Bolsonaro só sobrevive se roubar
votos que hoje estão com Lula
Em busca de voto não
ideológico, campanha do PL precisa tomar 1 milhão de eleitores por semana
Bruno Boghossian,
Folha de S. Paulo
Jair Bolsonaro precisa roubar mais do que um punhado de votos de
Lula para ter a chance de um novo mandato. Se a disputa for ao segundo turno, o
presidente só vence se conquistar 100% dos indecisos, virar todos os votos
nulos e ainda tomar do petista 4 milhões de eleitores. Sem os nulos, a tarefa é
mais difícil: Bolsonaro teria que atrair 9 milhões de eleitores que estão com
Lula —mais de 1 milhão por semana.
Não há caminho possível para Bolsonaro nesta corrida que não
passe pela tomada de pelo menos alguns territórios pintados de vermelho. A
missão é particularmente complicada numa eleição marcada por uma cristalização
do voto e um alto índice de rejeição ao presidente.
O primeiro fator até deu uma ajuda a Bolsonaro. O apoio firme
acima dos 30% bloqueou a ascensão de desafiantes e permitiu que o
presidente reivindicasse um monopólio da oposição ao PT. Mas o quadro
consolidado do outro lado da disputa atrapalha a migração de votos de que ele
precisa para superar Lula.
A rejeição é o quesito
determinante para travar esse movimento. De acordo com o Datafolha, 52%
dos eleitores dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum. Não por acaso, Lula
aparece com 53% na simulação de segundo turno.
Leia
também: Bolsonaro e o baile da Ilha Fiscal https://bit.ly/3eqD64I
A conexão entre esses números mostra que uma fatia considerável
do eleitorado não vê Bolsonaro como opção razoável, o que torna muito mais
custoso o esforço para roubar votos que estão com Lula.
Em seu primeiro
discurso no 7 de Setembro, Bolsonaro disse que era preciso
"convencer aqueles que pensam diferente". Mais tarde, pediu que
ninguém tente persuadir "um esquerdista". E acrescentou: "Não
têm argumentos, são cabeças vazias".
O eleitor que Bolsonaro tenta roubar de Lula realmente não é "um
esquerdista". O presidente investe no antipetismo para ampliar a rejeição
ao rival e buscar um voto não ideológico, que flutua da esquerda à direita,
principalmente ao sabor dos ventos da economia. Ele ainda depende de uma rajada
a seu favor.
Veja: Pedir o voto faz a
diferença https://bit.ly/3QUTNTT
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