Sobre as ilusões do purismo ideológico e a realidade das frentes amplas
Enio Lins
COMBATER A TENDÊNCIA
CRIMINOSA do bolsonarismo não é missão exclusiva da esquerda e/ou da
centro-esquerda. Essa tarefa estratégica, democrática, precisa ser muito mais
ampla, e o é, independente das idiossincrasias de quaisquer naturezas. Para se
vencer a corrente de extremo-banditismo centralizada em Jair Falso Messias, se
faz necessário unir, em termos de forças político-ideológicas, o mais
diversificado espectro de forças, reunindo parcelas da direita (sim, parcelas à
destra), do centro, centro-esquerda, esquerda e extrema-esquerda. Não se trata
de alcançar “mais amplo possível”, mas ter como meta ir além do “mais amplo
impossível”.
NÃO CONFUNDA “BOLSONARISMO” com quem, eventualmente, vota ou votou
no energúmeno, em função de quaisquer circunstâncias que não seja a total
adesão ao ideário do falso messias. Existe sim, a deformação bolsonariana raiz,
patologia social caracterizada pela devoção total ao mito criminoso, e isso não
é aleijão pequeno, é mácula grande e provavelmente irreversível. Mas o voto
transitório no capitão de milícias precisa ser recuperado para a Democracia, e
acomodado, respeitosamente, em qualquer das faixas do multicolorido espectro
democrático.
ROTULADA COMO ESQUERDA X DIREITA, a dicotomia entre Lula x Jair tem
nessa classificação errônea e maliciosa um acento perverso que beneficia
exclusivamente Jair Messias e sua quadrilha. Beneficia como? Ora, o eleitorado
conservador sempre foi majoritário no mundo, e não apenas no Brasil, e se a
triste figura do “pobre de direita” não existisse antes mesmo de existirem
eleições, a revolução de “quem mais precisa” já teria eclodido há muitos
séculos, e viveríamos num mundo mais justo e igualitário, talvez, desde o fim
da escravatura como forma de produção, e antes mesmo da Revolução Francesa ter
estabelecido os termos políticos-ideológicos “esquerda e direita”.
DEMOCRACIA X BANDITISMO é a luta da hora. No Brasil isto é
traduzido, hoje, como a guerra Lula x Jair. Mais adequadamente, essa peleja da
civilização contra o crime organizado deve ser definida, em termos de nomes,
como “qualquer democrata x Jair & quadrilha”. Luiz Inácio não viverá para
sempre, nem Jair, mas o falso messias dispõe de uma enfieira de herdeiros aptos
para mais umas cinco eleições adiante (já se digladiam entre si) e a Democracia
não tem nome viável além de Lula e este não tem como ir além de 2026.
Terrivelmente assim. E se as esquerdas seguirem acreditando ser a Rainha da
Cocada Preta (e os petistas só votando no PT) o crime organizado bolsonarista
reconquistará o Planalto com facilidade, o que será uma grande tragédia, e de
impacto internacional.
E TEM MAIS: estamos falando até aqui apenas na eleição para a
presidência, um marco em qualquer país republicano, mesmo que parlamentarista.
No caso específico do Brasil, onde foi cevado um semipresidencialismo e/ou
semiparlamentarismo (um monstro de enorme periculosidade e apetite descomunal),
as dificuldades para se alterar a composição do parlamento nacional são uma
tragédia a mais, pois o povo insiste em votar num congresso que é, cada vez
mais, inimigo do povo. A despolitização nas escolhas proporcionais pode levar o
Estado Democrático de Direito a uma crise fatal, pois o extremo-fisiologismo
passou a ser um tumor maligno que corrói a autoridade constituída, o
planejamento governamental e as finanças públicas – mas sobre esse democracinoma falaremos
noutro dia. Por hoje fiquemos nos riscos que sobrevoam o Palácio do Planalto
para 2026, sem se esquecer da disputa pelas preciosas vagas na Câmara e Senado
federais (voltaremos a esse tema específico em seguida), a batalha principal –
especialmente depois da entrada de Trump no palco – voltou a ser a luta para
manter longe da presidência da República qualquer delinquente integrante da
quadrilha bolsonarista.
Se comentar, identifique-se https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/participe.html
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