Prazo decisivo para
a candidatura de Lula
Cintia Alves,
Jornal GGN
Se não
substituir Lula por um plano B até o dia 11 de setembro, prazo dado pelo
Tribunal Superior Eleitoral, o PT corre o risco de ficar sem candidato. É o que
informa reportagem da Folha desta terça (4).
Segundo o
jornal, na noite de segunda (3), o advogado Luiz Fernando Casagrande Pereira,
que defende o PT no TSE, avisou o conselho político da campanha que há um
"risco de perda de registro da candidatura petista" na estratégia de
recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra o indeferimento de Lula.
Para o
leitor compreender o impasse:
A estratégia
eleitoral do PT, de levar a candidatura de Lula até as últimas consequências,
foi planejada em duas frentes: uma no Tribunal Superior Eleitoral e outra no
Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça.
No TSE, a
defesa apontaria centenas de casos de políticos que foram eleitos na mesma
situação de Lula, conseguiram reverter a "inelegibilidade provisória"
imposta pela condenação em segunda instância e assumiram o cargo. Ou seja:
insistiria que há jurisprudência que permitiria a Lula concorrer mesmo
condenado e preso. Que negar isso ao petista seria transformá-lo em exceção. O
argumento central é que Lula tem direito a recursos contra o caso triplex em
instâncias superiores.
No STJ e no
STF, a defesa na área criminal buscaria a suspensão do efeito da
inelegibilidade sobre Lula. Em entrevista ao canal Tutaméia, no Youtube,
Pereira explicou que as duas ações estavam amarradas e o sucesso de Lula no TSE
dependeria da liminar do STJ ou STF.
Contudo,
conforme exposto por Pereira no julgamento do registro de Lula no TSE no dia 31
de agosto, a defesa de Lula desistiu de recorrer ao STF e STJ em busca da
suspensão da inelegibilidade. E isso ocorreu porque a banca do advogado
Cristiano Zanin havia demandado, em Genebra, ao Comitê de Direitos Humanos da
ONU, uma liminar para soltar o ex-presidente e garantir sua participação da
eleição. Havia expectativa de que a liminar viesse antes do julgamento do
registro de Lula no TSE. E, de fato, veio em 17 de setembro.
A liminar
obrigada o Estado Brasileiro, com base no Pacto Internacional de Direitos Civis
e Políticos, a adotar as "medidas necessárias" para que Lula dispute
a Presidência em 2018, mesmo que continue preso em Curitiba (o Comitê da ONU,
portanto, atendeu parcialmente ao pedido da defesa do ex-presidente).
Antes de ver
a liminar ser derrotada por 6 votos a 1, Pereira afirmou aos ministros do TSE que
a defesa confiava que a determinação do Comitê da ONU não seria em nenhuma
hipótese desrespeitada pelo Judiciário brasileiro, uma vez que o Pacto foi
internalizado - ou seja, virou lei doméstica - em 2009, por meio do Decreto
Legislativo 311.
Eis que o
papel do Judiciário, da mídia e do governo Temer - que trataram de esvaziar o
poder do Comitê da ONU - na inabilitação de Lula a qualquer custo - inclusive o
de um vexame internacional, em clara demonstração de que o País atravessa uma
crise institucional - foi subestimado.
Ainda na
segunda, o PT anunciou, por meio de Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann, que Lula
vai recorrer ao Comitê de Direitos Humanos, em busca de uma resposta para a
decisão do TSE, que desrespeitou o Pacto Internacional.
Em outra frente,
a defesa de Lula vai ao Supremo para saber se o TSE tinha o direito de
desrespeitar a liminar.
O recurso no
STF também demanda uma decisão em liminar para garantir que Lula permaneça
candidato até que a Corte se manifeste.
Ocorre que,
mesmo que o Supremo conceda a liminar, o PT tem até o dia 17 de setembro, no
máximo, para fazer a substituição de Lula. É o prazo final para informar à
Justiça Eleitoral o nome que vai aparecer na urna no dia 7 de outubro.
Pelo que
informa a Folha, se o Supremo deixar para julgar o mérito do recurso do PT
contra o TSE depois do dia 17 de setembro, o partido vai perder o prazo e ficar
sem candidatura.
Por isso,
"segundo petista, muito a contragosto, Lula tem admitido a possibilidade
de substituição no dia 11 mesmo que seja acolhido, em caráter liminar, um
recurso apresentado pelo partido ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela
manutenção de sua candidatura", anotou o jornal.
O risco é
tal que lideranças do PCdoB teriam pressionado o PT a fazer a troca até dia 11,
para assegurar a chapa na qual Manuela D´Ávila será a candidata a
vice-presidente, acrescentou o jornal.
Pelo
desenrolar da trama até aqui, o plano mais radical - aparentemente já
abandonado quando o PCdoB decidiu apoiar o PT na empreitada - de levar Lula às
urnas mesmo sub judice restou inviável, sob o risco da coligação ficar sem
presidenciável. "Com (recurso no) Supremo, com tudo."
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