Dor, medo e louvor
José Ambrósio*
Acostumado a falar em público a plenos pulmões e com a força e a convicção que a fé lhe proporciona, o pastor José Willians Zacarias de Lima precisou ser socorrido às pressas, há duas semanas, com uma sufocante e desesperadora "falta de ar". O diagnóstico foi o que ele e a família já desconfiavam: Covid-19.
Foram dez dias de intenso sofrimento, inclusive vendo a morte passar todos os dias pela porta da sua enfermaria no Hospital Mendo Sampaio, no Cabo de Santo Agostinho. Mas, também, dez dias de muita esperança, confiança e muitas orações. Tanto que, restabelecido, ao deixar o leito do hospital há uma semana, ele publicou em suas redes sociais que não saberia dizer muita coisa se alguém lhe perguntasse qual era a sua perspectiva de vida. Entretanto, ressaltou uma certeza; a de que haverá muito louvor. “Cantarei louvores ao Senhor enquanto eu viver; cantarei ao meu Deus a vida inteira".
Foi a partir do desejo do pastor de 49 anos de idade em compartilhar a sua dor e a sua superação que decidi dedicar a crônica semanal (desde a primeira semana da decretação da quarentena venho escrevendo sobre a Covid-19) à dolorosa experiência por ele vivida. José Willians Zacarias de Lima, que também é psicólogo, é pastor e presidente da Associação Batista Sul, desde o Cabo de Santo Agostinho. São 60 igrejas e cerca de dez mil fiéis. Ele é pastor nas igrejas de Pirapama (Cabo) e Rio Formoso.
Ele tem muito a falar para muita gente nesse momento de dor, desespero e desesperança para muitos.
Quando foi conduzido ao hospital, por volta do meio dia da quarta-feira (29 de abril), o religioso sabia da letalidade do novo coronavírus. O seu estado era muito grave e a recomendação era que fosse de imediato para a UTI, mas não havia vaga e ele teve que ficar em uma das quatro enfermarias, todas lotadas com pacientes da Covid-19. Dor, medo e desespero entre todos. Naquele dia, Pernambuco contabilizava 6.194 casos confirmados e 538 óbitos.
Um quadro assustador, agravado com os gritos de dor. “Parecia filme de terror”, relembra com amargura, sentimento percebido a partir da sua voz embargada, ao telefone. Mesmo acostumado a confortar e dar esperança às pessoas, ele admite que temeu não sobreviver, principalmente nas duas primeiras noites, quando aumentam as dores. A fragilidade era imensa e as expectativas “terríveis”, conta. “Todos os dias morria gente, inclusive três da minha enfermaria morreram”, acrescenta.
Entretanto, em momento algum José Willians Zacarias de Lima chegou a pensar ter chegado a hora final. “A minha fé em Deus é imensurável. Sei que em momentos difíceis Deus promove o extraordinário. Ele nos assegura o sentimento de que não estamos sozinhos. Isso nos dá sustentação. Foram muitas as orações dos familiares, dos amigos e de gente até de outros países. A solidariedade é muito importante”, diz, já usando tom de quem se prepara para voltar ao púlpito.
Aliás, mesmo sem púlpito, o jovem pastor orava constantemente. Quando começou a se recuperar e com o conhecimento dos outros pacientes de que ele era pastor, as pessoas e até integrantes da equipe médica (para a qual só tem elogios que alcançam todos os funcionários) pediam orações. “Me sentia um instrumento nas mãos de Deus naqueles momentos, na enfermaria”, diz.
Em casa com a família (agora seguindo à risca as recomendações sobre o isolamento social, o que admite não acontecia até que contraiu o vírus), ele se prepara para retomar os trabalhos logo que for possível. E já sabe que aumentou muito o seu compromisso com a missão de levar esperança aos fiéis também com a experiência vivida. “Vou dizer nos púlpitos, agora com mais ênfase, frase que costumo repetir: coisas ruins acontecem a pessoas boas. Aí vem a esperança, o fortalecimento, a superação”, destaca.
Pernambuco amanhece neste sábado (16) com 16.209 casos confirmados do novo coronavírus. Os óbitos somam 1.381, sendo 83 mortes nas últimas 24 horas. No Recife o prefeito Geraldo Júlio decreta luto de três dias com a confirmação de 500 pessoas mortas pela Covid-19. Esse quadro desolador faz com que o governador Paulo Câmara decrete mais restrições ao isolamento social, em especial em Recife e em outras quatro cidades da Região Metropolitana: Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Camaragibe e São Lourenço da Mata. A quarentena se estende até o dia 31 de maio.
No Cabo de Santo Agostinho são 279 casos confirmados. Desse total, 45 não resistiram e 42 estão recuperados, de acordo com boletim divulgado pela Prefeitura Municipal. O pastor José Willlians Zacarias de Lima é um dos sobreviventes e, eloquente, tem na ponta da língua o recado para os pernambucanos para o enfrentamento da quarentena: “Se puder, fique em casa!"
Candeias, 15 de maio de 2020.
