Brasil deve tratar bola com
carinho, divertir-se com responsabilidade
A
fantasia transita pelo espaço imaginário, entre a brincadeira e a seriedade
Tostão,
Folha de S. Paulo
O Brasil, daqui a 32 dias, em 24 de novembro, às 16h, na
quinta-feira, vai estrear na Copa do Mundo,
contra a boa seleção da Sérvia.
O Mundial é a maior festa do futebol e também uma celebração de
heróis e de vilões e a espetacularização das coisas boas e ruins, de exageros
nas conquistas e nos fracassos, compatível com o mundo atual, de vulgaridades,
fake news, parcialidades, ódios, violência, hipocrisia e ausência de projetos e
de ações.
O Brasil é um dos candidatos ao título mundial porque possui
ótimos jogadores e pelo bom e eficiente trabalho de Tite e da comissão técnica. Porém
tenho receios e preocupações, algumas previsíveis e outras que podem surgir de
repente, sem avisar. A vida é um sopro, como diz a letra de um tango argentino.
Tite deve usar várias opções na escalação e na estratégia, de
acordo com o momento e com o adversário. Há boas alternativas, e é preciso
usá-las. Contra seleções mais fracas, que vão atuar com nove a dez jogadores
recuados e próximos à área, será necessária a presença de um centroavante, bom
cabeceador e que saiba jogar em pequenos espaços, como Pedro ou Richarlison, já
que haverá um grande número de cruzamentos para área. O Brasil é também muito
forte nas bolas paradas ofensivas, com Thiago Silva e Marquinhos.
A seleção corre riscos, contra grandes equipes, de ter
dificuldades no meio-campo, pois poderá jogar com dois pontas sempre abertos,
com um centroavante, com Neymar, pelo meio, mas que não participa da marcação,
e com apenas dois jogadores para desarmar, Casemiro e Fred ou Paquetá. Várias
seleções europeias se destacam pela aproximação de jogadores no meio, para
trocar passes e envolver o adversário. Uma opção seria não ter o centroavante,
adiantar Neymar e formar um trio no meio-campo, com Casemiro, Fred e Paquetá.
A situação atual é bem diferente, mas me lembra o confronto com
a Alemanha, no 7 a 1, quando o Brasil tinha apenas dois jogadores no
meio-campo, e a seleção alemã, com a aproximação de vários meio-campistas
brilhantes, tomou conta do jogo.
Vinicius Junior, pelo que
joga no Real Madrid e pelo reconhecimento ao ser eleito o
oitavo melhor jogador do mundo, não pode ser reserva. Tite deveria aproveitá-lo
mais nos contra-ataques, como faz Ancelotti no Real Madrid. O time espanhol,
mesmo contra adversários inferiores, costuma recuar a marcação, atrair o outro
time, para recuperar a bola e lançá-la rapidamente a Vinicius Junior. Ele, com
espaço, com sua velocidade e com seus dribles, é imarcável.
Independentemente da escalação e da estratégia, será necessário
ter a bola, tratá-la com carinho, divertir-se com ela, com responsabilidade. A
fantasia transita pelo espaço imaginário, entre a brincadeira e a seriedade.
A forma esférica da bola fascina as crianças. Antes de gostar de
futebol, elas gostam da bola. Minha primeira bola foi de meia. A bola deve ter
surgido antes da roda. Segundo a teoria do Big Bang, a vida começou com uma
bola de fogo. O químico britânico Harold Kroto ganhou o Prêmio Nobel, em 1996,
pela descoberta de uma nova fórmula molecular para o carbono, fulereno, que
tinha o formato de uma bola.
Mario Prata, em seu recente e delicioso livro "O Drible da
Vaca", mistura de ficção, história, realidade e humor, mostrou como foi a
criação do formato da bola no início do futebol, inspirada nos desenhos de
Leonardo Da Vinci, o maior gênio da humanidade. O mundo é uma bola.
Leia também: De chaleira, como antigamente https://bit.ly/3IdHpuV
Nenhum comentário:
Postar um comentário