Luciano
Siqueira, no Blog da Folha
A poucos dias do primeiro turno das eleições
municipais, pesquisas indicam percentuais elevados de eleitores ainda desinteressados
em relação à campanha e tendentes a não comparecer às urnas ou a votar branco
ou nulo.
No ambiente
de profunda crise econômica, social e institucional, de corrosivo desgaste de
partidos e de importantes detentores de mandato, é natural que assim seja.
Entretanto,
identifica-se uma franja considerável de eleitores que, embora revoltados,
movem-se pela consciência da importância do voto.
Aí
reside paradoxalmente a chance de renovação das Câmaras Municipais, em geral de
perfil localista e conservador - fenômeno que envolve, inclusive, grandes e
médias cidades.
Certa
vez, presidi no Recife a abertura de um encontro nacional de secretários de
finanças das capitais. Na ocasião, pude conversar com o ex-ministro do
planejamento João Sayad, então secretário de finanças de São Paulo.
O
ex-ministro do governo Sarney se dizia satisfeito com a nova experiência, que
lhe permitia ver as coisas acontecerem na ponta, ou seja, na esfera do poder
local.
A
dinâmica da cidade lhe era assim muito mais perceptível do que ao olhar
distante dos gabinetes de Brasília.
Por
outro lado, me dizia Sayad, enfrentava o dissabor da convivência com uma
maioria de vereadores muito mais interessada no seu nicho eleitoral do que
propriamente na abordagem dos problemas cruciais da cidade e do seu futuro.
Isto na
cidade mais desenvolvida do país!
Agora,
a composição essencial da imensa maioria das Câmaras Municipais certamente não
se alterará, porém o ambiente de crise e de insatisfação pode parir uma nova
leva de representantes advindos de setores sociais mais atentos ao que ocorre
na vida da cidade e no país.
É o voto
da consciência e da confiança, conquistado num corpo a corpo marcado pela troca
de impressões e pela afirmação de compromissos dos candidatos.
Ainda
que a concorrência com o voto obtido pelos meios convencionais — ditos
assistencialistas e "fisiológicos" — permaneça desigual, em relação
direta com o nível de consciência de organização do povo, a renovação em certa
medida é possível.
Aos que
disputam o voto considerado mais esclarecido resta expectativa de que seus
apoiadores efetivamente peçam o voto às pessoas com as quais convive nos
diversos ambientes que frequentam.
Um
gesto muito simples, ao alcance de todos e ao mesmo tempo poderoso.
É a
contribuição individual para o tão necessário aprimoramento da vida política na
atual quadra crítica que o Brasil atravessa, a partir da base da pirâmide — a
cena política local.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário