Anúncio em apoio a Salles aprofunda
divisão no setor agrícola brasileiro
Valor Econômico
A
divisão entre o agronegócio exportador, de um lado, e produtores e entidades
mais conservadoras, de outro, aprofundou-se ontem, com a publicação de um
anúncio em apoio ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. No áudio da
reunião ministerial de 22 de abril, Salles disse aos outros membros do governo
que num momento em que a imprensa está ocupada com a pandemia, há oportunidade
de “soltar a boiada” e produzir medidas que relaxem a legislação ambiental. A
fala repercutiu muito mal entre compradores de produtos agrícolas brasileiros e
investidores no exterior.
Assinam
a peça publicitária “No Meio Ambiente, a burocracia também devasta” a Unica, a
Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Aprosoja, além de associações de
produtores. Também a subscrevem vários sindicatos da construção civil, lojistas
e da indústria de cosméticos e de turismo.
Questionadas
por ONGs, Natura, Avon e o Beach Park responderam que não foram consultadas
pelas entidades setoriais que assinam a nota e manifestaram repúdio à
iniciativa. “Condenamos a agenda burocrática que utiliza a bandeira ambiental
como instrumento para o travamento ideológico e irrazoável de atividades
econômicas cumpridoras das leis e essenciais ao desenvolvimento do país”, diz o
anúncio, que constrangeu grandes exportadoras”.
“O
anúncio chama mais a atenção pelas entidades que não estão do que pelas que
assinam”, disse ao Valor uma fonte do setor. “Algumas entidades assinaram,
creio, por temer represálias do governo”, comentou outro.
Entidades
do agronegócio exportador de grãos, algodão, cítricos e café não assinam o
anúncio.
Não
são recentes as divergências entre grandes produtores rurais e agroindústrias
em relação ao discurso e à política do governo de Jair Bolsonaro para questões
ambientais. As diferenças afloraram desde a posse do presidente e de Salles - e
são cada vez mais nítidas. E isso basicamente porque as agroindústrias que
fazem parte de cadeias exportadoras como grãos e algodão, carnes, café e suco
de laranja sabem que seus clientes em outros países, sobretudo no mercado da
Europa, estão mais exigentes com a sustentabilidade da produção, e o mesmo
acontece com grandes fundos de investimento dispostos a jogar suas fichas no
setor. Ao mesmo tempo, muitos grandes agricultores mantêm inabalável uma
posição que, para muitas tradings, já perde sustentação: a de que o mundo
precisa comer e que o Brasil, produtor de alimentos que é, tem que se valer
dessa posição privilegiada para falar mais alto nas mesas de negociação.
“Acontece
algo parecido no caso da China, principal destino das exportações do
agronegócio brasileiro. Declarações pejorativas de integrantes do alto escalão
do governo sobre o país não estão ajudando as cadeias exportadoras de grãos e
carnes. Nesse caso, parece que agroindústrias e produtores têm posições
parecidas: não mexam com a China”, afirma ele.
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