03 maio 2020

Desigualdades sociais incidem sobre o isolamento


Isolamento social e juventude: um recorte de classe
Laleska Santos*

Quando iniciei minha juventude e morava com meus pais, lembro que foi um período com diversas dificuldades, seja pelo conflitos de ideias e de comportamentos (fruto da minha formação e princípios) ou pela nossa diferença geracional. Não é novidade para ninguém que a juventude é período de incertezas, de descobertas, de tomadas de decisões e conquistas importantes, como conseguir o primeiro emprego ou entrar na faculdade. Nem sempre encontramos em casa o ambiente mais acolhedor para partilhar estes desafios.

Neste período de isolamento social ficar em casa, sem a rotina e longe dos amigos, é um desafio e tanto para os jovens. As condições estruturais da casa podem tornar esse momento mais ou menos confortável, dinâmico e acolhedor.

Uma pesquisa da Folha de São Paulo mostrou que o "isolamento social dos jovens que moram em áreas mais ricas é 7 vezes maior do que nas mais pobres”. Este dado reforça a preocupação com a chegada e o avanço do vírus nas áreas periféricas. Apesar de não termos este levantamento do Recife, é fácil perceber que essa realidade também se reflete aqui.

Nas idas ao Alto Santa Terezinha, para realizar as entregas das doações da campanha "Doe Esperança" da UJS Recife, as cenas de aglomerações são comuns. A última vez que estive lá estava acontecendo um torneio de futebol de campo. Conversei com alguns deles sobre o riscos que estavam correndo e criando para a comunidade. A falta de outras formas de entretenimento é um dos motivos.

Além da falta do que fazer em casa, os trabalhos por aplicativos de entrega estão funcionando a todo vapor. Dados do IBGE e Aliança Bike mostram que 75% dos ciclistas que trabalham nos apps no Brasil são jovens entre 18 e 27 anos, em Recife é visível que este meios têm sido a saída para o desemprego, sobretudo o que atinge os jovens.

A Covid-19 não faz distinção de raça, gênero, orientação sexual, religião ou classe social, mas a sua proliferação depende das condições de prevenção que cada um pode adotar e em um país tão desigual como o Brasil, ter água e sabão não é para todos. Acesso à internet, equipamentos eletrônicos, espaços para a prática de atividades físicas individuais, entre outras coisas para suportar o isolamento, são mais raras ainda... 
Após o fim da pandemia o Brasil e o mundo precisam se reinventar, fortalecer o Estado, combater a desigualdade social e garantir para as pessoas o acesso a todas as coisas que levantei aqui.
*Presidente da UJS no Recife.

Fique sabendo https://bit.ly/2ySRLkm

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