Luciano Siqueira
Num desses anúncios que de repente ocupam a tela do smartphone sem que você tenha pedido, sou informado de que há uma marca de faca doméstica de origem japonesa que tem merecido a confiança de milhões de usuários pelo mundo afora.
Claro que não dei a menor importância a essa informação. Nunca imaginei que existissem facas confiáveis e facas que não mereçam confiança.
Então diante de visitas daquelas que manifestam interesse em conhecer o seu apartamento em todos os detalhes, num dado momento seria o caso de apresentar os talheres e instrumentos afins:
— Essa faca é da minha inteira confiança!
— As outras não? Por que?
— Soube num anúncio que milhões de pessoas confiam nelas e como não gosto de ser minoria embarquei também nessa corrente de credibilidade.
Mas o fato é que continuo sem saber exatamente por que há facas que merecem confiança dos seus usuários e outras que não a merecem.
Talvez a diferença esteja na lâmina afiada e resistente. Ou numa espécie de rara sensibilidade que lhe permita distinguir a voz do dono da voz de estranhos...
Pelo sim, pelo não, sigo adiante em minha já prolongada existência sem o menor interesse em me especializar em facas e, portanto, me capacitar a distingui-las por atributos raros ou especiais.
Quanto à propaganda que arbitrariamente ocupou a tela do meu smartphone, espero não vê-la jamais — devidamente bloqueada que está.
Apesar de tudo, a poesia sobrevive https://bit.ly/3Ye45TD
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