O crivo viciado das redes
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
A gente critica — em geral com razão — a excessiva importância dada às redes sociais no tempo presente.
Porém se
faz institucionalizada uma espécie de retroalimentação permanente dessa
questionável importância. Qualquer fato relevante, de certa repercussão, enseja
a que, dois a três dias após, a mídia dominante dedique espaço à aferição da
chamada "repercussão nas redes".
Ou seja,
quantas menções positivas ou negativas o aludido fato obteve — sem
necessariamente levar em conta a distorção de versões e mesmo fake news.
A coisa
se tornou tão importante na paisagem social e política do país que até os mais
simples viventes cuidam de documentar a cena, celular à mão, através de vídeos e fotos
em que quem fotografa ou filma se faz também personagem.
Daí em
diante, o produto é posto no Instagram e em outras redes e logo em seguida o dito cujo
contabiliza quantas visualizações, curtidas e comentários obteve.
Uma
espécie de narcisismo mórbido onde pouco se distingue entre o fato e a versão
do internauta.
Foi assim
que no fatídico 8 de janeiro de 2023, em Brasília, centenas de invasores dos
edifícios dos três poderes da República produziram contra si mesmos provas
documentais através de selfies em que descreviam os acontecimentos de viva voz
e de imediato postavam nas redes. Muitos cumprem pena de reclusão na Papuda.
E a
verdade? Ora, entre o que acontece e o que se interpreta nas redes a verdade
pouco importa. Ou não?
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