20 outubro 2022

Geografia do voto

Migração de votos no Sudeste e no Nordeste será a chave do 2º turno

Números favorecem Lula, mas Bolsonaro tenta criar condições para ultrapassagem
Bruno Boghosian, Folha de S. Paulo

 

Em pouco mais de duas semanas de segundo turno, Lula teve oito agendas de campanha no Sudeste e quatro no Nordeste. Jair Bolsonaro concentrou nove atos no Sudeste e outros quatro no Nordeste. Os dados do primeiro turno ajudam a explicar a disputa territorial pelos votos restantes na etapa final da corrida.

No dia 2 de outubro, quase 10 milhões de eleitores preferiram manter alguma distância de Lula e Bolsonaro, digitando nas urnas os números de outros candidatos. Os maiores estoques de votos nem-nem se concentraram no Sudeste (4,8 milhões) e no Nordeste (2 milhões).

Pescar esses eleitores é a prioridade das duas campanhas. A vantagem com que Lula saiu das urnas no primeiro turno impulsionou o petista na largada, mas o reforço da campanha de Bolsonaro e a ofensiva organizada pelo presidente nas duas regiões deixam aberta a chance de uma ultrapassagem.

Mantidas as votações que cada candidato já recebeu, Lula chegaria à vitória no segundo turno se conquistasse apenas um de cada quatro eleitores nem-nem do Sudeste, mais um de cada três do Nordeste. Seria uma conquista relativamente modesta, considerando que o ex-presidente obteve 43% dos votos válidos na primeira região e 67% na segunda.

O resultado seria favorável ao petista mesmo que Bolsonaro recebesse o apoio de todos os eleitores nem-nem restantes no Sudeste e no Nordeste, além de 100% desses votos no Sul, no Norte e no Centro-Oeste.

Alguns elementos, no entanto, podem desequilibrar a equação: um bloqueio ao crescimento de Lula no Sudeste, a abstenção de eleitores do Nordeste que já apoiaram o petista no primeiro turno e uma reversão de votos nessas e em outras regiões.

A campanha de Bolsonaro tem se dedicado a ativar os três fatores. O antipetismo direcionado a setores da classe média, a disseminação do medo nas igrejas e a ação de governadores que tiveram votações combinadas com Lula no primeiro turno farão diferença nos campos de batalha cruciais do segundo turno. [Ilustração: Aroeira]

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