19 outubro 2022

Uso da máquina

TSE cruza os braços e Bolsonaro amplia a gastança pela reeleição
Governo antecipa pagamentos e anuncia uma benesse por dia para tentar virar a disputa
Bernardo Mello Franco, O Globo

 

O governo liberou ontem a quarta parcela do auxílio para motoristas autônomos. O dinheiro pingou na conta de 670 mil taxistas e caminhoneiros. Cada um deles recebeu mais R$ 1.000 antes da data prevista — e a menos de duas semanas do segundo turno.

Jair Bolsonaro anunciou o benefício com a alegação de que o combustível estava caro. O Planalto torrou recursos públicos para reduzir o preço da gasolina e do diesel, mas não se lembrou de suspender a despesa extra. Todo gasto é pouco no esforço pela reeleição.

No início de junho, o pacote de bondades já custava mais de R$ 340 bilhões, incluindo o aumento do Auxílio Brasil, o Auxílio Gás e a antecipação do 13º dos aposentados. Apesar da gastança, Lula ficou a menos de 2 milhões de votos de vencer no primeiro turno.

A paulada das urnas fez o governo raspar ainda mais os cofres públicos. Em uma semana, foram queimados outros R$ 15,7 bilhões em novos benefícios. Agora a ordem é anunciar uma benesse por dia para tentar virar a disputa.

Nem tudo é favor para quem vive no aperto. Em outra tacada eleitoreira, o governo liberou empréstimos consignados para quem recebe o Auxílio Brasil e o Benefício de Prestação Continuada. A medida produziu uma corrida às agências da Caixa. Nos próximos meses, produzirá uma legião de pobres asfixiados por juros de 50% ao ano.

A campanha de Bolsonaro informou à Justiça ter gastado R$ 15,1 milhões no primeiro turno. A quantia equivale a uma gorjeta diante do gasto real, desembolsado pelo Tesouro para favorecer o capitão. O TSE assiste ao vale-tudo de braços cruzados, como se a única ameaça ao equilíbrio da eleição fossem as lorotas despejadas na internet.

A preocupação com os vulneráveis é uma novidade na vida de Bolsonaro. Em 2000, ele foi o único entre 513 deputados a votar contra a criação do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza. Na década seguinte, referiu-se ao Bolsa Família como “esmola” e “farelo”. “Só tem uma utilidade o pobre neste país: votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso”, discursou, em novembro de 2013.

No primeiro turno, o mapa da votação mostrou que ele estava enganado. Os pobres sacaram o dinheiro e votaram em peso na oposição.

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