02 maio 2020

Aos combatentes da linha de frente

Um viva aos trabalhadores da saúde
José Ambrósio*


Hoje, sexta-feira 1º de maio, Dia do Trabalho ou Dia Internacional dos Trabalhadores, faço (e acredito que todos os brasileiros) uma homenagem a quem trabalha nas atividades consideradas essenciais, em especial aos profissionais da área da saúde. Essa gente abnegada que vem salvando muitas vidas e até dando a própria vida na corrida para conter e vencer a pandemia causada pelo novo coronavírus. Um trabalho intenso devido à velocidade e gravidade da enfermidade. E tenso, muito tenso, principalmente nos últimos dias quando, com a taxas de ocupação dos leitos de UTI no limite, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) divulgou recomendação com definição de critérios de prioridade de internação dos pacientes infectados com a covid-19.

Pense! É muito difícil essa escolha, minha gente!

Um dos estados com maior número de ocorrências, Pernambuco registra na tarde de hoje 7.334 casos confirmados de covid-19 e 603 mortes, entre elas a primeira médica, Rosa Maria Papaléo, que vinha atuando na linha de frente do combate ao coronavírus até ser contaminada e falecer, ontem. Dos contaminados, 1.095 se recuperaram. E quando isso acontece, mesmo exaustos, pode-se constatar a alegria das equipes médicas como ocorreu em Petrolina, no sertão do São Francisco. Com o avanço da recuperação de Jéssica, o médico Pedro Diniz a “tirou” para dançar a música “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, ainda na UTI do Hospital Universitário, diante de integrantes da equipe médica. “A relação terapêutica é sempre mútua. Nós a ajudamos e ela nos ajudou”, disse o médico à imprensa depois que o vídeo por ele publicado viralizou.

A situação é tão grave que o governador Paulo Câmara prorrogou, ontem, a quarentena. Com isso, as atividades econômicas consideradas não essenciais continuam suspensas até o dia 15 de maio. O acesso às praias e aos calçadões das avenidas situadas nas faixas de beira-mar e de beira-rio, assim como aos parques para prática de qualquer atividade permanece proibido também até o dia 15 de maio. Já o reinício das aulas nas escolas, universidades e demais estabelecimentos de ensino público e privado está previsto para o dia 31 deste mês. “O isolamento social por mais um tempo também traz perdas. Mas diminui as perdas irrecuperáveis, que são as vidas humanas”, considerou o governador. Uma atitude responsável que ainda tem o apoio de mais da metade dos brasileiros, conforme pesquisa DataFolha.

Isso a despeito da atitude do presidente Jair Bolsonaro, que tudo faz para que o povo volte às ruas, sob o pretexto de que “o Brasil não pode parar”.

E daí?

Pois é, e aí, como aceitar o descaso daquele que tem o dever de cuidar de uma nação e foge da responsabilidade mesmo assistindo diariamente à aflição de milhões de brasileiros e o lamento pelas mais de seis mil mortes já confirmadas pela covid-19 no Brasil? O que o presidente Bolsonaro disse tratar-se apenas uma gripezinha continua sendo considerada uma emergência de saúde internacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No mundo, as mortes passam de 233 mil, de acordo com a universidade norte-americana Johns Hopkins.

Mesmo confessando não saber o que fazer diante das centenas de mortes diárias que já na terça-feira 28.04 superava o número de mortes ocorridas na China (“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre”, respondeu a uma repórter naquele dia), Jair Messias Bolsonaro continua minimizando a gravidade da doença. Pior, prossegue estimulando a volta das pessoas às ruas, quando o próprio novo ministro da Saúde, Nelson Teich, mesmo timidamente, disse ontem não ser possível se iniciar a liberação do isolamento social com a curva de mortes provocadas pelo novo coronavírus em “franca ascendência”.

E daí? Hoje mesmo Bolsonaro disse que gostaria que todos voltassem a trabalhar e novamente isentou-se de responsabilidade ao completar dizendo não ser ele quem decide isso (o fim ou flexibilização da quarentena), mas sim os governadores e os prefeitos.

Enquanto isso os governadores e os prefeitos continuam adotando medidas restritivas à circulação das pessoas, alguns até aumentando a restrição. Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas anunciou que vai bloquear ruas e avenidas a partir da próxima segunda-feira (04), para forçar o isolamento social. Em 20 dias (entre os dias 09 e 29), as mortes triplicaram, passado de 450 para 1500. No Amazonas, o governador Wilson Miranda Lima poderá decretar o fechamento total do comércio se os casos de covid-19 não diminuírem até o dia 13 de maio. O que já ocorre na Região Metropolitana de São Luís (Maranhão), onde a Justiça determinou lockdown (bloqueio total) nas quatro cidades da Grande São Luís.

Eu continuo entre os 52% dos brasileiros que ainda apoiam o isolamento ou distanciamento social. E você, se puder, fique em casa.

Candeias, 1º de maio de 2020


*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras

Saiba mais https://bit.ly/2ySRLkm


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