06 maio 2020

Balbúrdia institucionalizada


A Pandemia e o Pandemônio
José Luís Simões

Em 2020, a humanidade é atingida por uma nova pandemia, a Covid-19, causada pelo novo Coronavírus. A última pandemia que vitimou milhões de pessoas mundo afora foi a Gripe Espanhola, em 1918, que dizimou cerca de 100 milhões de vidas. Pandemia é uma enfermidade epidêmica amplamente disseminada, que atinge todo planeta.

Entre esse período de 1918 a 2020 foram registradas outras ocorrências epidêmicas, tais como: a Gripe Suína (2009, com 17 mil mortes), a Gripe Hong Kong (1968, com 3 milhões de mortes) a SARS (2003, com 774 mortes), o Ebola (1976, 2014, 2018, com milhares de vítimas concentradas no continente africano), a Gripe Asiática (1957, com 2 milhões de mortes), a Gripe Aviária (1997, com 300 mortes).

No livro “Pragues and Peoples”, o historiador Willian Macnill faz profunda discussão sobre diversas ocorrências de epidemias e pandemias causadas por vírus e bactérias, que assolaram as civilizações. A pandemia da Covid-19 pode ser uma triste novidade para a atual geração, mas não para a história da humanidade. Os maiores inimigos do ser humano são os vírus e bactérias, afinal, são invisíveis. Como enfrentar um inimigo que não se enxerga? A ciência tem sido a principal arma utilizada. Não fosse o avanço do conhecimento científico, o número de infectados e mortes pela Covid-19 seria maior. Além disso, vacinas estão em teste e a expectativa da comunidade científica é que em meados de 2021 haja controle total do novo Coronavírus, com ampla vacinação da população.

A maioria dos líderes mundiais e a Organização Mundial da Saúde tem articulado ações e orientado a população para diminuir o impacto da pandemia e, consequentemente, o número de mortes. A China e a Nova Zelândia deram exemplos de combate à Covid-19 e a população se encontra mais protegida, com pouquíssimas ocorrências neste mês de maio. Mas, e aqui no Brasil?

No Brasil, além do novo Coronavírus, há um pandemônio instalado em Brasília, no Palácio do Planalto. Pandemônio significa uma associação de pessoas para praticar o mal ou promover balbúrdia. É isso o que vemos nas atitudes do presidente da República, Jair Bolsonaro. Ele enfrenta as autoridades sanitárias, minimiza os impactos da doença e advoga contra o isolamento social. Demite o ministro da saúde em plena crise sanitária, por ciúmes. Promove e incentiva aglomerações, participa de manifestações antidemocráticas, que pedem a volta da Ditadura e do AI-5. É acusado pelo ex-ministro Sérgio Moro (o “paladino da moralidade”), de querer interferir no trabalho da Polícia Federal com objetivo precípuo de esconder o “Gabinete do Ódio” instalado nas dependências palacianas, e proteger o filho senador Flávio Bolsonaro, que praticou “rachadinha” nos salários de assessores, quando era deputado estadual no RJ.

Em suma, no Brasil a luta é ainda mais dura. Além da pandemia, tem o pandemônio liderado por Jair Bolsonaro. Para enfrentar a pandemia temos a ciência, os profissionais da saúde, as táticas de isolamento social e massificação do uso de máscaras e higienização. Para enfrentar o pandemônio temos a democracia, a justiça, a liberdade de imprensa, a boa política e a esperança de que, no futuro, os livros e o conhecimento tenham mais apoio e importância do que as armas de fogo.

José Luís Simões, professor do Centro de Educação/UFPE
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[Ilustração: Oswaldo Guayasamin]

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