As livrarias estão mesmo indo para a cova?
Enio Lins www.eniolins.com.br
Símbolos
da cultura em todos os lugares ditos civilizados, as livrarias estão em crise.
Fenômeno tristíssimo para gerações que cresceram aprendendo a circular entre os
corredores de estantes, a se deliciar com capas e lombadas, a folhear as obras.
Um dos baques mais sentidos por amantes de livros
em todo país, é o fechamento da Livraria Cultura, em São Paulo. Era aquele
monumental espaço, encravado no emblemático Conjunto Nacional, um ícone
brasileiro e não somente algo paulistano.
Com acessos principais na Avenida Paulista e na
Rua Augusta, o Conjunto Nacional é, por sua vez, um ícone próprio da capital
paulista, retratado até em quadrinhos, na obra desenhada por Paulo Caruso, em
que seus traços passeiam e apresentam a metrópole.
Apois, ali, no miolo do Conjunto Nacional,
fulgurava a Livraria Cultura com suas torres livreiras como que subindo aos
céus no imenso pé-direito. Eram andares de livros, e mais coisas do saber, como
filmes, jogos, equipamentos de informática, papelaria...
Acabou. Faliu com uma dívida poderosa (menos que a
da Americanas, lógico) como se no livro-caixa só houvesse a coluna “dívida” e a
coluna “haver” desaparecido. Foi-se embora a derradeira das grandes livrarias
do tipo referência nacional.
Há algum tempo atrás havia naufragado a FNAC. O
grupo francês foi o arrematador do também fantástico Shopping Cultural Ática, o
pioneiro a espalhar elegante e provocativamente toneladas de livros e produtos
culturais de todo tipo por sete pavimentos.
Por sua vez, a FNAC foi adquirida pela Livraria
Cultura em 2017, mas fechou no ano seguinte. Das chamadas megalivrarias
brasileiras, ou das reconhecidas como tal, só havia restado essa unidade que
está encerrando suas atividades nesses dias de fevereiro.
Não é fenômeno paulista, repito. É um drama
brasileiro e, certamente, global. Mas que afeta mais países como o nosso, onde
o analfabetismo foi chaga aberta durante séculos e uma grave aversão à leitura
segue marcando boa parte da população.
Em Alagoas não é diferente o quadro, resistindo
apenas as livrarias dos Shoppings, ainda vistosas – e que assim permaneçam –
mas, infelizmente, distantes do mundo editorial e cultural local; suas estantes,
salvo exceção rara, não expõem obras alagoanas.
Foi-se o tempo da Caetés, foco de cultura no
Centro de Maceió, por sua vez cria da afamada recifense Livro 7. Foram-se
várias outras tentativas por aqui (falando apenas nos tempos recentes). Não
suportaram a foice digital, somada (insisto!) à aversão ao livro.
Fica a saudade? Esperemos que não. E que, tal qual
os discos de vinil e suas geringonças tocadoras, voltem ao cenário de uma forma
ou de outra, nem que seja como “vintage”. Enquanto isso, restam os sebos –
afinal, os alfarrábios são eternos.
Viver
é mais do que simplesmente existir https://bit.ly/3Ye45TD
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