Bolsonaro
se comporta como se fosse pedófilo, diz Lula ao podcast Flow
Ex-presidente participa de
programa, que bate recorde de audiência
Victoria Azevedo e Felipe Bächtold, Folha de S. Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta
terça-feira (18), em entrevista ao podcast Flow, que o presidente Jair Bolsonaro (PL)
se comporta como se fosse um pedófilo.
"Ele se comporta como se fosse", disse Lula ao
responder se acreditava que o presidente era pedófilo. Em seguida, o petista
afirmou: "O comportamento dele no caso das meninas
venezuelanas é o comportamento de um pedófilo, e ele percebeu
isso, por isso ficou desesperado".
As declarações do petista, elevando o tom de ataques a Bolsonaro
em um tema que desgastou o atual presidente nos últimos dias, foram dadas na
entrevista que foi a primeira participação do petista no Flow e a primeira
concedida a um podcast durante a campanha deste ano.
Bolsonaro participou
do Flow no dia 8 de agosto. A entrevista com o presidente
durou 5 horas e 20 minutos e alcançou 550 mil acessos
simultâneos. Na noite desta terça, houve mais de 1 milhão de acessos
simultâneos à entrevista do petista, um recorde no programa.
A entrevista de Lula, porém, teve duração de cerca de uma 1 hora
e 30 minutos, sendo interrompida a pedido da equipe do petista. "Vão
acabar me batendo, preciso mesmo deixar você ir embora", afirmou o
apresentador Igor Coelho, dizendo ter passado um pouco do tempo combinado com a
campanha.
No domingo (16), o presidente do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), Alexandre de Moraes,
determinou a remoção, por parte da campanha de Lula, de vídeos em que a fala do
presidente Bolsonaro de que "pintou um clima" entre
ele e adolescentes venezuelanas era associada à pedofilia.
Moraes também determinou que a campanha de Lula deve se abster
de "promover novas manifestações" imputando a Bolsonaro declarações
pedófilas, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.
Durante entrevista a um podcast na sexta-feira (14), Bolsonaro
estava explorando uma temática recorrente de sua campanha —o suposto risco de o
Brasil "virar uma Venezuela" com a volta de Lula ao poder— quando
relatou um encontro que teve com meninas do país vizinho em São Sebastião, na
periferia do Distrito Federal.
Também na participação no podcast nesta terça, Lula fez um apelo
para que os eleitores compareçam às urnas no dia 30 para votar e citou decisão
do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a
possibilidade de transporte gratuito.
"É muito importante, porque o transporte está caro, e uma
pessoa que mora aqui na zona leste [de São Paulo], se tiver que votar em outro
lugar, não tem dinheiro."
O ex-presidente também foi questionado por que não houve um
detalhamento das propostas de plano de governo de sua candidatura. Lula
respondeu dizendo que o PT "sempre apresentou programa de governo",
que recebeu mais de 20 mil sugestões via internet e que tem um legado a
apresentar. "Quando a gente já governou, as pessoas já sabem, mais ou
menos, o que eu vou fazer."
Em diversos momentos da conversa, o candidato reclamou da
disseminação de mentiras por parte dos adversários, inclusive dentro de
igrejas. "A questão que ele fala todo dia: 'Ah, o Lula vai fazer banheiro
unissex'. Já ouviu falar isso, né? Eu acho que você não acredita nisso. É
absurdo. Os caras não têm respeito."
Ao falar das redes sociais, disse que é preciso fazer uma
discussão na sociedade sobre o tema das fake news e criticou quem "promove a
violência". "A gente não tem que ter medo do debate. Vamos definir o
que é fake news e o que não é."
Lembrou de boatos sobre dos quais foi vítima e disse: "Como
é que você pode permitir que as pessoas façam isso, sem que haja nenhum
critério de punição ou de proibição disso?"
"Vamos tentar discutir qual é o melhor caminho para que
você não seja censurado, para que você não confunda uma coisa que você fala que
é correta, uma divergência política ou cultural, com uma provocação, uma
mentira deslavada."
Uma fala de Lula gerou reação nas redes bolsonaristas, que
levantaram a hashtag #lulatransfóbico como uma das mais usadas do Twitter na
noite desta terça. Após uma pergunta sobre a fake news da mamadeira de piroca
na campanha de 2018, o petista afirmou.
Leia também: Urnas eletrônicas nota 10 deixam de ser
mote golpista https://bit.ly/3MdNPfB
"Essas coisas absurdas que eles inventam todo dia, e não
têm critério. Eles são capazes de dizer que você nasceu mulher e depois virou
homem. Eles são capazes de dizer que vaca voa. Eles são capazes de dizer que
cavalo tem chifre e boi não tem. Qualquer mentira, não tem tamanho e não tem
hora. É uma verdadeira fábrica de mentir a campanha do Bolsonaro."
Ao ser questionado sobre a possibilidade de "regulação de
mídia", Lula disse que é "inimigo da censura".
Depois acrescentou: "Tem canal de televisão que só fala
asneira, só fala grosseria, só ofende. Temos que ter uma regulação. A última
regulação da mídia eletrônica é de 1962. Então nós precisamos chamar a
sociedade para discutir".
O petista disse que "ninguém quer uma regulação como
Cuba" e citou como exemplos as legislações inglesa, americana e alemã.
Também criticou a falta de programação local das grandes redes
de TV nacionais e afirmou que "nove pessoas são donas de todos os meios de
comunicação do Brasil".
"Ninguém quer uma rádio que só fala aquilo que interessa
para o governo, uma televisão", disse Lula.
"Queremos uma coisa plural, que todo mundo tenha direito de
participar, que a oposição tenha direito de resposta, que as pessoas ofendidas
tenham direito de resposta."
Sobre os casos dos bolsonaristas Allan dos Santos e Luciano Hang, que
foram banidos de redes, Lula disse: "Você não precisa extirpá-lo, você só
precisa educá-lo. Ele tem que saber que não pode fazer o que quer. Tem um
limite".
Em relação à descriminalização da maconha, tema que motiva
críticas recorrentes de Bolsonaro, o petista disse que não caberá ao governo
tratar do assunto e que isso é de atribuição do Congresso ou do Supremo.
Ele também voltou a dizer que é contra aborto. "Aborto não
é bom nem para o pai, nem para a mãe, nem para ninguém."
Ao ser questionado se era contra o aborto pessoalmente ou como
política de Estado, Lula respondeu: "Eu sou contra o aborto pessoalmente.
Quem tem que decidir sobre aborto ou não é a lei e não o presidente da
República".
O petista também disse que é "é fantasticamente engraçado
as pessoas pedirem para o PT fazer autocrítica". "Se eu fizer
autocrítica todo dia, eu não preciso de oposição. A oposição é que tem que me
criticar. Por que eu mesmo tenho que me criticar?"
Ao falar sobre a Operação Lava Jato, disse
que pode ter havido corrupção na Petrobras e citou que a estatal tem milhares
de funcionários e engenheiros. "Obviamente que pode ter corrupção. Quando
você descobre corrupção, o que você faz? Prende o ladrão. Mas não prejudica os
trabalhadores."
Também disse que o ex-juiz Sergio Moro de o ex-procurador Deltan
Dallagnol conseguiram "convencer a imprensa" de que as mentiras que
contavam eram verdades.
Ao ser questionado se teria ficado bravo com o apoio do jogador de futebol
Neymar Jr. ao presidente Bolsonaro, Lula citou o julgamento do atleta na
Espanha.
"Não fico puto. O Neymar tem o direito de escolher quem ele
quiser para ser presidente. Acho que ele está com medo que se eu ganhar as
eleições eu vá saber o que o Bolsonaro perdoou da dívida do imposto de renda
dele. Acho que é isso que ele está com medo de mim", respondeu, rindo.
"Obviamente que o Bolsonaro fez um acordo com o pai dele.
Agora ele está com problema com imposto de renda na Espanha. Mas isso não é um
problema do presidente, é um problema da Receita Federal e não meu",
continuou.
A equipe de Lula investiu na divulgação em redes sociais da
participação do petista no Flow.
Foram criados grupos no WhatsApp dedicados à cobertura em tempo
real do programa e aliados do petista, entre eles a ex-presidente Dilma
Rousseff, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-ministra Marina Silva,
convocaram seus seguidores nas redes sociais para acompanharem a entrevista.
O deputado federal André Janones (Avante-MG), que atua na
coordenação da equipe, publicou mais cedo nesta terça que é preciso "dar
ao presidente Lula a maior audiência da história durante sua entrevista".
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