*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras
José Ambrósio*
Acostumado a falar em público a plenos pulmões e com a força e a convicção que a fé lhe proporciona, o pastor José Willians Zacarias de Lima precisou ser socorrido às pressas, há duas semanas, com uma sufocante e desesperadora "falta de ar". O diagnóstico foi o que ele e a família já desconfiavam: Covid-19.
Foram dez dias de intenso sofrimento, inclusive vendo a morte passar todos os dias pela porta da sua enfermaria no Hospital Mendo Sampaio, no Cabo de Santo Agostinho. Mas, também, dez dias de muita esperança, confiança e muitas orações. Tanto que, restabelecido, ao deixar o leito do hospital há uma semana, ele publicou em suas redes sociais que não saberia dizer muita coisa se alguém lhe perguntasse qual era a sua perspectiva de vida. Entretanto, ressaltou uma certeza; a de que haverá muito louvor. “Cantarei louvores ao Senhor enquanto eu viver; cantarei ao meu Deus a vida inteira".
Foi a partir do desejo do pastor de 49 anos de idade em compartilhar a sua dor e a sua superação que decidi dedicar a crônica semanal (desde a primeira semana da decretação da quarentena venho escrevendo sobre a Covid-19) à dolorosa experiência por ele vivida. José Willians Zacarias de Lima, que também é psicólogo, é pastor e presidente da Associação Batista Sul, desde o Cabo de Santo Agostinho. São 60 igrejas e cerca de dez mil fiéis. Ele é pastor nas igrejas de Pirapama (Cabo) e Rio Formoso.
Ele tem muito a falar para muita gente nesse momento de dor, desespero e desesperança para muitos.
Quando foi conduzido ao hospital, por volta do meio dia da quarta-feira (29 de abril), o religioso sabia da letalidade do novo coronavírus. O seu estado era muito grave e a recomendação era que fosse de imediato para a UTI, mas não havia vaga e ele teve que ficar em uma das quatro enfermarias, todas lotadas com pacientes da Covid-19. Dor, medo e desespero entre todos. Naquele dia, Pernambuco contabilizava 6.194 casos confirmados e 538 óbitos.
Um quadro assustador, agravado com os gritos de dor. “Parecia filme de terror”, relembra com amargura, sentimento percebido a partir da sua voz embargada, ao telefone. Mesmo acostumado a confortar e dar esperança às pessoas, ele admite que temeu não sobreviver, principalmente nas duas primeiras noites, quando aumentam as dores. A fragilidade era imensa e as expectativas “terríveis”, conta. “Todos os dias morria gente, inclusive três da minha enfermaria morreram”, acrescenta.
Entretanto, em momento algum José Willians Zacarias de Lima chegou a pensar ter chegado a hora final. “A minha fé em Deus é imensurável. Sei que em momentos difíceis Deus promove o extraordinário. Ele nos assegura o sentimento de que não estamos sozinhos. Isso nos dá sustentação. Foram muitas as orações dos familiares, dos amigos e de gente até de outros países. A solidariedade é muito importante”, diz, já usando tom de quem se prepara para voltar ao púlpito.
Aliás, mesmo sem púlpito, o jovem pastor orava constantemente. Quando começou a se recuperar e com o conhecimento dos outros pacientes de que ele era pastor, as pessoas e até integrantes da equipe médica (para a qual só tem elogios que alcançam todos os funcionários) pediam orações. “Me sentia um instrumento nas mãos de Deus naqueles momentos, na enfermaria”, diz.
Em casa com a família (agora seguindo à risca as recomendações sobre o isolamento social, o que admite não acontecia até que contraiu o vírus), ele se prepara para retomar os trabalhos logo que for possível. E já sabe que aumentou muito o seu compromisso com a missão de levar esperança aos fiéis também com a experiência vivida. “Vou dizer nos púlpitos, agora com mais ênfase, frase que costumo repetir: coisas ruins acontecem a pessoas boas. Aí vem a esperança, o fortalecimento, a superação”, destaca.
Pernambuco amanhece neste sábado (16) com 16.209 casos confirmados do novo coronavírus. Os óbitos somam 1.381, sendo 83 mortes nas últimas 24 horas. No Recife o prefeito Geraldo Júlio decreta luto de três dias com a confirmação de 500 pessoas mortas pela Covid-19. Esse quadro desolador faz com que o governador Paulo Câmara decrete mais restrições ao isolamento social, em especial em Recife e em outras quatro cidades da Região Metropolitana: Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Camaragibe e São Lourenço da Mata. A quarentena se estende até o dia 31 de maio.
No Cabo de Santo Agostinho são 279 casos confirmados. Desse total, 45 não resistiram e 42 estão recuperados, de acordo com boletim divulgado pela Prefeitura Municipal. O pastor José Willlians Zacarias de Lima é um dos sobreviventes e, eloquente, tem na ponta da língua o recado para os pernambucanos para o enfrentamento da quarentena: “Se puder, fique em casa!"
Candeias, 15 de maio de 2020.
*José Ambrósio é jornalista e membro da Academia Cabense de Letras
[Ilustração: Frantisek Kupka]
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