Alternativas bem-vindas num espaço perigosamente monopolizador
Enio Lins
Dentre as notícias importantes engolidas por outras grandes manchetes nas últimas semanas (desde os destaques do G20, até as provas das tentativas de golpes bolsonaristas), um fato vital para a economia e soberania brasileira passou praticamente despercebido: o surgimento de uma alternativa viável ao temerário monopólio da Starlink na esfera dos satélites de baixa altitude.
INDICADO
Resta relembrar ser essa demanda uma questão própria do capitalismo, nada tendo a ver com o matiz puramente ideológico tão em alta. Afinal, a busca pela concorrência comercial é algo típico do modo capitalista de vida, pois o monopolismo comercial, pelas teses liberais, é um pecado capital imperdoável. Além dessa questão comercial, considerada um direito do consumidor, existem as temáticas da segurança & soberania nacional – tão caras aos patriotas de plantão. Eis a questão: precisamos de mais de um link para as estrelas (e/ou para o solo, no caso).
CONTRAINDICADO
Além de ser recomendável, dentro do capitalismo vigente, ter-se mais de uma opção comercial para qualquer produto, é altamente desaconselhável ficar na mão de um fornecedor instável e inconfiável, de personalidade centralizadora e autoritária, de confessados interesses políticos, e de notória prática antiética. Falamos do esfuziante multibilionário Elon do X, proprietário da pretensa monopolista Starlink, empresa hoje única fornecedora de serviços essenciais de monitoramento via satélite para áreas estratégicas brasileiras. Quando o STF triscou, muito de levinho, nos contratos da Starlink no Brasil, foi um deus nos acuda. Ali tem coisa...
PERIGO GRANDE
Apois a tal Starlink é a única fornecedora de serviços essenciais da tecnologia de cobertura por satélites de baixa altitude para o Brasil. A empresa de Elon do X controla detalhadamente tudo na região amazônica, região onde a Starlink entrega a quem possa pagar desde o simples acesso às redes de telefonia digital até informações privilegiadas sobre localização de jazidas minerais, pistas de pouso... entenderam, né? E controla também o georreferenciamento náutico para a navegação nas costas brasileiras de forma que (podemos supor), além de uma jangada a usar um mísero GPS, nossa Marinha de Guerra possa estar na algibeira de um político estadunidense. Como interrogaria Galvão Bueno: “Pode isso, Arnaldo?”
LUZ NO TÚNEL
Há uma semana, no dia 19, o Ministério das Comunicações do Brasil assinou um magote de acordos com a empresa chinesa SpaceSail e com a Administração Nacional de Dados da China. A BBC informou que “a SpaceSail está desenvolvendo um serviço de internet de alta velocidade por meio de um sistema de satélites de órbita baixa da Terra (LEO, por sua sigla em inglês). Já a Administração Nacional de Dados da China apoia iniciativas de cidades inteligentes e desenvolve a infraestrutura digital”. Um enorme alívio, pois, como até a pouca leitura fundamentalista (à direita, ao centro, e à esquerda) pode entender, os interesses estadunidenses e chineses terão de se preocupar com a concorrência, saindo cada qual da zona de conforto monopolista. Mas, e os segredos no geomapeamento? Não existem para as grandes potências.
PERSPECTIVAS
Informa a BBC Brasil: “A SpaceSail é uma empresa privada chinesa sediada em Xangai e atua no mercado de internet banda larga provido por satélites de órbita baixa. Atualmente, a companhia conta com 18 satélites, mas seus planos incluem o lançamento de até 15 mil até 2030. A título de comparação, estima-se que a Starlink tenha 6 mil”. Ótimas perspectivas, gente.
Leia: "Mergulhar fundo para avançar na superfície" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/11/meu-artigo-no-portal-da-fundacao.html
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