Ter a bola é essencial, mas, obviamente, não o bastante
Não ficar com a bola no meio campo foi a deficiência principal da seleção na Copa América
Tostão/Folha de S. Paulo
Nos melhores jogos do Brasileirão ou da Copa do Brasil, o Botafogo está quase sempre presente. No sábado, veremos outro jogaço entre o líder Fortaleza e o vice Botafogo, pelo Brasileirão. São dois times que priorizam as jogadas rápidas em direção ao gol.
O Fortaleza tem mais pausas que o Botafogo, algumas vezes descansa com a bola. O Botafogo não para de correr. O Fortaleza é a equipe que mais jogou durante o ano e a que melhor alterna jogadores, diferentemente de outros clubes brasileiros, que muitas vezes escalam todos os reservas.
Nesta quarta (28), Bahia e Flamengo se enfrentam no Maracanã pela Copa do Brasil. São dois times com muita qualidade no meio campo. Gostei da convocação de Gerson para a seleção. Por ter jogado em várias posições do ataque e se destacado pela habilidade e bons passes, ele trouxe para o meio campo essas qualidades e se adaptou às necessidades do setor, de marcação e de capacidade para atuar de uma intermediária à outra.
Dorival Júnior deveria experimentar outra formação no meio campo e escalar um trio com um volante mais centralizado (Bruno Guimarães ou André) e um meio-campista de cada lado (Gerson e Paquetá), em vez da formação habitual, que foi usada na Copa América, com dois volantes em linha e mais Paquetá entre os dois e o ataque.
Nessa nova estratégia, a equipe teria três jogadores marcando no meio campo e dois dos três avançando (Paquetá e Gerson). Na formação anterior, o time se defendeu com apenas dois no meio campo e avançou apenas com o meia ofensivo (Paquetá).
Na formação com apenas dois jogadores no meio campo, é essencial ter pontas que voltam para marcar. Na Copa América, como Vinicius Junior estava sempre no ataque, sem voltar para marcar pela esquerda, o lateral ficava desprotegido, o que obrigava um dos volantes a se deslocar para o lado, deixando grandes espaços pelo centro. Uruguai e Colômbia pressionavam na marcação e tomavam a bola com facilidade dos dois volantes e dos dois laterais.
Não ficar com a bola no meio campo foi a deficiência principal da seleção. Gerson e Paquetá, por serem mais hábeis, podem diminuir esse problema, ainda mais com a companhia de um volante mais centralizado.
A grande dúvida é se Gerson vai ter na seleção o mesmo destaque que possui no Flamengo. Inúmeros jogadores, desde a década de 60, que brilhavam nos clubes, não foram bem na seleção por variados fatores, como a comparação com outros jogadores, por não se sentirem à vontade e muitas outras razões que fogem à nossa compreensão.
Assim como a seleção, vários clubes brasileiros têm dificuldade em manter a bola no meio campo. Com isso, usam demais as bolas longas da defesa para o ataque, como ocorre com o Atlético-MG. A equipe joga com dois alas abertos, dois atacantes pelo centro e mais um meia ofensivo e deixa apenas um ou dois jogadores no meio campo, que não conseguem ficar com a bola.
Também nesta quarta, o Atlético-MG enfrenta o São Paulo, no Morumbis, pela Copa do Brasil. O São Paulo melhorou a qualidade individual com boas contratações e também o jogo coletivo após a chegada do novo técnico (Zubeldía). A equipe alterna velocidade com posse de bola e troca de passes no meio campo.
Ter a bola é essencial, o básico para qualquer equipe. Obviamente não é o bastante. É necessário ter talento individual e capacidade de, no mesmo jogo, alternar a troca de passes, a posse da bola com jogadas rápidas em direção ao gol. Essa é a tendência mundial.
Ter ou não ter a bola, eis a questão.
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/02/futebol-brasileiro-impasses.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário