É hora de flexibilizar a quarentena?
José Ambrósio*
O povo pernambucano, principalmente
quem reside nas cinco cidades da Região Metropolitana sob "lockdown".(Recife,
Olinda, Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço da Mata e Camaragibe) vive grande
expectativa. A quarentena tem prazo para se encerrar neste domingo (31.05), mas
o Governo estadual apenas sinaliza com mudanças graduais.
O secretário estadual de
Desenvolvimento Econômico, Bruno Schwambach, lembrou nesta sexta-feira que a
quarentena vai até domingo e disse que a população precisa aprender a viver
dentro de regras e protocolos que deverão divulgar até aquele dia (Domingo).
Ressaltou que o Governo tem um plano, mas que aguarda os dados da Secretaria de
Saúde. Segundo o secretário, entre o sábado e o domingo serão definidas quais
medidas poderão ser implementadas a partir da segunda-feira (1º de junho).
O plano do Governo de Pernambuco
prevê a reabertura gradual das atividades econômicas em um período de 11
semanas. Decretos que fecham parques, praias, calçadões de praias, escolas,
comércio, entre outras atividades, e inclusive a quarentena mais rígida nas
cinco das cidades da Região Metropolitana, podem ser renovados.
Sabemos que longe de animar, os dados
sobre a Covid-19 em Pernambuco são ainda muito preocupantes. Os casos
confirmados já somam 32.255 e os óbitos chegam a 2.669. O índice de isolamento
verificado ontem (quinta-feira) foi de 45,9% em Pernambuco. Bem distante do
índice de 70% defendido pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Recife
registrou 50,2%; Olinda 50,4%; São Lourenço da Mata 47,9%; Camaragibe 47,4% e
Jaboatão dos Guararapes 46,7%.
Difícil, não é mesmo?
Reportagem da BBC News Brasil
publicada hoje destaca que dezenas de estudos científicos apontam que medidas
de distanciamento social têm sido eficazes para reduzir o número de infectados
e mortos ou diminuir a sobrecarga dos hospitais. E faz a pergunta que no Brasil
e em outros países não quer calar: se a eficácia do distanciamento é consenso
entre especialistas, por que parte dos governantes e cidadãos pede seu fim? A
conclusão da reportagem é a que já conhecemos no Brasil: deve-se principalmente
por causa do custo socioeconômico desse fechamento, que gera desemprego e
empresas quebradas.
Prossegue lembrando que no Brasil e
nos Estados Unidos, os respectivos presidentes [Bolsonaro e Trump] contestam
também a eficácia da medida sob diversos argumentos, como o de que alguns
países tiveram milhares de casos mesmo com quarentenas e outros triunfaram sem
adotar esse distanciamento em massa. Para eles, a gravidade da doença não
justifica o confinamento de todo mundo, mas só dos grupos de risco — ainda que
isso seja inviável, segundo especialistas.
A publicação informa que de acordo
com alguns dos principais grupos de pesquisas de epidemia do mundo, quanto
menos gente circula nas ruas, mais devagar a doença se espalha. E quanto mais
cedo isso acontece, menos gente ficará doente no fim. Logo, é consenso entre
pesquisadores que o distanciamento físico entre as pessoas funciona, e o
principal problema agora é como sair dele. Segundo dois pesquisadores
americanos, para cada 1 ponto porcentual a mais de pessoas que fazem viagens
diárias não essenciais, aumenta em 7 pontos porcentuais o número de novos
casos.
Marcelo Gomes, pesquisador em saúde
pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e coordenador do InfoGripe, que
monitora os casos de covid-19 e outras síndromes respiratórias, cita como
exemplo a relação entre a adesão popular ao distanciamento social e o número de
internações por causa da doença.
Nas últimas duas semanas de março,
havia menos gente nas ruas brasileiras. Em seguida, percebeu-se uma diminuição
significativa nas internações e mortes. Semanas depois, o cenário se inverteu e
o número de pessoas fora de casa cresceu. Duas semanas depois, a quantidade de
gente internada aumentou consideravelmente.
Há impacto também no número de mortes
que poderiam ser evitadas. Dois cientistas da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) afirmaram que uma vida seria salva por minuto ao longo de duas
semanas caso o Brasil mantivesse o patamar de distanciamento social.
A BBC News Brasil aponta que, para
cientistas, o problema não é flexibilizar o isolamento, como defende parte dos
governantes e dos cidadãos. Ninguém da área científica defende longas
quarentenas, mas, sim, a reabertura com todos os cuidados necessários para
evitar novas ondas de casos, como testes em massa, rastreamento de infectados e
ter superado o pico de casos. Mas essa lição de casa o Brasil ainda não fez.
Na verdade, com 1.124 mortes
confirmadas entre ontem e hoje, o Brasil atingiu a marca de 27.878 óbitos pelo
novo coronavírus e tornou-se o quinto país com mais vítimas pela doença em todo
o mundo, ultrapassando a Espanha no total de mortes (27.121 óbitos), segundo
levantamento da Universidade Johns Hopkins. Segundo o balanço mais recente do
Ministério da Saúde, o Brasil registrou 26.928 novos diagnósticos nas últimas
24 horas e agora soma 465.166 casos confirmados de Covid-19.
A pressão pelo
relaxamento da quarentena é muito grande, mesmo com 60% dos brasileiros
declarando apoiar o "lockdown", conforme pesquisa Datafolha divulgada
na terça (26.05). De modo que, se você puder, fique em casa. (Candeias, 29 de
maio de 2020.)
*José Ambrósio é jornalista e
membro da Academia Cabense de Letras
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[Ilustração: OttoFreundich]
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