Falsa rebeldia neofascista
Luciano
Siqueira
O discurso anti-establishment é uma componente do fascismo sempre.
Fez parte do ideário de Hitler e Mussolini e seus assemelhados no século
passado.
Retorna nessa terceira década do século 21 com a mesma essência, embora
a roupagem possa ter alguns traços peculiares de agora.
Trata-se de condenar em regra o que está estabelecido e atrair multidões
de incautos, especialmente numa faixa da população entre 40 e 55 anos (segundo
algumas pesquisas) frustrada em seus planos de vida.
E assim passar a impressão de que algo novo poderá substituir a ordem
estabelecida, inclusive negando em regra a prática política vigente, para
passar o conto do vigário de que algo inteiramente novo está por
acontecer.
É a falsa rebeldia neofascista, cuja essência está na manutenção do
status quo por regime ditatorial, sob hegemonia militar ou não.
O governo Bolsonaro foi um ensaio dessa lorota. Propunha-se erradicar a
denominada "velha política" e substituí-la por algo inteiramente
novo, porém na prática assumiu todas as características da velha política ultra
conservadora brasileira.
Não é à toa que o então presidente praticamente transferiu as rédeas do
governo ao núcleo dirigente do "centrão" dominante na Câmara dos
Deputados e no Senado.
É nesse contexto ilusionista que o próprio Bolsonaro e o ex-coach
Marçal, emergente recém-candidato à prefeitura da capital paulista, disputam
espaço.
Ambos primam pelo uso refinado do que se tem chamado guerra cultural e
discurso do ódio e nas redes sociais e através de estamentos razoavelmente
disciplinados que se prestam a difundir seu ideário, tais como polícias
militares e civis, evangélicos neopentecostais e parcelas das Forças Armadas.
Entrementes, as próprias contradições na corrente neofascista, que tendem
a se acirrar na perspectiva da eleição presidencial de 2026, contribuem para
revelar abertamente a essência do neofascismo brasileiro, tornando-o mais
vulnerável a crítica sistemática do pensamento progressista e de
esquerda.
Este é um embate que em parte se fez presente eleições municipais e
tende a se acirrar, inclusive sob o impacto das revelações da trama golpista na
peça de indiciamento do ex-presidente e de cerca de 70 asseclas, produzida pela
Polícia Federal.
Leia sobre mercado financeiro e fascismo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/12/pressao-midiatica-rentista.html
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