20 outubro 2022

Lula e evangélicos

Em carta a evangélicos, Lula combate mentiras e reafirma diálogo no governo

Candidato à Presidência busca dialogar com o eleitorado evangélico ao enfrentar fake news. Carta também considera bem-vinda a participação de evangélicos no governo.
Cezar Xavier, Vermelho www.vermelho.org.br

 

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu nesta quarta-feira (19) lideranças de igrejas evangélicas. No encontro, que ocorreu em um hotel na cidade de São Paulo, foi lida por Gilberto Carvalho, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, uma carta de Lula ao eleitorado evangélico (leia a íntegra ao final), que representa um aguardado e formalizado diálogo com este eleitorado.

Em seu pronunciamento, Lula refutou a desinformação, a disseminação de fake news e o pânico moral criado pelo adversário sobre sua campanha, criticou o atual governo e lembrou que já teve de fazer outros acenos a religiosos em campanhas anteriores. Também mencionou o legado de seus governos em defesa da liberdade de culto dos evangélicos, como os decretos que criaram o dia da Marcha para Jesus e o Dia Nacional dos Evangélicos.

“Toda eleição há uma quantidade de mentiras neste país que precisamos fazer carta, ora para a Igreja Católica, ora para a igreja evangélica, ora para outros setores da sociedade”, disse o ex-presidente, que disse ter publicado a carta “por respeito” aos religiosos.

A carta também faz menção a como os avanços econômicos de seus governos favoreceram o progresso das igrejas em todo o país.

“Essa carta é parte do compromisso que eu tenho com a verdade nesse país, com que eu acho que podemos fazer pelas crianças, pelos trabalhadores, pelos aposentados, na luta contra o racismo nesse país”, disse Lula, em discurso.

Ao contrário do candidato à reeleição que força a presença em igrejas e cultos para pedir voto, causando constrangimento a fieis, a campanha de Lula prefere distinguir os eventos com este segmento em espaços fora das igrejas. Ele critica a confusão entre política e religião que tem ocorrido nesta campanha.

“Em meio a este triste escândalo do uso da fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu governo jamais vai usar símbolos de sua fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da fé”, diz na carta.

Na carta, a campanha critica o uso eleitoral da fé, defende a liberdade religiosa e reforça ser contra o aborto. Não menciona o adversário, mas faz referência indireta a sua campanha de ataques para dividir o eleitorado por meio da fé, e também ao governo que levou as famílias à fome, à inflação e ao desemprego. Também acena com parcerias entre o governo e entidades evangélicas para ações sociais, onde já atuam com sucesso.

Também defende a recuperação da economia como o principal forma de defender a integridade da família. Mas acena abertamente para um diálogo maior em torno de projetos, de questões sociais e da defesa do Estado laico. “É bem-vinda a participação de evangélicos nas diversas formas de participação social no governo, como conselhos setoriais e conferências públicas”, acrescenta Lula.

No pronunciamento, no entanto, Lula foi direto ao chamou Bolsonaro de “psicopata” e disse que ele “não pode ganhar as eleições mentindo”.

Em um dos trechos da carta, o candidato afirma que “de nada adianta se dizer defensor da família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular”.

Na carta, Lula diz que:

  • no período que governou o Brasil, manteve o ‘mais absoluto’ respeito à liberdade religiosa;
  • assinou leis e decretos que asseguram a prática religiosa no país;
  • mentiras a seu respeito tentam gerar ‘medo’ nas pessoas de boa-fé;
  • nunca houve risco ao funcionamento das igrejas enquanto presidiu o país;
  • se eleito, não vai criar ‘obstáculos’ ao livre funcionamento de templos;
  • vai estimular parcerias com igrejas;
  • é um ‘escândalo’ o uso da fé para fins eleitorais;
  • assume compromisso para fortalecer famílias e combater as drogas;
  • é ‘pessoalmente’ contra o aborto e que não cabe ao presidente, mas ao Congresso decidir sobre o tema;
  • entende que ‘o lar e a orientação dos pais são fundamentais’ na educação dos filhos e que cabe à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores familiares;
  • o povo brasileiro está em ‘desespero’ e precisará do apoio das igrejas para reverter situação.

Sagrada família

No pronunciamento, Lula disse que, em razão de falsas acusações, toda eleição precisa fazer cartas aos evangélicos para desmentir conteúdos inverídicos. Como exemplo, disse que “inventaram” que se ele for eleito instalará banheiro unissex nas escolas. “Só pode ter saído da cabeça de satanás a história do banheiro unissex”, disse.

Lula se emocionou durante o discurso quando falava da sua família e da mãe de Janja, sua esposa. “A mãe da Janja morreu de Covid recentemente. A família, pra mim, [embarga a voz] é uma coisa sagrada”, declarou.

Ele acrescentou que fica “ofendido” quando as pessoas colocam em dúvida o seu respeito à família e disse não considerar pastor “um pastor que conta mentiras”. “Um pastor não pode ir para igreja fazer política. Se um padre quiser fazer política, ele que faça política, mas não tire proveito do altar para fazer política. Saia, vá para a rua fazer política”, afirmou.

