TSE cruza os braços e Bolsonaro amplia a gastança pela reeleição
Governo antecipa
pagamentos e anuncia uma benesse por dia para tentar virar a disputa
Bernardo Mello Franco,
O Globo
O governo liberou ontem a quarta parcela do auxílio para motoristas
autônomos. O dinheiro pingou na conta de 670 mil taxistas e caminhoneiros. Cada
um deles recebeu mais R$ 1.000 antes da data prevista — e a menos de duas
semanas do segundo turno.
Jair Bolsonaro anunciou o benefício com a alegação de que o combustível
estava caro. O Planalto torrou recursos públicos para reduzir o preço da
gasolina e do diesel, mas não se lembrou de suspender a despesa extra. Todo
gasto é pouco no esforço pela reeleição.
No início de junho, o pacote de bondades já custava mais de R$ 340
bilhões, incluindo o aumento do Auxílio Brasil, o Auxílio Gás e a antecipação
do 13º dos aposentados. Apesar da gastança, Lula ficou a menos de 2 milhões de
votos de vencer no primeiro turno.
A paulada das urnas fez o governo raspar ainda mais os cofres públicos.
Em uma semana, foram queimados outros R$ 15,7 bilhões em novos benefícios.
Agora a ordem é anunciar uma benesse por dia para tentar virar a disputa.
Nem tudo é favor para quem vive no aperto. Em outra tacada eleitoreira,
o governo liberou empréstimos consignados para quem recebe o Auxílio Brasil e o
Benefício de Prestação Continuada. A medida produziu uma corrida às agências da
Caixa. Nos próximos meses, produzirá uma legião de pobres asfixiados por juros
de 50% ao ano.
A campanha de Bolsonaro informou à Justiça ter gastado R$ 15,1 milhões
no primeiro turno. A quantia equivale a uma gorjeta diante do gasto real, desembolsado
pelo Tesouro para favorecer o capitão. O TSE assiste ao vale-tudo de braços
cruzados, como se a única ameaça ao equilíbrio da eleição fossem as lorotas
despejadas na internet.
A preocupação com os vulneráveis é uma novidade na vida de Bolsonaro. Em
2000, ele foi o único entre 513 deputados a votar contra a criação do Fundo de
Combate e Erradicação da Pobreza. Na década seguinte, referiu-se ao Bolsa
Família como “esmola” e “farelo”. “Só tem uma utilidade o pobre neste país:
votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso”, discursou, em
novembro de 2013.
No primeiro turno, o mapa da votação mostrou que ele estava enganado. Os
pobres sacaram o dinheiro e votaram em peso na oposição.
Leia também: Razão e emoção no segundo turno https://bit.ly/3rNUTq9
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