O jogo é sempre planejado, mas, com frequência, surge um artista para mudá-lo
Quando a partida começa a ficar previsível, repetitiva, excessivamente tática e chata, aparece um craque
Tostão/Folha de S. Paulo
A triste morte do jogador uruguaio Juan Izquierdo, 27, decorrente de uma parada cardíaca por causa de uma arritmia, após passar mal durante o jogo no Morumbi entre Nacional e São Paulo, é um aviso, um alerta de que os clubes precisam ser rigorosos nas avaliações médicas dos atletas, embora alguns possam ter exames normais. A arritmia tem várias causas com gravidades diferentes.
Felizmente, Tite está ótimo após ter uma arritmia benigna por causa da altitude de La Paz. É um absurdo a Conmebol punir o Flamengo e Tite pela sua opinião científica de que é melhor chegar horas antes do jogo, contrariando a regra da Conmebol de que todos os times têm que chegar à véspera da partida por causa de promoções protocolares do jogo.
O jogador Eriksen teve uma parada cardíaca, anos atrás, em um jogo da Dinamarca pela Eurocopa, foi ressuscitado imediatamente no gramado por meio de um desfibrilador. Ele continua jogando graças a um marca-passo e um desfibrilador portátil implantado no seu corpo.
A ciência esportiva trouxe grandes benefícios ao futebol, nas partes médica, física, técnica, estratégica e emocional. Porém, no futebol, na política e no mundo, existem sempre os negacionistas que não acreditam ou fingem que acreditam para não ser desacreditados. Há também o outro lado, os que acham que tudo é programado. Quando acontece uma jogada diferente, inesperada, falam que foi tudo ensaiado. A ciência não anula o acaso.
"Tudo parece fácil e concatenado quando ganhamos; tudo parece disperso e difícil quando perdemos. No entanto, é por tão pouco que se ganha ou se perde. O apito final estabiliza violentamente aquilo que, no transcorrer do jogo, parece um rio catastrófico de mil possibilidades, a nos arrastar com ele." (Nuno Ramos, artista plástico).
Analistas costumam procurar uma única explicação sobre tudo o que acontece no jogo. As muitas contusões musculares que têm acontecido no futebol brasileiro são, principalmente, por causa do excesso de jogos. Mas não é só isso. O futebol intenso, moderno, em que os jogadores não param de correr e ultrapassam os limites físicos, contribui também para os problemas musculares.
Um leitor, com uma educada crítica, questionou-me se não valorizo demais o acaso. Pode ser verdade, mas isso não diminui a importância que dou à ciência, à técnica, à estratégia e à arte de jogar futebol. Com o passar do tempo, ficamos mais receosos, mais vulneráveis às armadilhas e surpresas do imponderável.
Com frequência, não há sincronia entre o resultado e a história de um jogo. Dezenas de imprevistos, como uma bola que bate em alguém e entra no gol, uma expulsão, um erro do árbitro, mudam as atuações e o placar. Depois da partida, tentamos explicar com detalhes técnicos e táticos o que não tem explicação, mesmo com ótimos argumentos.
No meio de semana, pela Copa do Brasil, tivemos quatro jogos equilibrados, com vitórias de dois mandantes e dois visitantes, com todas as partidas decididas nos detalhes. As estratégias usadas pelos treinadores do Flamengo e do Atlético-MG foram corretas, científicas, e funcionaram bem, por jogarem fora de casa, priorizando a marcação mais recuada e os contra-ataques.
O jogo é sempre planejado, ensaiado. Mas, quando ele começa a ficar previsível, repetitivo, excessivamente tático e chato, surge, ainda bem, com frequência, o acaso, um craque, um artista para transgredir e reinventá-lo.
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