11 agosto 2022

Resistência democrática ampla

A um passo da coesão

Luciano Siqueira, no portal Vermelho www.vermelho.org.br

  

O fato insofismável (como se dizia antigamente) é que a sociedade brasileira tem sofrido terrível esgarçamento, que atinge as instituições, esfacela a estrutura econômica e impõe ao povo, e mesmo parcelas expressivas da elite, um traço profundo de insatisfação e perplexidade.
 
A ascensão de Jair Bolsonaro ao governo central se deu na esteira de uma brutal campanha, encetada sobretudo pelo poderoso aparato midiático dominante, tendo como vértice o combate cerrado ao PT e às forças de esquerda e a negação da própria atividade política.
 
E numa mescla mal costurada de ultra liberalismo tardio e cultura do ódio (expressão contemporânea do figurino fascista), Bolsonaro tem governado há quase 4 anos sob a senha da destruição.
 
De tal modo que a resistência democrática que vem se erguendo como contraponto ao desastroso governo (e inevitavelmente interage com as eleições de outubro), ainda tem a marca da dispersão.
 
Por muitas razões, entre as quais o grau de destruição dos mecanismos de unidade e convergência que o bolsonarismo, de modo explícito ou não tanto, vem alcançando.
 
Uma expressão disso acontece agora, quando se multiplicam Manifestos em defesa da democracia sob a iniciativa de diferentes instituições e entidades e setores da sociedade.
 
Em tese, convergem para o mesmo objetivo — a resposta às ameaças golpistas cotidianamente repetidas pelo presidente da República.
 
Mas dispersam energias, pois se desaguassem em ações comuns provavelmente repercutiriam muito mais no conjunto da população.
 
Hoje mesmo, quando se tem a leitura solene da “Carta às brasileiras e brasileiros pela democracia” na Faculdade de Direito da USP e ocorrem atos semelhantes em tradicionais faculdades de direito pelo Brasil afora, muitas leituras do mesmo documento acontecerão, concomitantemente, no mesmo horário, em outros ambientes das mesmas cidades.
 
Em São Paulo mesmo, três passeatas em locais distintos estão previstas. 
 
E manifestos de origens diversas, com semelhantes conteúdos, também se multiplicam pelo país afora.
 
Nada mal, muito ao contrário, pois todas essas iniciativas — como assinala o ex-ministro José Carlos Dias, hoje, na Folha de S. Paulo — "representam reação à escalada golpista de Bolsonaro".
 
É possível que a partir das múltiplas manifestações de hoje se crie naturalmente o leito comum da resistência.
 
Ou seja, talvez estejamos a um passo da coesão.
 
Assim aconteceu em outros momentos marcantes da luta democrática em nosso país, como na memorável jornada pelas diretas já. 
 
E ironicamente o próprio bolsonarismo arrogante, agressivo e ameaçador — que tende a elevar o tom no próximo 7 de Setembro - contribuirá para o ajuntamento e a coesão de forças do amplo e diversificado campo democrático.
 
Não se trata, obviamente, de algo que possa acontecer de maneira estritamente espontânea. Implica a ação consciente de correntes políticas e agrupamentos sociais consequentes.
 
Que assim seja.

Leia também: Lula-Alckmin e o gesto taticamente contido: https://bit.ly/3A39tiS

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma avaliação muito coerente. O momento é mesmo de unir forças para que possamos afastar o perigo que ameaça nossa democracia. Só os mal intencionados, os ignorantes, os alienados e os defensores da violência continuam defendendo esse desgoverno.