Uma frase do procurador Roberson Henrique Pozzobom, durante a coletiva
na qual detalhou a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
nesta quarta (14), foi mais útil em explicar o que se passava do que todos os
gráficos de Power Point que ele utilizou. “Não teremos aqui provas cabais de
que Lula é efetivo proprietário do apartamento”, disse.
Por Joana Rozowykwiat, no Vermelho
Por Joana Rozowykwiat, no Vermelho
Em meio à
apresentação, repleta de setas, quadros e tabelas, os procuradores da Lava Jato
informaram que Lula é denunciado por corrupção ativa, passiva e lavagem de
dinheiro. Segundo eles, há a “convicção” de que o ex-presidente teria recebido
propinas “de forma dissimulada”, por meio de benefícios, “troca de favores”.
Especificamente, nas reformas de um apartamento triplex no Guarujá e de um
sítio em Atibaia e no custeio do armazenamento de seus bens.
Toda a firula
visual não foi suficiente para fazer com que o expectador que assistia à
transmissão ao vivo pela Globonews descobrisse, afinal, o que comprova que Lula
teria cometido tais crimes. Como disse Pozzobom, não há provas. Mas há
convicção.
Os
procuradores esforçaram-se para, de certa maneira, reeditar o que se passou no
impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Na ausência das tais provas cabais,
apelaram para “o conjunto da obra” – a tentativa de associar Lula e o PT a tudo
de ruim que possa ter acontecido na política recente brasileira.
Do Mensalão à
corrupção na Petrobras, recentes escândalos envolvendo políticos e empresários
foram resgatados, em discursos que faziam coro com os antipetistas mais
intolerantes.
Durante cerca
de uma hora, senhores engravatados, escudados pela aparente imparcialidade dos
que chegaram ao cargo pelo concurso público, se revezaram para acusar Lula de
ser o “comandante máximo” do esquema de corrupção. Afinal, ele tinha que saber
de tudo, pois era o presidente da República. Se pessoas indicadas por partidos
aliados cometeram irregularidades, o petista tinha que ser responsável, porque
as nomeações visavam encher os cofres do partido, discursaram.
Prova de tudo
isso, da materialidade do crime e da autoria, aí não teve, não. “Provas são
pedaços da realidade que geram uma convicção”, disse um inacreditável
coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol. Ao que parece, era mais uma
questão de convicção mesmo. Aquela coisa de fé.
Em resumo,
procuradores convocaram uma entrevista coletiva para anunciar que ofertaram uma
denúncia contra um ex-presidente, contra o qual não conseguiram, até então,
nenhuma prova firme de que tenha cometido crime. E, até onde se sabia, em um
Brasil recente no qual as leis eram relativamente respeitadas, as acusações
precisavam evidenciar que os eventuais benefícios que Lula tenha recebido são
mesmo fruto dessa tal “troca de favores”.
Ocorre que os
procuradores continuaram sem mostrar que Lula é sequer dono do apartamento no
Guarujá. Embora o frequentasse, também não é proprietário do sítio em Atibaia
e, mesmo que as obras no local tenham sido feitas para agradar o líder político
– o que pode ser moralmente questionável –, ao que parece, isso não significa
crime, caso não se confirme que os recursos usados pela empresa tiveram origem
em desvios da Petrobras. O mesmo se aplica ao caso do armazenamento dos bens.
É por isso
que a frase do procurador, citada no início desse texto, explica bem o que se
passa: confirma que o golpe que afastou a presidenta eleita Dilma Rousseff
ainda está em curso e tem como próxima etapa inviabilizar uma candidatura de
Lula em 2018.
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