesma estratégia da temporada anterior, ao
alternar o domínio da bola com o contra-ataque, ao avançar e recuar, sístole e
diástole, como nas batidas do coração. É a vida.
O Real está também repleto de ótimos jogadores e de craques,
como o goleiro Courtois, o experiente trio no meio-campo, formado por Casemiro,
Kross e Modric, e a dupla de atacantes, Benzema e Vinícius
Júnior. Casemiro está cada dia melhor, no posicionamento, nos desarmes
e nos passes, além de ser muito bom nas jogadas pelo alto, na defesa e no
ataque.
Na prancheta, o Real Madrid joga como o Corinthians, com uma
linha de quatro defensores, uma de três no meio-campo e outra de três na
frente. Porém, diferentemente do Corinthians, os setores são compactos e
conectados. No time brasileiro, os pontas são fixos e o centroavante fica
isolado, como Robson Crusoé, sem WhatsApp.
A pressa é inimiga da opinião https://bit.ly/3n47CDe
Ao contrário de várias das principais equipes
brasileiras, que contratam muitos jogadores e mudam o time a cada partida, com
a justificativa de que precisam poupar os atletas, o poderoso e rico Real
Madrid possui um elenco pequeno, faz contratações pontuais, como a do excelente
zagueiro alemão Rudiger, e escala, em todos os jogos, quase todos os titulares.
Abel Ferreira e Fernando Diniz têm condutas parecidas, um dos motivos dos bons
trabalhos.
Falta ao Real Madrid um bom reserva para Benzema. É difícil
contratar um atacante bom, que não seja muito caro e que tope jogar muito
pouco, já que Benzema está
presente em quase todas as partidas, durante os 90 minutos.
Apesar de o Atlético não trocar tantos jogadores como outros
times, como Corinthians, São Paulo e Flamengo, mesmo com um grande e bom
elenco, festejado até pouco tempo atrás, superentusiasmado com a volta de Cuca,
por detalhes, como os gols perdidos por Jair e Hulk e a derrota nos pênaltis,
está fora da Libertadores, da Copa do Brasil e com pouquíssimas chances de
ganhar o Brasileirão. Alguns até já estão com saudade do Turco Mohamed. A vida
e o futebol dão muitas voltas.
Precisamos valorizar os bons treinadores, do Brasil e de todo o
mundo, como Ancelotti, Abel
Ferreira e Felipão, mas os grandes protagonistas do espetáculo são os
jogadores, os especiais, os craques, como Benzema. O grande craque vai além da
técnica. Parafraseando o poeta Manoel de Barros, a ciência não é capaz de medir
o encanto de um craque. Ele vê, antevê e transvê, imagina o jogo. É preciso
transver o futebol e o mundo.
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