10 fevereiro 2019

Criatividade em baixa


Ad Reinhardt
Futebol brasileiro é arcaico, com excesso de chutões e de jogadas aéreas
No esporte e também na vida, é preciso conhecer os riscos e temê-los

Tostão, na Folha de S. Paulo

Na coluna anterior, escrevi que os times dirigidos pelo técnico argentino Jorge Sampaoli, como o Santos, correm muitos riscos. Falei ainda que melhor assim do que a medíocre regularidade de outras equipes. Obviamente, ser regular e jogar em alto nível é o ideal. Isso é para poucos.
Uma das funções dos treinadores é administrar bem os riscos. Contra o Talleres, em Córdoba, o técnico André Jardine, do São Paulo, formou um time seguro, pois o empate seria bom. Deu errado. Se arriscasse mais, talvez o resultado fosse melhor. Jardine fez o que a maioria dos outros treinadores brasileiros faria.
Os argentinos pressionaram quem estava com a bola e não deixaram o São Paulo trocar três passes seguidos. Isso acontece, com frequência, quando os brasileiros enfrentam equipes da Argentina. Foi o que fez o Santos contra o São Paulo pelo Campeonato PaulistaO Boca fez o mesmo contra o Palmeiras, no ano passado.
Colocar toda a culpa no jovem técnico do São Paulo é cruel. Achar que trocar um jogador por outro seria a solução é pensar, como sempre, que os treinadores são os únicos responsáveis por tudo o que acontece durante o jogo. Também não faltou garra, e sim talento individual e coletivo. Os times que pressionam e correm atrás para recuperar a bola são muito mais vibrantes que os adversários, que, anulados, se tornam apáticos.
O que é preciso ser discutido profundamente pela crônica esportiva, pelos dirigentes e, especialmente, pelos treinadores, é a razão de os grandes clubes brasileiros gastarem fortunas na formação dos elencos e, com frequência, não serem superiores aos rivais médios sul-americanos.
Apesar do discurso moderno e científico dos jovens e veteranos técnicos brasileiros, o que vejo, na maioria das vezes, é um futebol arcaico, com excesso de chutões, de jogadas aéreas, de pouca troca de passes desde a defesa, com os zagueiros encostados à grande área e com grandes espaços entre os setores. 
A falta de tempo, por causa da frequente troca de treinadores, e o calendário ruim do país são importantes, mas não podem ser álibis, para esconder a incompetência dos treinadores.
Os riscos são importantes, no futebol e na vida. É preciso conhecê-los e temê-los. Há uma tendência, em todas as atividades, de usar rotinas, seguir manuais e achar que tudo está bem, quando um time vence ou quando não há nada aparentemente errado. 
As pessoas se acostumam com os riscos e os perigos. Isso leva a um relaxamento e a condutas automáticas. O relaxamento está próximo da negligência e da irresponsabilidade.
Um especialista em barragens disse, na televisão, que as medidas de segurança, mesmo quando tudo parece em ordem, deveriam ser tomadas como se fossem doentes no CTI, obsessivamente monitorados, o tempo inteiro. 
O mesmo cuidado deveria existir no Rio de Janeiro, na época do verão, pela possibilidade de haver extraordinárias chuvas e ventos.
As imagens mostradas pelas TVs, de um belo gramado esverdeado, com as pessoas andando tranquilamente, uma fração de segundos antes do rompimento da barragem de Brumadinho, é um retrato da instabilidade e insegurança das coisas.
A ansiedade é uma sensação indefinida, uma tensão, um medo, imaginário e/ou do que não sabemos o que é. Não devemos ser muito ansiosos, pois faz mal à saúde, mas precisamos ficar atentos, alertas, diante das incertezas.
Minha solidariedade às famílias das vítimas de tantas tragédias que abalaram o Brasil neste começo de ano.
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