Leia também: O movimento altivo das lideranças evangélicas que não aceitam papel de gado é um novo cumprimento de bem-aventurança https://bit.ly/3Sxh3YV

O ex-presidente disse ainda que “mentiras” estão estabelecendo o “ódio” no Brasil. Lula voltou a contestar a informação de que ele, se eleito, obrigaria crianças a usar banheiros comuns para meninos e meninas. “Gente, eu tenho família, tenho filha, netas, bisnetas, só pode ter saído da cabeça de satanás a história de banheiro unissex”, disse.

Diálogo e bolsonarismo

A elaboração da carta contou com a articulação da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que é da Igreja Assembleia de Deus. Parlamentares evangélicos acompanharam Lula no encontro como a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), a deputada reeleita Benedita da Silva (PT-RJ), o deputado federal eleito Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e a própria senadora Eliziane. A campanha ainda reuniu mais de cem lideranças religiosas e políticas de várias partes do país. Com banda, música gospel, sermão e oração, as lideranças falaram em perseguição por parte de colegas religiosos.

“É um momento de reflexão e de avaliação porque estamos tratando de um povo que tem diferenças (…) e que hoje, nas mais variadas avaliações, estão entre 70 e 80 milhões de brasileiros”, avaliou. “Qualquer família tem um evangélico”, justificou a senadora Eliziane.

“Às minhas irmãs e meus irmãos, não permitam o sequestro da nossa fé. Nós já nos convertemos em Jesus, não temos que nos converter a Bolsonaro. Eu sei que vocês estão passando por isso, porque eu também estou: de olharem na cara da gente e dizer que não é crente porque a gente escolheu estar do lado da Justiça”, disse Aava Santiago (PSDB), vereadora de Goiânia. “Uma igreja que depende do estado para defender seus valores é uma igreja fraca, porque quem defende nossos valores é a mentalidade de Cristo, renovada em nós pelo conhecimento da verdade”, completou ela.

Eliziane, por sua vez, qualificou a carta como “o reconhecimento de um Estado laico, mas com a compreensão que temos uma diversidade religiosa no Brasil muito grande. Uma pluralidade, onde todos eles, independentemente da visão religiosa, precisam ser alcançados pelo serviço público e pela política pública.”

Geraldo Alckmin (PSB), que concorre a vice na chapa de Lula, e o candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, também compareceram à reunião.

Durante a campanha, de olho no voto cristão, Lula afirmou, mais de uma vez, que é contra o aborto. E que cabe ao Congresso o papel de discutir eventuais mudanças na legislação em vigor sobre o tema.

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu nesta quarta-feira (19) lideranças de igrejas evangélicas. No encontro, que ocorreu em um hotel na cidade de São Paulo, foi lida por Gilberto Carvalho, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, uma carta de Lula ao eleitorado evangélico (leia a íntegra ao final), que representa um aguardado e formalizado diálogo com este eleitorado.

Em seu pronunciamento, Lula refutou a desinformação, a disseminação de fake news e o pânico moral criado pelo adversário sobre sua campanha, criticou o atual governo e lembrou que já teve de fazer outros acenos a religiosos em campanhas anteriores. Também mencionou o legado de seus governos em defesa da liberdade de culto dos evangélicos, como os decretos que criaram o dia da Marcha para Jesus e o Dia Nacional dos Evangélicos.

“Toda eleição há uma quantidade de mentiras neste país que precisamos fazer carta, ora para a Igreja Católica, ora para a igreja evangélica, ora para outros setores da sociedade”, disse o ex-presidente, que disse ter publicado a carta “por respeito” aos religiosos.A carta também faz menção a como os avanços econômicos de seus governos favoreceram o progresso das igrejas em todo o país.

“Essa carta é parte do compromisso que eu tenho com a verdade nesse país, com que eu acho que podemos fazer pelas crianças, pelos trabalhadores, pelos aposentados, na luta contra o racismo nesse país”, disse Lula, em discurso.

Ao contrário do candidato à reeleição que força a presença em igrejas e cultos para pedir voto, causando constrangimento a fieis, a campanha de Lula prefere distinguir os eventos com este segmento em espaços fora das igrejas. Ele critica a confusão entre política e religião que tem ocorrido nesta campanha.

“Em meio a este triste escândalo do uso da fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu governo jamais vai usar símbolos de sua fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da fé”, diz na carta.

Na carta, a campanha critica o uso eleitoral da fé, defende a liberdade religiosa e reforça ser contra o aborto. Não menciona o adversário, mas faz referência indireta a sua campanha de ataques para dividir o eleitorado por meio da fé, e também ao governo que levou as famílias à fome, à inflação e ao desemprego. Também acena com parcerias entre o governo e entidades evangélicas para ações sociais, onde já atuam com sucesso.

Também defende a recuperação da economia como o principal forma de defender a integridade da família. Mas acena abertamente para um diálogo maior em torno de projetos, de questões sociais e da defesa do Estado laico. “É bem-vinda a participação de evangélicos nas diversas formas de participação social no governo, como conselhos setoriais e conferências públicas”, acrescenta Lula.

No pronunciamento, no entanto, Lula foi direto ao chamou Bolsonaro de “psicopata” e disse que ele “não pode ganhar as eleições mentindo”.

Em um dos trechos da carta, o candidato afirma que “de nada adianta se dizer defensor da família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular”.

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