Sindicalismo e eleições
Nivaldo Santana*, no
Blog do Renato
O Brasil vive uma
combinação de múltiplas crises, sem precedentes nas últimas décadas. A
principal delas é a grave crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19,
que já vitimou milhares de brasileiros. Alheio à tragédia, o governo Bolsonaro
subestima a gravidade da pandemia e em vez de medidas preventivas, como o
distanciamento social, ele se arvora em garoto-propaganda do medicamento
cloroquina, não recomendado pela OMS.
Ao
lado da crise sanitária, o país se vê engolfado em grave crise político-institucional,
provocada pelo desgoverno de Bolsonaro. Sua metralhadora giratória não perdoa
ninguém: Congresso, STF, governadores, imprensa e até alguns aliados. A
divulgação do vídeo de uma reunião ministerial, realizada em 22 de abril,
escancarou para todos o caráter do governo e suas tendências autoritárias. A
meta do governo parece ser uma só: mudar o regime político do país.
A
crise política e sanitária é alimentada pela regressão econômica. O Brasil
completa sete anos de estagnação econômica e este ano o PIB deve desabar. A
política ultraliberal e fiscalista do ministro da Economia está totalmente na
contramão. O mercado de trabalho é um dos mais impactados por ela. Dados do
IBGE para o primeiro trimestre deste ano apontam o desemprego de 12,9 milhões
(12,2%), subutilização de 27,6 milhões (24,4%) e informalidade de 36,8 milhões
(39,9%). Há um empobrecimento geral do país, sufoco para as micro e pequenas
empresas e diminuição das receitas tributárias dos Estados e municípios, que,
em última instância, são os principais responsáveis para enfrentar a pandemia.
Tudo
somado, as crises político-institucional, econômica, social e sanitária
conduzem o país a um impasse: de um lado, o governo Bolsonaro progressivamente
isolado vê diminuir a sua margem de manobra e flerta cada vez mais com atalhos
golpistas. De outro lado, a oposição cresce, mas ainda não logrou alcançar
força e unidade suficientes para aprovar o impeachment do governo e abrir novas
perspectivas para o país.
A
resultante é um ambiente político carregado de tensão. Mais do que nunca,
portanto, permanece válida e atual a necessidade de construção de uma ampla
frente de salvação nacional para defender a vida, a democracia, a economia
nacional, o emprego e os direitos básicos do povo. No front do sindicalismo,
deve-se persistir no fortalecimento do Fórum das Centrais Sindicais e nas
articulações junto ao Congresso Nacional, ao STF e aos governadores.
A
tarefa imediata é barrar as medidas provisórias regressivas do governo. Ao lado
dessas articulações e diante da impossibilidade atual de atos de ruas ou
atividades que envolvam aglomeração de pessoas, uma grande arma de atuação dos
dirigentes sindicais têm sido o uso de ferramentas digitais. Por meio delas, se
multiplicam reuniões, encontros, cursos de formação, palestras e uma série de
iniciativas que permitem manter ativa a atuação sindical.
Um grande exemplo foi
o ato de 1º de Maio virtual que atingiu milhões de pessoas. Mesmo para o
período pós-pandemia, prevê-se uma mudança importante nos paradigmas de atuação
do sindicalismo. Áreas estratégicas como comunicação, formação e organização
dos trabalhadores deverão usar bastante os meios digitais. Progressivamente,
mesmo congressos, plenárias, reuniões, eleições e outros eventos sindicais
serão realizados com o uso de plataformas digitais.
Essa
nova modalidade de atuação reforçará e complementará a militância corpo a
corpo. A tendência para o futuro imediato é a busca de um novo equilíbrio entre
as ações presenciais, sempre imprescindíveis, e o uso das plataformas digitais.
Os sindicalistas devem se preparar e se organizar para essas novas exigências.
No curto prazo, o
centro de nossa luta é derrotar Bolsonaro, sua política ultraliberal e seus
cada vez mais agressivos ataques à democracia. Com todas as limitações impostas
pela pandemia, temos que buscar formas e meios de perseverar na luta. Na agenda
deste ano, ao lado do esforço para aglutinar amplas forças sociais e políticas
para enfrentar o governo autoritário de Bolsonaro, é importante derrotar as
Medidas Provisórias que retiram direitos e ampliam o desemprego.
Simultaneamente, é fundamental se preparar as eleições municipais deste ano.
É
preciso reconhecer que, no geral, os sindicalistas subestimam a importância da
luta político-institucional e a representação dos trabalhadores no parlamento.
Em linha com as deliberações do 8º Encontro Sindical Nacional do PCdoB, é
imperioso dar mais ousadia e lançar candidaturas competitivas e com capacidade
política para assegurar a representação qualificada de quadros sindicais no
parlamento.
A
participação de sindicalistas nas eleições é parte integrante da luta mais
geral para assegurar protagonismo dos trabalhadores na atividade política e
impulsionar a construção da frente ampla em defesa da vida, da democracia e do
emprego.
*Nivaldo Santana é Secretário Sindical Nacional do
PCdoB, secretário de Relações Internacionais da CTB
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