19 outubro 2022

Lula no "Flow"

Bolsonaro se comporta como se fosse pedófilo, diz Lula ao podcast Flow

Ex-presidente participa de programa, que bate recorde de audiência
Victoria Azevedo e Felipe Bächtold, Folha de S. Paulo

 

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira (18), em entrevista ao podcast Flow, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) se comporta como se fosse um pedófilo.

"Ele se comporta como se fosse", disse Lula ao responder se acreditava que o presidente era pedófilo. Em seguida, o petista afirmou: "O comportamento dele no caso das meninas venezuelanas é o comportamento de um pedófilo, e ele percebeu isso, por isso ficou desesperado".

As declarações do petista, elevando o tom de ataques a Bolsonaro em um tema que desgastou o atual presidente nos últimos dias, foram dadas na entrevista que foi a primeira participação do petista no Flow e a primeira concedida a um podcast durante a campanha deste ano.

Bolsonaro participou do Flow no dia 8 de agosto. A entrevista com o presidente durou 5 horas e 20 minutos e alcançou 550 mil acessos simultâneos. Na noite desta terça, houve mais de 1 milhão de acessos simultâneos à entrevista do petista, um recorde no programa.

A entrevista de Lula, porém, teve duração de cerca de uma 1 hora e 30 minutos, sendo interrompida a pedido da equipe do petista. "Vão acabar me batendo, preciso mesmo deixar você ir embora", afirmou o apresentador Igor Coelho, dizendo ter passado um pouco do tempo combinado com a campanha.

No domingo (16), o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, determinou a remoção, por parte da campanha de Lula, de vídeos em que a fala do presidente Bolsonaro de que "pintou um clima" entre ele e adolescentes venezuelanas era associada à pedofilia.

Moraes também determinou que a campanha de Lula deve se abster de "promover novas manifestações" imputando a Bolsonaro declarações pedófilas, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.

Durante entrevista a um podcast na sexta-feira (14), Bolsonaro estava explorando uma temática recorrente de sua campanha —o suposto risco de o Brasil "virar uma Venezuela" com a volta de Lula ao poder— quando relatou um encontro que teve com meninas do país vizinho em São Sebastião, na periferia do Distrito Federal.

Também na participação no podcast nesta terça, Lula fez um apelo para que os eleitores compareçam às urnas no dia 30 para votar e citou decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a possibilidade de transporte gratuito.

"É muito importante, porque o transporte está caro, e uma pessoa que mora aqui na zona leste [de São Paulo], se tiver que votar em outro lugar, não tem dinheiro."

O ex-presidente também foi questionado por que não houve um detalhamento das propostas de plano de governo de sua candidatura. Lula respondeu dizendo que o PT "sempre apresentou programa de governo", que recebeu mais de 20 mil sugestões via internet e que tem um legado a apresentar. "Quando a gente já governou, as pessoas já sabem, mais ou menos, o que eu vou fazer."

Em diversos momentos da conversa, o candidato reclamou da disseminação de mentiras por parte dos adversários, inclusive dentro de igrejas. "A questão que ele fala todo dia: 'Ah, o Lula vai fazer banheiro unissex'. Já ouviu falar isso, né? Eu acho que você não acredita nisso. É absurdo. Os caras não têm respeito."

Ao falar das redes sociais, disse que é preciso fazer uma discussão na sociedade sobre o tema das fake news e criticou quem "promove a violência". "A gente não tem que ter medo do debate. Vamos definir o que é fake news e o que não é."

Lembrou de boatos sobre dos quais foi vítima e disse: "Como é que você pode permitir que as pessoas façam isso, sem que haja nenhum critério de punição ou de proibição disso?"

"Vamos tentar discutir qual é o melhor caminho para que você não seja censurado, para que você não confunda uma coisa que você fala que é correta, uma divergência política ou cultural, com uma provocação, uma mentira deslavada."

Uma fala de Lula gerou reação nas redes bolsonaristas, que levantaram a hashtag #lulatransfóbico como uma das mais usadas do Twitter na noite desta terça. Após uma pergunta sobre a fake news da mamadeira de piroca na campanha de 2018, o petista afirmou.

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"Essas coisas absurdas que eles inventam todo dia, e não têm critério. Eles são capazes de dizer que você nasceu mulher e depois virou homem. Eles são capazes de dizer que vaca voa. Eles são capazes de dizer que cavalo tem chifre e boi não tem. Qualquer mentira, não tem tamanho e não tem hora. É uma verdadeira fábrica de mentir a campanha do Bolsonaro."

Ao ser questionado sobre a possibilidade de "regulação de mídia", Lula disse que é "inimigo da censura".

Depois acrescentou: "Tem canal de televisão que só fala asneira, só fala grosseria, só ofende. Temos que ter uma regulação. A última regulação da mídia eletrônica é de 1962. Então nós precisamos chamar a sociedade para discutir".

O petista disse que "ninguém quer uma regulação como Cuba" e citou como exemplos as legislações inglesa, americana e alemã.

Também criticou a falta de programação local das grandes redes de TV nacionais e afirmou que "nove pessoas são donas de todos os meios de comunicação do Brasil".

"Ninguém quer uma rádio que só fala aquilo que interessa para o governo, uma televisão", disse Lula.

"Queremos uma coisa plural, que todo mundo tenha direito de participar, que a oposição tenha direito de resposta, que as pessoas ofendidas tenham direito de resposta."

Sobre os casos dos bolsonaristas Allan dos Santos e Luciano Hang, que foram banidos de redes, Lula disse: "Você não precisa extirpá-lo, você só precisa educá-lo. Ele tem que saber que não pode fazer o que quer. Tem um limite".

Em relação à descriminalização da maconha, tema que motiva críticas recorrentes de Bolsonaro, o petista disse que não caberá ao governo tratar do assunto e que isso é de atribuição do Congresso ou do Supremo.

Ele também voltou a dizer que é contra aborto. "Aborto não é bom nem para o pai, nem para a mãe, nem para ninguém."

Ao ser questionado se era contra o aborto pessoalmente ou como política de Estado, Lula respondeu: "Eu sou contra o aborto pessoalmente. Quem tem que decidir sobre aborto ou não é a lei e não o presidente da República".

O petista também disse que é "é fantasticamente engraçado as pessoas pedirem para o PT fazer autocrítica". "Se eu fizer autocrítica todo dia, eu não preciso de oposição. A oposição é que tem que me criticar. Por que eu mesmo tenho que me criticar?"

Ao falar sobre a Operação Lava Jato, disse que pode ter havido corrupção na Petrobras e citou que a estatal tem milhares de funcionários e engenheiros. "Obviamente que pode ter corrupção. Quando você descobre corrupção, o que você faz? Prende o ladrão. Mas não prejudica os trabalhadores."

Também disse que o ex-juiz Sergio Moro de o ex-procurador Deltan Dallagnol conseguiram "convencer a imprensa" de que as mentiras que contavam eram verdades.

Ao ser questionado se teria ficado bravo com o apoio do jogador de futebol Neymar Jr. ao presidente Bolsonaro, Lula citou o julgamento do atleta na Espanha.

"Não fico puto. O Neymar tem o direito de escolher quem ele quiser para ser presidente. Acho que ele está com medo que se eu ganhar as eleições eu vá saber o que o Bolsonaro perdoou da dívida do imposto de renda dele. Acho que é isso que ele está com medo de mim", respondeu, rindo.

"Obviamente que o Bolsonaro fez um acordo com o pai dele. Agora ele está com problema com imposto de renda na Espanha. Mas isso não é um problema do presidente, é um problema da Receita Federal e não meu", continuou.

A equipe de Lula investiu na divulgação em redes sociais da participação do petista no Flow.

Foram criados grupos no WhatsApp dedicados à cobertura em tempo real do programa e aliados do petista, entre eles a ex-presidente Dilma Rousseff, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a ex-ministra Marina Silva, convocaram seus seguidores nas redes sociais para acompanharem a entrevista.

O deputado federal André Janones (Avante-MG), que atua na coordenação da equipe, publicou mais cedo nesta terça que é preciso "dar ao presidente Lula a maior audiência da história durante sua entrevista".

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