Cinema brasileiro e nacionalismo autêntico: reflexões a partir de Ainda Estou Aqui
Filme reacende debate sobre como o cinema brasileiro construiu um sentimento nacional baseado na diversidade, memória e identidade coletiva.
Thiago Modenesi/Vermelho
O recente sucesso do filme Ainda Estou Aqui reacendeu discussões sobre o papel do cinema na construção de um nacionalismo autêntico, enraizado na diversidade e no pertencimento cultural. A obra, ao retratar histórias locais com universalidade emocional, conecta-se a uma tradição histórica do audiovisual brasileiro, que sempre serviu como espelho e alavanca para a identidade nacional.
Desde os primórdios, com experimentos como Limite (1931), de Mário Peixoto, até as chanchadas dos anos 1940-50, que celebravam o humor popular, o cinema brasileiro buscou dialogar com as contradições e afetos do país. Nos anos 1960, o Cinema Novo radicalizou essa missão, com diretores como Glauber Rocha transformando a fome, a fé e a resistência em estética revolucionária, propondo uma arte “feita de sangue e sonho”. Nas décadas seguintes, mesmo sob censura, filmes financiados pela Embrafilme mantiveram viva a chama de narrativas que questionavam desigualdades e celebravam a pluralidade brasileira.
A retomada dos anos 1990, com obras como Central do Brasil (1998) e Cidade de Deus (2002), projetou internacionalmente um Brasil complexo, onde a violência e a poesia coexistem. Essas produções não eram apenas entretenimento, convidando à reflexão sobre quem somos, um traço que “Ainda Estou Aqui” parece herdar, ao mesclar crítica social e afeto pelas raízes culturais.
A cultura, nesse contexto, atua como vetor essencial para um nacionalismo não excludente, mas fundado na memória coletiva. Quando o cinema amplifica vozes regionais, expõe lutas históricas e humaniza personagens marginalizados, ele tece um imaginário de pertencimento. Não se trata de ufanismo cego, mas de um autorreconhecimento crítico, onde a diversidade é a verdadeira essência da nação. Assim, cada filme torna-se um ato político: ao contar nossas próprias histórias, afirmamos que o Brasil é, acima de tudo, um projeto contínuo de autodescoberta.
E aí reside o verdadeiro sentimental nacional, retratado em cada história, cada narrativa, trazendo um pedaço de cada nuance de nosso país, algo pautado na arte, na sensibilidade, que mexe nos corações e nas mentes das pessoas, trazendo uma sensação de pertencimento amparada no amor, na admiração e naquela convicção de sermos parte daquele Brasil plural, multifacetado, simples e complexo ao mesmo tempo, trazido e embalado em cada filme nacional já exibido.
[Se comentar, assine]
Leia: Comunicação digital entre a virtude e a culpa e a luta política https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao_13.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário